Didi

Dona Didi, servidora do Capaac (Hospital Psiquiátrico Estadual em Cachoeiro) por mais de 30 anos. Assídua, carinhosa, prestativa e principalmente humana

18/07/2023 17:58
Didi /imagem ilustrativa/Governo do ES

Tempos atrás, Elza Travaglia escreveu, Zuca e Andréia concordaram e incentivaram a homenagem: ?Nadir Cláudio Matos, Dona Didi, servidora do Capaac (Hospital Psiquiátrico Estadual em Cachoeiro) por mais de 30 anos. Assídua, carinhosa, prestativa e principalmente humana. Mais do que isso, bom era vê-la chegar ao hospital. Chegava bem cedo, antes do horário do verão, muitas vezes, ainda sem o sol, sem o raiar do dia?. Elza, ficava intrigada com aquela mulher diferente. Possuía um andar redondo e lento. Chegava com muitas bolsas. Aparentava uma idade de experiências de vida, por isso mesmo, sabia que com o sorriso não haveria necessidade de palavras. Lembrava uma artista da antiga Grécia, a face como o espelho do que se pensa, só não necessitava de máscaras, era aquilo que aparentava. Mostrava-se por inteiro. Era verdadeira. Compartilhava alegrias e tristezas. Enfim, uma pessoa, uma persona grata. Ainda assim, permanecia o mistério de suas bolsas, na verdade, seu bom e único mistério. Nunca menos de duas, algumas menores dentro da maior. Um mistério mais do que desejado. Todos se intrigavam. Ela desvendava em hora apropriada. Em local apropriado, mostrava guloseimas (balinhas de tamarina, sua preferida) e seu famoso empadão de frango. As coisas que carregava, eram de uma cultura familiar, na casa do pai: ?Muita fartura e pousada para quem chega?, contava. O Capaac lembrava e tornava-se uma extensão da fazenda do seu pai. Por isso, o sapato servia para locomoção de casa até o hospital, logo o chinelo e uma canequinha em mãos, e a primeira da fila para as refeições. Sentia-se livre no local de trabalho, confidenciava à Elza. Ela se aproveitava daquilo que Clarice Lispector chamou, em um dia de verão, ao ver o Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, de ato gratuito, aquilo que é o oposto da nossa corrida pelo dinheiro, pelos prazeres, pela nossa vida diária. O ato gratuito é descrito por Clarice como um ato de liberdade, se apoderar das coisas que existem na natureza, coisa que descobrimos sozinhos. No ato gratuito, ela escreveu, podemos ser salvos dos dissabores da vida. Dona Didi retornava para casa de ônibus, ambulância ou viatura da polícia, desde que seguisse o trajeto do bairro Baiminas. O largo sorriso, em face, confirmava o agradecimento. Ela partiu no mês de dezembro, faleceu em fim de 2011, a Elza acha que partiu em uma ?Carruagem de fogo? direto ao céu, sem embaraços com o mundo. O destino, estou certo, é o melhor de todos, pois quando na terra, tinha pequenos mistérios, logo revelados pela alegria de servir. 

Lembrei da crônica da Dona Didi, por conta do meu neto mais novo João Vitor. Ele demorou em pronunciar as primeiras palavras, ainda guarda uma bela expressão corporal que dispensa as palavras. Por conta da convivência com a avó materna, Dione, e no ardor que ele expressasse em palavras aquilo que mostrava nas várias partes do corpo, ensinou-lhe a pronúncia vovó Didi. A avó Bila nada se queixou, pelo contrário, eu e Fabiola, os avós paternos, agradecemos o empenho da vovó Didi e do fonoaudiólogo por ter transformado João num lindo tagarela.