Cachoeirense

Cachoeirense segue à risca a geografia da cidade. Os pontos iniciam-se no Itabira, segue as pedras do entorno do Vale em direção ao rio. Uma geografia bem delineada nas curvas do Itapemirim...

11/07/2023 12:18
Cachoeirense /Divulgação/PMCI.

Quando criança eu cantava: ?Eu sou capixaba. Capixaba da gema do ovo...? Um Samba Enredo da Escola de Samba Novo Império, uma escola do meu bairro, em Vitória. Cantava com orgulho. Na letra, e melodia, dizia mais: falava das belezas do nosso Estado. De todo o Espírito Santo, de norte ao sul. Nesse mês de julho, dias após o solstício de inverno abaixo da linha do Equador, dias após as comemorações dos nossos santos: Antônio, João e Pedro, que me faz lembrar coisas passadas. Lembranças que me deixa um vazio, certa angústia, leve, mas incômoda. Onde não sei dizer se são pelas coisas vividas ou pelas que estão por vir. Nessa incerteza de futuro, onde agosto se aproxima com a falta do meu pai, eu me aproximo de coisas da espiritualidade que me leva à fé de dias melhores e esperança crescente. Mas, como ia dizendo, sou capixaba. Li, dias atrás, em jornal de Vitória, que ser capixaba é: frequentar, em fim de semana, uma praia; assistir ao pôr do sol do Morro do Moreno, em Vila Velha, e admirar o fim de tarde com seus últimos raios do sol por cima da Terceira Ponte; gostar de caranguejo; apreciar o visual do mar da Ilha do Boi, Itapuã, Itaparica, Praia da Costa; ?jogar altinho? na areia das praias, bem próximo ao mar; praticar Futevôlei e Vôlei de praia; frequentar Feiras de bairros (livre do agrotóxico)... Pela descrição do jornal, somos praianos, e me identifiquei com o pôr do sol e no visual do mar da orla Canela Verde. No fim da leitura fiquei com a impressão, que em dias atuais, sou menos capixaba e mais cachoeirense. O capixaba da gema se espalhou por Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica. Isto é, Grande Vitória, não mais exclusividade dos nascidos na Ilha de Vitória. O cachoeirense permanece fiel às suas tradições.

Cachoeirense segue à risca a geografia da cidade. Os pontos iniciam-se no Itabira, segue as pedras do entorno do Vale em direção ao rio. Uma geografia bem delineada nas curvas do Itapemirim. Ser cachoeirense é bem mais que ser capixaba. Guarda um leve ufanismo pela geografia e águas do seu rio; orgulha-se do passado histórico, apesar da perda do glamour de uma cultura elevada e poderio econômico. Mesmo com as perdas, permanece o Hino da Cidade, um hino que encanta e faz crer que as coisas aqui deixadas, e presentes, fazem diferenças. Hino empolgante que anima a alma do seu povo, algo não existente nos mais de cinco mil municípios pelo Brasil afora. Ser cachoeirense é se encantar pela estátua do poeta (Newton Braga) em sua praça principal; admirar a fachada histórica da Santa Casa e Palácio Bernardino Monteiro e nunca se esquecer das cores dos seus dois times (Estrela e Cachoeiro Futebol Clube). Ser cachoeirense é não gostar de sinais de trânsito e de calçadas; invadir o litoral e preencher, com alegria, as areias das praias; admirar as piscinas naturais e cachoeiras em torno de suas grandes pedras; almoçar em família; caminhar à beira do Itapemirim; adorar um bom papo nos botecos pés sujos... O cachoeirense é assim: quieto em seu ninho e adora os cantos de sua casa. Solidário ao extremo. Segue confiante na recuperação econômica e cultural, pois, o principal permanece: o amor pela terra em que vive. Ser cachoeirense, é viver em qualquer ponto do país, ou do mundo, mas quando em seu fim, solicitar para que suas cinzas sejam derramadas nas águas do rio Itapemirim.