Estelemar

Tempos atrás escrevi: Cachoeiro empobreceu, ficou triste, perdeu o poeta Estelemar Martins

21/12/2021 10:22
Estelemar /Foto Reprodução Web

No último encontro da Academia Cachoeirense de Letras (ACL), início deste mês de dezembro, na residência da presidente Marilene Depes, encontro que Marilene descreve magnificamente em crônica denominada Identificacão de Almas, lembramos de muitos confrades e confreiras, mas a nossa confreira Luciana lembrou-se do nosso orador Estelemar. Tempos atrás escrevi: Cachoeiro empobreceu, ficou triste, perdeu o poeta Estelemar Martins. Na verdade, bem mais que um poeta: um humanista, músico, advogado... Pela sua riqueza intelectual, sua sensibilidade, poderia ter produzido mais, escrito mais, gravado mais. Deixado a criação florar. Ainda assim, foi descoberto pelos capixabas, Rapsódia Brasiliana, seu último livro, coroou o poeta. Gostava do Estelemar, do seu jeito simples, fala mansa, bom orador. Acho, também, que o gostar, ficava por conta do nome Estelemar. Lembra o nome do meu pai, meu irmão e do meu filho mais velho (Helomar, Helomar Júnior e Helomar Neto). Mais ainda, rimam com o mar. Pronto, cria-se a poesia. Do mar esperamos tudo. Em frente ao mar passamos horas, vivemos dias em segundos, lembramos coisas... Não necessitamos a marcação do tempo, conhecemos a eternidade. O mar completa nossos sentidos, dá asas ao nosso pensamento, aos nossos devaneios. Do mar, da cor das suas águas, da magia das cores, modificamos nosso olhar, embelezam nossa visão; das suas ondas cria-se o som, a mais bela melodia, e do seu murmúrio, Deus nos fala, acalma nossa ansiedade e tranquiliza nossa alma, dispara nosso tímpano e enche nosso cérebro, vem a transcendência; do mar (no derramar de suas ondas, no contato de suas águas com a areia de uma praia qualquer) aparece a espuma e o cheiro da maresia; do balanço do mar, com a força do vento, assistimos o nascimento de Vênus, a fusão harmônica da matéria e espírito, os florais do amor, animam nossas vidas. Do mar, conhecemos a fúria da natureza, nos vemos mortais, conhecemos vida e morte, a invasão das suas águas em terra, destrói construções, usinas nucleares, tudo aquilo que a humanidade considera seguro e intransponível. Pura ilusão. A fúria das águas do mar afirma que a natureza está acima da vontade do homem. A fúria das águas do mar nos faz tomar consciência da nossa vulnerabilidade, nossa fragilidade, nossa finitude.

Em Cachoeiro, o Cineclube Jece Valadão homenageou o poeta. O artista plástico, Rudson Costa, escreveu sobre o encontro com o amigo Estelemar (descreve uma amizade de longa data entre pessoas que nunca tinham se encontrado até então), lembrou sua poesia e da Praça da Bandeira, no alto do Aquidabã, lembrou do Céu Infinito do poeta: ?Céu dos sonhos que um dia procurei.../ Eras ponte sem fim, uma só viagem,/ Desafio das asas e coragem/ Dos condores, das águias e falcões./ Glórias almejei... Quem não as almeja?? Estelemar, em seu livro didático de poesias, define o poeta como aquele que tem a arte de cantar o belo, materializar a alma na combinação dos versos, lapidar rima como um diamante raro. Glórias, em vida, e na eternidade das letras, Estelemar conquistou.