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Desde a concepção a certeza universal é de que vamos envelhecer


Desde a concepção a certeza universal é de que vamos envelhecer. Em fases mais e outras menos aceleradas. Já parou para pensar na disparidade que existe entre um embrião e um feto? Anos fazem diferença na idade de uma pessoa para outra. Meses são cruciais para o amadurecimento. Semanas são fundamentais para o nascimento. Dias são importantes para a história. Basta um único minuto para que tudo isso acabe. Rara é a vida.

O que parece é que nesse processo de envelhecimento tem muita gente esquecendo de aceitar. E eu acredito que seja por causa dessa exaltação exacerbada da juventude como o melhor e mais iluminado período da vida de cada um, isso por aqui, no ocidente. Obviamente que a juventude tem muitas delícias. É ótimo ter a disposição e o vigor que a mocidade nos proporciona. A pele firme, os músculos fortes, os ossos sólidos, a cuca fresca. Mas não tem jeito. Tudo isso vai passar. E, sinceramente, sempre que alguém me pergunta se eu sinto saudade "daquela" época, eu respondo não.

Ao contrário do que prega a sociedade de consumo, envelhecer não é declínio. Que bom que a medicina, a nutrição e a estética estão trabalhando para tornar o processo mais leve e confortável. Toda e qualquer evolução para o nosso bem-estar é bem-vinda e prazerosa, mas aqui estão pecando pelo exagero. É no excesso de correr contra o tempo e não aceitar que ele passa que mora também a frustação, a tristeza, depressão e o desespero. Levando em conta ao pé da letra que depois dos 25 anos vamos caindo no precipício é desconsiderar, injustamente, a história, as experiências e os frutos de cada um. Estique, puxe, amasse, levante, preencha. Faça o que te deixar feliz, mas não se perca. Seja reconhecido pelos sorrisos, pelo choro fácil, pelas caras e bocas, mas não pela mais absoluta falta de expressão. Permita-se ser quem você é até o fim, e que todo o seu legado tenha sempre muito mais valor que a sua aparência.

Acho ofensivo se alguém me diz que tenho uma "cabeça de jovem". Porque eu não tenho. Tenho a minha cabeça, com as minhas ideias e que definitivamente mudou bastante do que era aos 20 anos, graças à Deus. Eu sou disposta, gosto de contar histórias, penso rápido, faço mil coisas ao mesmo tempo. Não como um jovem, mesmo porque, nesse aspecto, não vejo vantagem nenhuma de um jovem sobre mim, mas como eu mesma. Com a minha idade. Se fossemos fazer isso mesmo, rotular cabeças com idades, como falaríamos desses jovens cansados da vida ainda no início dela e que se encostam na casa, no bolso e na vida de seus pais até muito tempo depois dos 30? Com "cabeça de velho"?

Ainda que malvisto e muito temido, envelhecer traz sim uma certa plenitude. Aceitamos melhor o diferente, o desconhecido. Nos abrimos para o novo: novos tempos, novos lugares, novas experiências. Para envelhecer bem você pode até achar que ter uma aparência de plástico resolve. Mas te garanto que uma boa dose de coragem para permitir novos sonhos, planos e projetos, ainda que o tempo urja, é infinitamente melhor.

E, a propósito, alguém viu onde coloquei meus óculos?


Paula Garruth Colunista

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