O ?prazer? no suicídio

05/08/2016 00:00

?Nem mesmo o encontro com a morte real pode ser pensado isento da obtenção de prazer?.

 

Ficamos abismados quando lemos no noticiário casos de suicídio. Podemos até chegar às conclusões precipitadas e selvagens quanto aos motivos que levaram a pessoa tirar a própria vida. Muitas são as especulações, mas, na realidade, o ato suicida é uma das formas particulares do sujeito lidar com o seu sofrimento.

 

Algumas vezes, buscamos o prazer para evitar sofrer. Como a maioria imagina, o prazer pode originar-se de inúmeras maneiras:com exercícios físicos, degustação, sexo, música, leitura, conversa, abusos de substâncias psicoativas (drogas: álcool, medicamentos...) e até trabalho. E para obter estes momentos de alívio da angústia (que é viver) liberamos energia e morremos aos poucos. São pequenos sacrifícios pela busca da satisfação. 

 

Contudo, a palavra que acostumamos dizer para nos referirmos ao desconforto ou falta de prazer seria a ?dor?. Mas, sabemos, porém não admitimos que a dor também pode ser uma fonte de prazer.

 

A Psicanálise foi o método que estudou a fundo este fenômeno, conhecido como masoquismo. Já o prazer obtido pela causa da dor em outras pessoas seria o sadismo.

 

Freud, no texto ?O problema econômico do masoquismo?, diz que, primeiro, a pulsão de morte precisará ser endereçada a algum objeto exterior à pessoa e que resquícios desta ?força? ficam no sujeito produzindo efeitos de sofrimento e de prazer, ou de satisfação libidinal. Esse resto de pulsão de morte que permanece no sujeito como objeto nomeou-se masoquismo.

 

De algumas possíveis formatações para o masoquismo, nos atentemos ao masoquismo moral. Este, de acordo com a Psicanálise, seria aquele que funcionaria como um empuxo a praticar atos considerados criminosos e que colocam o sujeito na condição de ser punido por uma consciência sádica.

 

?O masoquista moral não conhece limites e buscará toda situação em que possa encontrar o sofrimento, porque é no encontro com este que ele também encontrará prazer?, diz os pesquisadores Liliane M. A. SilvaI e Luis Flavio CoutoII no artigo ?A questão do suicídio: algumas possibilidades de discussão em Durkheim e na Psicanálise?.

 

Mas, voltemos a Freud. Nesse texto,?O problema econômico do masoquismo?, ele revela que nem mesmo o encontro com a morte real pode ser pensado isento da obtenção de prazer. Sua hipótese é que a meta da vida é a morte e, sendo assim, há um movimento do orgânico em direção ao inorgânico.

 

Lacan reconhece no suicídio uma singularidade:

 

"é precisamente a partir do momento em que o sujeito morre que ele se torna, para os outros, um signo eterno, e os suicidas mais que os outros." (Lacan, 1957-58, p.254).

 

A morte faz do sujeito um signo para os demais. Há uma beleza horrenda e contagiosa ao mesmo tempo, no cair, no tornar-se um signo.

 

Se a busca pelo prazer seria o esforço para aliviar o desprazer (que, para alguns, também é um prazer), o suicídio, não somente nos casos extremos, se dá por meio da passagem ao ato ou ?acting out?. É uma posição, radical, perante a angústia. O fim do sofrimento.