Amor, paixão e loucura

O que define a paixão?

09/06/2020 09:39
Amor, paixão e loucura /Divulgação

O que define a paixão? Rosa Montero, articulista do jornal espanhol El País, autora do livro Paixões, afirma que a essência é a alienação. O apaixonado sai de si mesmo e se perde no outro, naquilo que imagina do outro. Para o ensaísta suíço Denis de Rougemont, em História do amor no ocidente, o amor feliz não tem história. Só o amor ameaçado é digno de um romance. O amor é representado por um menino nu, porque é uma emoção que não se pode ocultar. Cupido, na mitologia, apresenta-se com venda nos olhos, porque o amor não percebe os defeitos do outro. O amor é cego. A paixão cega, só o sentimento amoroso ilumina.

            Na idade média surgiu o amor cortês. Duas lendas de amor impossível se apresentam em Tristão/Isolda e Lancelot/rainha Guinevere. Antes disso, com o primeiro casal da criação, Adão se declarava para Eva, ?Onde Eva estiver lá é o paraíso?. Bom, se não disse, deveria ter dito. Santo Agostinho escreveu que a paixão é uma fantasia, uma alucinação, a pessoa amada é apenas uma desculpa que damos para alcançar a emoção do apaixonar-se. Desidério Erasmo (Erasmo de Roterdã ? 1466/1536) publicou o Elogio à Loucura. Afirmou que a loucura torna as mulheres amáveis. Eles prometem tudo a elas e em troca de quê? Do prazer. Mas elas só o concedem pela loucura. Para a psicanalista Betty Milan a busca do ser humano é pela completude. Cita Lacan: O amor é o desejo impossível de ser um quando há dois.

O mito da completude inicia-se na mitologia grega. Éramos um só. Zeus nos cortou pela metade com receio da nossa força. Desde então a busca de nos tornarmos um só. Um desejo impossível. Na literatura muito se falou sobre o amor. Livros clássicos como Madame Bovary (Gustavo Flaubert); Lolita (Vladimir Nabokov); Ana Karênina (Tostoi), Dom Casmurro (Machado de Assis) e Amor e Erotismo ? A Dupla Chama (Octavio Paz). No budismo zen, existe um enigma: ?Se você bate na palma da mão, qual o som mais forte ? o da mão esquerda ou o da mão direita??  No amor, no contato das mãos, uma emite e a outra facilita a propagação do som. A neurociência e a neurobiologia começam a desvendar as transformações cerebrais que ocorrem em uma pessoa apaixonada.

A química, a coisa de pele, as quais nossos poetas descrevem tão bem, em um futuro podem ser decifradas e, uma pílula do amor pode matar a beleza da paixão. A pílula, talvez, possa ajudar nos comportamentos e ciúmes doentios e evitar os crimes passionais. Eu? Prefiro os sonetos. De Camões, pai dos poetas da língua portuguesa: ?Amor é um fogo que arde sem se ver; / é dor que desatina sem doer...? Do paulista Vicente de Carvalho: ?Não me culpeis a mim de amar-vos tanto, / mas a vós mesma e à vossa formosura, / pois se vos aborrece, me tortura / ver-me cativo assim de vosso encanto...? Nesses tempos de quarentena, ouvia, no YouTube, Billy Preston, músico soul da década de 1960/70, em Tributo a George Harrison, um dos beatle, ele cantava: My Sweet Lord. Por instantes, ao fechar os olhos, pensei ouvir: My Sweet Love. Ao abrir os olhos, conclui que as várias formas de amor nos leva à transcendência.

 

Sergio Damião Sant´Anna Moraes

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