Acordou cedo, mas achou melhor ficar mais um pouco na cama. As horas não passavam, por mais que inventasse coisas para fazer. Folheou revistas, assistiu TV, lavou a louça, andou de um lado para o outro. Leu e-mails, telefonou, tentou dormir mais um pouco, fez um bolo de abacaxi. E tanto fez que por fim achou-se atrasada.
Tomou um banho demorado e preparou-se com o esmero de uma adolescente que vai ao primeiro encontro. Cada detalhe foi feito e refeito. Não havia erro nem mal feito. Quando olhou-se no espelho, sabia-se perfeita.
Na hora marcada sentou-se como uma rainha, esperando o telefone tocar. Afim de controlar a ansiedade, serviu-se de uma dose de whisky. A cada minuto futucava o telefone: será que está com defeito? Será que ele perdeu meu número? Será que a casa dele pegou fogo? Será que alguém morreu? Será?
Depois de infinita meia hora, resolveu ligar. Afinal, qualquer será seria possível. Ele não atendeu. Obviamente porque estava a caminho. Serviu-se de mais uma dose de whisky. Consultou diversos sites para ver se havia acontecido algum acidente no percurso. Nada. Ele deve ter sido preso por algum engano. Mais uma dose e ele continua sem atender, sem responder as mensagens, sem sinais de fogo e sem contato imediato de qualquer grau. Mais uma dose? Claro que ela ta afim.
O telefone tocou e ela levantou de um pulo. Era sua mãe perguntando se ela tinha esquecido do batizado do sobrinho. Já era domingo, mas ela ainda estava com a roupa do sábado, com a maquiagem do sábado, com o anel do sábado. Apenas os sonhos do sábado já não estavam mais nela.