E depois da lua de mel? - Jornal Fato
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E depois da lua de mel?

A grande questão é que a paixão tem prazo de validade


Nem toda relação está destinada ao sucesso do felizes para sempre. Aliás, anda raro topar com isso por aí. Talvez porque as pessoas se casem achando que a rotina será um prolongamento da lua de mel. Um segredo para quem está começando agora: não é. A primeira semana de um namoro nunca será a mesma coisa um ano depois. O casamento não será igual ao namoro e nem as bodas de algodão semelhante às de prata. E que bom que assim seja.

A química que acontece com a paixão provoca fortes sintomas no corpo, como o aumento da pressão arterial e dos batimentos cardíacos, falta de apetite e sono, rubor e tremor, dentre outros. A dopamina é liberada no organismo e nos faz acreditar na perfeição do amor, mesmo que antes ele não tenha sido tão perfeito assim em tempos passados. Ficamos mais agitados e mais corajosos. Na verdade, o mecanismo cerebral de um apaixonado é semelhante ao de se viciar em algum tipo de droga pesada. O contato com o ser amado, mesmo que não seja físico, libera endorfina e dopamina, aumentando as doses de prazer.

A grande questão é que a paixão tem prazo de validade. Apesar de não haver registro sobre o tempo exato, a ciência indica que as alterações químicas são tão intensas que, se durassem tempo demais, levariam o organismo ao colapso. Mas quando a paixão acaba, muitas outras coisas ficam. Inclusive o desejo. Não é porque as borboletas no estômago sossegaram que a vida não pode ser linda, a relação prazerosa e o amor algo para acreditarmos que sim, que pode durar para sempre.

Mas, depois da chamada lua de mel, o que fica? Fica a cumplicidade de muitas vezes não precisar falar para que entendam um ao outro. Fica um companheirismo enorme a ponto de você sentir-se à vontade para rir ou chorar. Fica a amizade de poderem falar sobre tudo e contar tudo sem qualquer sensação de estar sendo julgado. Fica o abraço certo na tristeza e na comemoração. Fica a felicidade pela felicidade do outro. Fica o cuidado na doença, no cansaço e no momento de desânimo. Fica aquela sensação mágica e segura que é a de dormir e acordar juntos. Fica o sentir-se à vontade no silêncio, a brincadeira fora de hora, o apelido carinhoso, o banho, a liberdade, a intimidade. Depois da lua de mel as mãos dadas permanecem. Permanece compartilhar o cobertor no frio, um copo d'água em mãos, uma refeição, um café, um sorvete. Depois fica a presença de espírito em perceber o outro, o respeito pelas preferências, músicas e ideias. Fica o fogo, porque o amor também tem chamas. O amor, diferente da paixão, suporta a ausência, desde que não demore demais. O amor entende que a ausência é passageira e logo ele volta, com o cheiro que só você reconhece nele. Com o brilho no olhar que só você consegue enxergar.

Cuide da paixão para que ela seja amor. Cuide do amor para que ele não te escape por entre os dedos. Cuide do outro como você gostaria de ser cuidado. Respeite, entenda, retribua, abrace e surpreenda. Diga o que sente, como se sente, escute. Não há bula nem fórmulas mágicas para que sua vida pessoal seja perfeita. Mas seja bom, corajoso e verdadeiro. Se isso não for a receita da eternidade será, no mínimo, a receita para lindos, leves e iluminados anos e anos e anos.


Paula Garruth Colunista

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