O dia da caça

28/03/2012 00:09

Em reportagem, do Jornal A Gazeta, tomei conhecimento da desventura ocorrida com um empresário do nosso Estado.

O empresário apresenta-se como um caçador, que há 34 anos sai por países onde a caça ainda é legalizada, praticando seu hobby predileto, matar animais selvagens, como búfalos, na fronteira do Brasil com a Bolívia, ou antílopes na Ã?frica, entre outros países.

Na reportagem ele fala do serviço que presta as populações indígenas desses locais, livrando-os dos ditos animais selvagens que atacam as aldeias. E o quanto é bem recebido pelo povo nativo, quando chega com seus rifles de alta potência, como orgulhosamente faz questão de relatar.

Na última aventura o cidadão caçador, digo predador, recebeu um tiro de rifle no joelho e após muito sofrimento devido à distância em que ele se encontrava, conseguiu atendimento médico. Contudo teve a perna amputada, para que tivesse  a vida salva. Das caçadas ele não se arrepende, apenas fala de uma conversão que, a dor e a proximidade da morte o levaram a experimentar.

Na matéria aparecem as fotos dos animais mortos por ele, que orgulhosamente gosta de exibir. Como narra o abate de um búfalo que, na água precisou levar vários tiros, na nuca e no traseiro para ficar inerte, numa agonia interminável. Num trecho da entrevista ele pede que os entendidos em direitos dos animais fiquem calminhos, afinal ele é um sujeito com direito legalmente instituído, para sair do seu habitat, num apartamento provavelmente confortável da cidade e entrar no habitat natural dos animais e abatê-los e exterminá-los para satisfazer o seu instinto. Inclusive não se considera hipócrita ao declarar o seu prazer por abater e comer a caça que mata.

Num trecho da entrevista ele nos identifica a todos como primatas violentos e carnívoros. Colocou todos no mesmo barco em que ele navegava quando foi atingido por uma bala certeira que quase lhe tirou a vida. Não cita de onde a bala partiu, mas fica claro que não foi obra dos animais, que nas florestas ainda não evoluíram o bastante para fabricarem armas mortíferas para dizimarem os seus semelhantes.

Realmente existem primatas violentos neste nosso universo, do qual eu não me incluo entre eles. Contudo observando as fotos da matéria do jornal, não pude deixar de comparar a arrogância do homem armado em cima do animal abatido e o mesmo homem mutilado, que fala de conversão após todo o sofrimento que vivenciou. Talvez ele tenha alcançado a dimensão da dor que atinge a todos nós, homens e animais.

Finalmente chegou o dia da caça.

 

Marilene De Batista Depes                                      rmdepes@terra.com.br