Como manter a saúde mental durante o confinamento

Nada de ansiedade, angústia, depressão, estresse ou agressividade. Ter a mente saudável é essencial durante esta quarentena

31/03/2020 10:34 / Atualizado em 31/03/2020 10:25
Como manter a saúde mental durante o confinamento

A mudança repentina na rotina da maioria dos capixabas - e brasileiros, de modo geral - devido à pandemia do novo coronavírus pode contribuir para uma série de alterações no comportamento e nos sentimentos de muitos de nós. Se por um lado o isolamento social pode ajudar a diminuir a velocidade das contaminações pela doença, por outro lado ele pode trazer algumas consequências negativas para saúde emocional das pessoas. Sintomas como ansiedade, angústia, depressão, estresse e agressividade têm sido relatados nesse período. Para ajudar você e seus familiares a passarem por essa fase sem grandes tormentas, o Portal Web Ales conversou com profissionais dessa área de saúde e personagens e preparou uma série de quatro matérias com diferentes abordagens sobre esse tema. Na que vai ao ar nesta segunda-feira (30) você confere o que fazer no caso de aparecimento de algum desconforto emocional. Já na terça-feira (31), o foco será em como agir com crianças em casa - mantendo a sanidade dos pais e dos pequenos. Na quarta-feira (1º), você vai ver como ajudar aos idosos a passar por essa fase de isolamento e, por fim, na quinta-feira (2), uma especialista dará dicas para a convivência nesse período. Ansiedade e depressão Nesses tempos de crise do novo coronavírus, além dos médicos infectologistas, os psiquiatras também estão sendo demandados. De acordo com o psiquiatra Jovino Araújo, a ansiedade de toda a população, com o medo e a quebra da rotina, está muito alta. ?Pacientes que apresentavam problemas psiquiátricos comuns, que às vezes até estavam estabilizados, se desestabilizaram nesse momento, precisando de uma assistência especial?, revela.

Segundo o profissional, ele já percebeu que em seu consultório e em de outros colegas já há uma demanda específica gerada pela Covid-19. ?Outras pessoas que não eram  pacientes psiquiátricos, mas, a partir da imensa ansiedade que estão vivendo, começaram a apresentar sintomas, estão demandando um atendimento especializado?, afirma. Termo geral para vários distúrbios que causam nervosismo, medo, apreensão e preocupação, a ansiedade pode comprometer a saúde emocional. O gestor de marketing Thiago Nascimento, 38 anos, acredita que se tornou mais ansioso com a atual situação. ?A falta de prazos, de datas para a quarentena acabar, a preocupação com parentes que são grupo de risco e, principalmente, as incertezas impostas pelas lideranças têm me deixado neurótico?, revela. Para Thiago, não saber como serão os próximos passos que iremos tomar é algo que o angustia. ?Há dez dias estou tendo crise de enxaqueca e não paro de pensar nas incertezas. Fico entre não ver mais nada a respeito do coronavírus e tentar abstrair, mas levar um susto do nada; ou acompanhar tudo o tempo inteiro, porém, nutrir um verdadeiro desespero que tudo isso tem me causado?, preocupa-se. De acordo com o psiquiatra Jovino Araújo, alguns casos que ele tem atendido, como o do Thiago, podem ser classificados como fobia, um medo exagerado que traz sintomas físicos e subjetivos que atrapalham a pessoa a funcionar naturalmente nas relações pessoais, na saúde física, no trabalho, no raciocínio. ?Neste momento, a psiquiatria se torna uma especialidade fundamental?, diz.

Jovino ainda ressalta que, como já foi dito por muitos, vivemos uma guerra contra o vírus. ?Seguir as orientações sanitárias e se resguardar pode dar às pessoas certa tranquilidade para aguardar melhores dias. No caso de a pessoa apresentar insônia, crise de ansiedade, alteração do apetite ou outro sintoma emocional, deve buscar ajuda com um profissional da área de psiquiatria?. Ele lembra que muitos consultórios agora estão fechados, o que cria uma dificuldade para que essas pessoas recebam atendimento. ?Porém, há profissionais atendendo, inclusive de forma não presencial?, orienta. Exercícios Baseada nas necessidade e complicações que tem observado em termos de saúde mental, a psicóloga clínica Mariana Esteves Shnaiderman elaborou dicas e alguns exercícios práticos e cognitivos para ajudar as pessoas a vivenciarem esse e outros momentos críticos. ?Se você perceber que suas emoções estão tão intensas a ponto de paralisar ou impactar ainda mais a sua vida, é hora de regular os mesmos, para poder voltar com a sua harmonia?, orienta. Um dos exercícios que ela aconselha é pegar uma folha de papel, colocar como título o pensamento que te aflige, e separar em duas colunas: ?coisas que eu posso controlar? e ?coisas que eu não posso controlar?. ?Pense do micro para o macro em todas as evidências e possibilidades que estão ou não sob seu controle em relação à sua questão. Aquilo que você identificar que está sob seu controle, planeje estratégias possíveis para seguir, e siga. Essa ação te trará segurança?, explica. Na segunda coluna, ?coisas que não posso controlar?, é possível que também haja algumas anotações, e para essas coisas, ela indica praticar a aceitação. ?Entregue para o Divino, destino, universo ou nada, como preferir. Mas, aceite. Está além das suas possibilidades. Nenhuma ação ou o fato de você se preocupar poderá mudar o fato de que você não pode controlar tudo?, aconselha.

A psicóloga ainda indica que, durante este momento, a pessoa pratique com frequência atividades que a transmitem paz e segurança. Além disso, é fundamental não esconder as emoções. ?Todos estamos lidando com uma situação crítica, com alguns cenários mais confortáveis e seguros e outros nem tanto, mas é uma situação adversa para todos. Fale sobre como se sente. Se for difícil falar, escreva num papel, ninguém  precisa ler depois?, recomenda. Segundo Mariana, em tempos críticos é normal as pessoas se tornarem mais críticas quanto aos próprios comportamentos e talvez surjam preocupações e até alguns arrependimentos e culpa. ?Desenvolva autoaceitação e compaixão?, sugere. Para quem precisar falar, também há o Centro de Valorização da Vida (CVV), que realiza apoio emocional, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias. O telefone é o 188.