Aforismo

São frases, curtas ou longas, de grande sabedoria

22/02/2022 10:42
Aforismo /Foto Reprodução Web

Bem verdade, não obedecida na maioria das vezes. Deveria ser aquilo que o poeta português, Fernando Pessoa, com seus vários heterônimos, anunciou: A língua portuguesa é minha pátria. Nietzsche, em Humano, demasiado humano, considera: Os piores leitores são os que se comportam como soldados em pilhagens: pegam algumas coisas que podem usar, sujam e misturam o restante e caluniam o todo. Dizia: no aforismo, tem-se, geralmente, a verdade. E, é minha ambição dizer em dez sentenças o que todos os outros dizem em um livro inteiro ? o que todos os outros não dizem em um livro inteiro. Parece como ele, uma dinamite. Mas, ninguém quer ouvir a verdade. Preferimos o autoengano. As citações podem estar escondidas em poesias, romances, dicionários ou placas de caminhões. O escritor argentino, Jorge Luiz Borges, pensou: Se eu pudesse viver outra vida... Um alerta para o racionalismo, mecanicismos e consumismo. As causas das carências afetivas. A causa da depressão.  Aí está o busílis! Nos sermões de Vieira (Padre Antônio Vieira, 1608 ? 1697, português, viveu na Bahia, aprendemos: Morrer de muitos anos, e viver muitos anos, não é a mesma coisa. Ordinariamente os homens morrem de muitos anos, e vivem poucos. Por quê? Porque nem todos os anos que se passam, se vivem: uma coisa é contar os anos, outra vivê-los; uma coisa é viver, outra durar... Mais vivem uns em poucos anos, que outros em muitos. Padre Vieira em seus sermões certamente concordaria com os dizeres atribuídos aos romanos: Não basta ser honesto, tem que parecer honesto. Uma boa citação para os nossos representantes em Brasília. E Nietzsche, que adorava o aforismo, escreveu nos Livros de notas: Não existem fatos, somente interpretações. E, ainda, em Humano, demasiado humano: Convicções são inimigas muito mais perigosas da verdade que as mentiras.

Na profissão médica, desde o início da Idade Moderna, com os filósofos Descartes e Pascal, o dualismo existe. A dúvida entre a ciência e o sentimento - dimensão afetiva. A medicina cartesiana, o corpo dividido em partes - como uma máquina, influenciou a prática médica americana e ocidental e é a que até o momento prepondera. Surge a idéia pascaliana, o filósofo acrescentava: O coração tem suas razões que a razão não conhece. Com isso podemos lembrar o aforismo hipocrático: Curar quando possível; aliviar quando necessário e consolar sempre. Volto aos sermões de Vieira: Eu antes quero grandes dificuldades, que as pequenas; porque as pequenas correm por minha conta, as grandes por conta de Deus. Não sei se as citações ajudam em sua vida prática. Não sei, nem mesmo, se serve para a minha. Em nosso dia a dia não paramos para pensar. Só sei que, quando abro um livro e me encontro com a leitura, é como se um espanhol descobridor e explorador de uma cidade rica em prata da região dos Incas dissesse: A leitura... Vale um Potosi. Acho que Nietzsche tinha razão, pois continuamos os mesmos: A pressa é universal porque todos estão fugindo de si mesmos. Pedia, em A gaia ciência: Torne-se quem você é.