A eleição da ausente - Jornal Fato
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A eleição da ausente

Pesquisando a história, não encontrei como essa escolha foi feita através de tantos anos


Quando criou o título de Cachoeirense Ausente, em 1939, Newton Braga tinha como objetivo homenagear os conterrâneos que aqui não mais viviam, mas que mantinham com a terra natal vínculos de afetividade. Pesquisando a história, não encontrei como essa escolha foi feita através de tantos anos. Porém, como cachoeirense, servidora pública, cerimonialista e apaixonada pelas tradições bairristas dessa terrinha quente, participei de alguns pleitos, tanto de forma direta, de 2009 a 2016, como indireta, em uma época que a eleição era feita no Plenário da Câmara. Em todo esse tempo vi ela sendo realizada em muitos moldes: eleições populares, eleições feitas por uma comissão ou indicação do Chefe do Executivo. Em cada uma delas ouvi elogios e críticas, o que faz parte e deveria ser construtivo. Mas, no final da festa, quando a empolgação dá lugar a ressaca, ninguém fala mais disso até que chegue o próximo ano. Todo mundo tem um palpite ou uma ideia genial para que a escolha do ausente seja melhor, mas ninguém, ou quase ninguém, contribui de forma produtiva para a melhoria do processo. Estou certa de que os responsáveis estão abertos às sugestões, mas que elas venham de forma produtiva ao longo do ano e não despejada no com de fúria nas redes sociais às vésperas dos festejos.

Resolvi escrever sobre isso porque, alertada por uma amiga, fiquei sabendo dos insultos ocorridos nas esferas virtuais por causa da eleição de 2019. Fui verificar "in loco" e confesso que me arrependi. Nunca vi tanta afronta e tanto desrespeito. Não importa se você é contra ou favor de como ocorrem as indicações e escolhas. O certo é que a execução foi transparente e que venceu a candidata mais votada. A comissão que a escolheu foi estabelecida pela primeira vez em 2001 e, de lá até aqui, sofreu algumas alterações ou foi substituída por outros meios de escolha. Mas o fato é que, enquanto ela existiu, nunca foi tão duramente criticada. E, veja bem, o problema maior nem é que seja criticada. A democracia nos permite isso. O problema é ser criticada nesse momento, no acender das luzes de São Pedro, depois da eleição ter sido feita legalmente, acompanhada e fiscalizada. E de termos como vencedora uma mulher de currículo invejável, sob a argumentação de tratar-se de uma "desconhecida".

Desconhecida para quem, afinal? Desde quando só merecem honras e respeito as escolhas feitas por uma elite que assim se auto intitula? A medida em que a cidade cresce, não somos mais todos conhecidos de todos. E ainda bem que seja assim. Pelo que li dos demais candidatos, são todos, sem exceção, merecedores de todas as honrarias com as quais a cidade possa contemplá-los. Mas Cachoeirense Ausente é figura única na festa da cidade. Desde sempre é assim.

E em 2019 estaremos de braços e corações abertos para receber Neuza Maria Brunoro Costa. Homenagem merecida e que será concedida com orgulho e muito carinho por cada um de nós. A festa terá ainda mais brilho por termos Marilene Depes como Cachoeirense Presente. Serão dias memoráveis e com motivos de sobra para as comemorações. Levando-se em conta que minha mãe será a homenageada da Praça Vermelha, a festa será então majoritariamente feminina. E feminista. E forte. Somos nós cumprindo o destino de chegar chegando. E os incomodados? Ah! Eles que larguem em casa seus computadores, suas dores e seus maus humores e venham para a festa com o coração aberto e com o propósito do bem de que ano que vem seja ainda melhor.


Paula Garruth Colunista

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