Paixão de Cristo

03/04/2012 22:56

No Evangelho podemos ir analisando uma a uma as etapas e acontecimentos da paixão e morte de Jesus. E vamos comparando com acontecimentos e fatos da nossa vida. E observamos as coincidências que ocorrem.

A começar pela entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, quando ele é aclamado e recebido como um Rei. O povo estendia ramos pelo chão ou os balançava pelos ares, por onde ele passava. O mesmo povo que dias depois pedia a sua morte. Exatamente o que acontece conosco, quando vivemos uma situação de vitória ou ocupamos um cargo de poder somos aclamados e reverenciados. Numa situação de derrota a multidão desaparece.

Jesus sofre sozinho o abandono no Horto das Oliveiras. Muitas vezes sentimos a mesma sensação de abandono, quando num grande sofrimento não temos com quem partilhá-lo.  O julgamento e condenação de Jesus, guardando as devidas proporções, acontecem conosco todas as vezes que somos mal interpretados em nossas ações. E quantas vezes assistimos pessoas sendo julgadas e condenadas, inocentes, e preferimos lavar as mãos e não tomar atitudes concretas em defesa delas, usando o argumento de que não temos o direito de intervir na vida alheia. A omissão é uma atitude deplorável diante do sofrimento do outro.

Amigos como Judas todos temos ou tivemos em nossa vida, aqueles que utilizam da nossa amizade para tirar algum proveito. E amigos que fogem quando mais precisamos deles é fato corriqueiro, quando caímos em alguma desgraça. E sendo financeira, aí que fogem mais rapidamente, com medo de que peçamos alguma ajuda.

A violência dos soldados no trato com Jesus é a mesma que assistimos diariamente entre policiais e minorias, como negros, pobres, homossexuais, prostitutas, população de rua, entre outros. E Pedro quando nega a Jesus faz-nos lembrar da dor que sentimos quando um amigo querido desaparece, exatamente quando mais precisamos dele.

As injustiças cometidas pelos chefes dos judeus, o povo ao qual Jesus pertencia são comuns. Aguardavam um Deus cujas características já estavam desenhadas no imaginário deles, um Deus que os salvasse do poder opressor dos romanos, não seria aquele homem simples, falando de amor e perdão que iria corresponder as suas necessidades. Portanto decidiram eliminá-lo. E assim, as pessoas que não correspondem as nossas necessidades vão sendo sumariamente eliminadas da nossa vida, tanto pode ser um parente, um empregado, um amigo, e assim por diante.

Pilatos, o dono do poder, foi um covarde, como são covardes todos aqueles que em posse do poder, o utilizam para benefício próprio, sem importar-se com o sofrimento do povo que não recebe atendimento condigno nas áreas prioritárias da vida, como assistência social, saúde e educação. Quando um irmão nosso morre numa fila de hospital por falta de atendimento, é Jesus morrendo uma vez mais, principalmente porque sabemos que o dinheiro da saúde vai para o bolso dos corruptos, dos Pilatos que os condenam à morte.

A dor que Jesus sofreu ao ser coroado por espinhos é a dor da mãe que tem o filho morto por bala perdida, dos pais cujos filhos se embrenham pelo mundo das drogas. A cruz que Jesus carregou também é carregada por cada um de nós em momentos de dificuldades da vida.

O que nos dá força e coragem para enfrentarmos a nossa cruz é a certeza da ressurreição de Jesus. Depois da dor e da morte nós também ressuscitaremos e poderemos participar da glória da vida eterna. Ã? essa a esperança que nos mantém de pé.

Marilene De Batista Depes, rmdepes@terra.com.br

 

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