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Ele não te bate, mas...

Ele não te bate, mas nem por isso não é violento


Ele não te bate, mas nem por isso não é violento. A violência contra a mulher não é manifestada apenas com tiros, espancamento ou cicatrizes. A crueldade está também na destruição da autoestima. Homens que se sentem donos de suas companheiras, como se elas fossem suas mercadorias, acham que podem diminui-las e ditar as regras a serem seguidas. As frases que muitas vezes são utilizadas travestidas de boas intenções podem ter efeitos drásticos que, a curto, médio ou longo prazo levam mulheres aos mais diversos transtornos, problemas mentais, doenças físicas e até ao suicídio.

Um parceiro obcecado, por exemplo, para que a mulher perca peso é uma arma poderosa de destruição. Se a mulher disser que sente fome, vem o olhar de reprovação. Se sentir vontade de comer um doce, vem um longo discurso. Muitas passam a ter bulimia ou anorexia por causa desse tipo de comportamento e passam a ter problemas de saúde pela falta de nutrientes essenciais. O importante é que a mulher se sinta bem, esteja feliz e em paz com seu corpo e com seu estilo de vida. Uma relação precisa ser muito maior que uma forma que o outro julgue perfeita. Precisa respeito, cumplicidade e de uma admiração que ultrapasse os limites do físico, porque o tempo passa. E passa para todo mundo. Se ele te diz que até os amigos dele comentam que você está gorda, aconselhe-o a mudar de amigos. Ou de país.

Dia desses ouvi um cara dizer para outro voltar com a ex-namorada porque "agora ela estava magra". Senti uma repulsa tão grande que hoje tenho muita dificuldade de lidar com ele. Não é possível que os valores de um relacionamento estejam realmente baseados nisso. Seja magra, gorda, alta, baixa, lúcida ou louca, mas seja, antes de tudo, feliz. Olhe-se no espelho e enxergue mais do que ele mostra, e vai ver que mulher maravilhosa e forte você é. A culpa da insatisfação dele não é sua. A vítima nunca será a culpada.

Um outro perfil que agride sem socos são os que resolvem interferir na forma como se veste ou se comporta. Como foi mesmo que ele te conheceu? Por quem mesmo ele se apaixonou? Não há nada demais em você ter alguma dúvida sobre o que vestiu e pedir uma opinião. Não há nada demais em ganhar um presente dele. Mas há muita coisa errada em perder a autonomia de ser quem se é. Ninguém pode interferir na sua liberdade individual. Se não gosta do vestido que ele exige que você use, não use. Não pode existir proibição que você corte o cabelo ou deixe crescer, nem que você mude de cor, enrole ou alise. Ele pode ter, no máximo, um ponto de vista, mas é você a pessoa mais importante da sua vida. Aproprie-se disso e faça valer os seus desejos.

Ser você não é e nunca será uma doença crônica. É seu encanto, sua peculiaridade. Cada uma de nós somos lindas do nosso jeito. Eles que aprendam a lidar com isso.

 


Paula Garruth Colunista

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