Cidade Feliz

A iluminação e a aparência do prédio Bernardino Monteiro é uma "promessa de felicidade"

24/09/2024 08:18
Cidade Feliz

Não sei se a cidade se encontra feliz. Porém, a iluminação e a aparência do prédio Bernardino Monteiro é uma "promessa de felicidade". Uso um aforismo do escritor francês Stendhal, o autor do clássico Vermelho e o Negro. O Bernardino Monteiro, no centro da cidade, devolve e mantém a história cachoeirense. Suas luzes vespertinas acendem o desejo de lembrar uma construção para os vivos e mortos. Uma construção que faz a nossa identidade. Uma forma de comunicação e comemoração visual. Com isso lembramos nós mesmos.

Stendhal afirma também: Existem tantos estilos de beleza quanto visões de felicidade. E assim foram construídas as cidades: Roma, Paris, Veneza, Nova York, Buenos Aires, Brasília... É bom viver em uma cidade em que as construções são preservadas. O nosso passado e a memória da população permanecem em cada tijolo e em cada pedra. Triste de um povo que não preserva sua memória. Torna-se um povo sem história. Apresenta a pior das mortes: a morte histórica.

Alain de Botton, suíço naturalizado britânico, escrevendo sobre a arquitetura ocidental, descreve a Arquitetura da felicidade, desde as milenares construções clássicas (as colunas Greco-romanas com seus capitéis Dórico, Jônico e Coríntio), passando pelo gótico, até as estruturas atuais do urbanista e arquiteto Corbusier, que se notabilizou pelo senso prático. Alain mostra o quanto uma construção que enche os olhos em deslumbramento pode nos fazer feliz. Claro que, afirma, o belo é relativo. Até mesmo, o conceito de arte. Porém, é como visitar um museu do Louvre, Prado ou Metropolitan, ao nos depararmos com uma pintura do El Greco ou Velázquez dificilmente a expressão não será de êxtase.

Assim como podemos afirmar sobre algo belo e agradável em uma construção, pode-se garantir sobre aquilo que nos constrange e desagrada. No Brasil são as construções sem reboco e pintura do morro ou da beira de terrenos baldios. São os destaques negativos. É o que torna uma cidade bela ou feia. São fatores para a felicidade e qualidade de vida dos moradores. Além do clima, do emprego, da água encanada, do tratamento do esgoto, da honestidade dos políticos e governantes, do lazer e da preservação da memória.

Cachoeiro possui outros prédios que merecem a conservação, além do Bernardino. Um deles é a fachada antiga da Santa Casa de Misericórdia, na Rua Coronel Guardia, próxima à Capela do hospital. A recuperação não é difícil, basta a troca de local do sistema de oxigênio, no início da escadaria, e pronto, uma instituição centenária que pode abrigar o Museu da Saúde, não só da cidade cachoeirense e sim, do sul do Espírito Santo. São coisas simples, mas de importância grande. Afinal, a qualidade de vida é construída assim: com a saúde física e manutenção das coisas aparentemente banais, uma riqueza cultural e mental.  Coisas da casa que moramos, do local de trabalho e das construções arquitetônicas da nossa cidade.