"Escolhas"? - Jornal Fato
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"Escolhas"?


Li o livro do Roberto Volpato. Chegou às minhas mãos como um presente da sua filha Kátia (médica ginecologista, em Cachoeiro). São crônicas (suas memórias, reminiscências). Na verdade, relatos da vida familiar, infância e sua labuta em Cachoeiro de Itapemirim. Lendo suas histórias, ficamos com a certeza: Roberto é um homem realizado, feliz. Em suas letras, confirma-se: fez as escolhas certas em sua vida. Parece uma coisa simples, a escolha, basta um sim ou não; virar para esquerda ou direita; silenciar ou gritar... São alguns segundos, minutos, nesse pequeno espaço de tempo: o início ou fim de toda uma vida. Uma vida para festejar ou arrepender-se. E nós vivemos assim: fazendo escolhas. Roberto, em seu livro, revela as suas. No livro: "Cachoeiro "" memórias e crônicas"?, temos, na capa, uma bela foto do Parque do Itabira, iluminado e bucólico. Como o Roberto o conheceu na infância, como deve ficar para gerações futuras. A apresentação é da irmã (Célia), ela lembra que o livro é uma mistura da vida e a cidade. Na leitura descobrimos as coisas próprias da crônica (minúcias, simplicidade, sentimentos...), coisas da vida de pessoas. Algo que nos faz chorar e sorrir. Roberto numera as crônicas (33). Inicia descrevendo os locais de trabalho, produção e serviços do Cachoeiro no século XX. Em seguida apresenta a família: avô (Joaquim Volpato); avó (Clarinda); pai (Joaquim Volpato Filho); esposa (Marlene); filhas (Solange, Valéria e Kátia) e irmãos (8). Em uma das crônicas lembra que, na infância, os brinquedos as próprias crianças produziam (bolas de meia, espadas, carrinhos de rolimã...). Lembrei: quando criança, também, produzia brinquedos (gostava de futebol de botões, futebol de mesa, fazia os botões de madrepérolas).

Ele se apresenta: diz o nome, o gosto por observar pássaros, o medo de cobras... A alegria de um banho de córrego, da peleja em campo de peladas... Em seu tempo, as pessoas não aparentavam pressa, observavam com atenção a natureza, suas coisas e belezas, o passar de um dia era aproveitado de uma janela de casa, ao lado do rio. As horas e os dias eram desfrutados. Não, apenas, contados em folha de calendário. Roberto aposentou-se como mestre de oficina mecânica. Por três vezes eleito operário padrão de Cachoeiro. Iniciou a profissão de mecânico na oficina do Luiz Volpini e Mário Romanelli. Lembranças não faltam: das lavadeiras com trouxas de roupas no córrego (foram eternizadas na poesia do Newton Braga); abertura da Rua Maracajá; do trem e o gado para exposição; festa de Cachoeiro; do trem em direção à Marataízes e do início do Bairro Independência (mais ainda das pessoas que ali moravam, lembra-se do Professor e Poeta Athayr Cagnin).

Aos 76 anos de idade, Roberto me faz pensar no escritor Rubem Alves (falecido recentemente), ele gostava de citar a poesia "Instantes"? do argentino Jorge Luiz Borges: "Se eu pudesse viver minha vida novamente..."? Borges descreve um homem de oitenta e cinco anos. Ele imagina: Se pudesse vivê-la novamente... Viveria diferente. Conta: Teria contato com a natureza; não teria tanta pressa; pensaria em coisas simples e assistiria (mais vezes) o sol nascer... Roberto, tenho certeza, a viveria novamente, muitas vezes, a repetiria tantas vezes fosse possível, como a viveu até então.

 

Sergio Damião Santana Moraes

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