"Valmir Ferreira: Um Guerreiro"?

19/05/2013 18:23

Foi o que médicos, enfermeiros, psicólogo, nutricionista e demais funcionários do Serviço de Hemodiálise da Santa Casa de Cachoeiro cantaram em sua homenagem, dias atrás, na Capela do hospital. Comemoravam seus vinte e cinco anos de vida em hemodiálise. Festejaram sua resiliência. Emanuel Patrício, médico graduado na Universidade Fluminense, iniciou o Serviço de Nefrologia, há mais de trinta anos, no sul do Estado. Ele falou sobre os muitos aspectos difíceis da vida. Comentou sobre a vida em países em guerras, nos locais em que as mulheres são desvalorizadas, em países que não há direito à palavra de discordância ou direito de ir e vir. Falou, também, da doença renal crônica, apesar de debilitar fisicamente, não é a "pior coisa do mundo"?, desde que os cuidados e carinhos de outras pessoas e familiares sejam percebidos por aquela que necessita. A prova do que falava era a vida como renal crônico do Valmir.

O Valmir não está sozinho. São cem mil brasileiros renais crônicos (os rins deixaram de funcionar e dependem de máquinas que realizam a filtragem do sangue "" hemodiálise). O número preocupa, pois é crescente, envolve o envelhecimento humano e tem com causa principal a hipertensão e diabetes. Duas doenças que as pessoas adultas apresentam e nada sentem por um longo tempo de suas vidas. São doenças silenciosas em sua fase inicial e por muitos anos. Devem estar alertas as pessoas com familiares hipertensos e diabéticos. Assim como aprenderam a pedir ao médico para fazer o exame do colesterol, devem solicitar a realização do exame de urina e a dosagem da creatinina no sangue (bom marcador da função renal).

Valmir sempre foi assim: ajudava mais do que recebia, alegrava e alegra os ambientes que frequenta. Em seus 25 anos de renal crônico, foram alguns anos fora da dependência da máquina de hemodiálise, pouco tempo, por conta do transplante. Em seu maior tempo, permaneceu em hemodiálise. Nesse período, nunca questionou Deus, nunca perguntou "por que, eu?"? Sempre aceitou a doença. Sorri e agradece aos cuidados que recebe. Nunca desanimou. Casou, constituiu família, educa um filho. Buscou leis e criou a Associação dos Renais Crônicos e Transplantados do sul Capixaba.

Com Valmir o conceito de saúde muda. Pois, apesar da alteração física, deficiência da função renal definitiva (Insuficiência Renal Crônica) e necessidade da terapia renal substitutiva (filtragem do sangue através de máquina "" hemodiálise), nesses 25 anos nunca aparentou doença, os outros aspectos da saúde (bem estar psicológico e social), isto é, otimismo, bom humor, vontade de ajudar familiares e outras pessoas que necessitavam, sempre foi seu "forte"?. Por isso, em seu atual momento, onde se encontra debilitado, ainda se percebe, alegria e vontade com a vida.  Chamá-lo de Guerreiro é o mínimo que podemos falar ou cantar. Na verdade, seu exemplo de vida, é uma esperança de contaminação na vida dos que fisicamente perfeitos se deixam levar por valores e questionamentos que os fazem tristes. Ã? um exemplo vivo que a alegria pode ser encontrada apesar da alteração do corpo.

 

Sergio Damião Santana Moraes