En el Brasil hasta los Cielos mientem - Jornal Fato
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En el Brasil hasta los Cielos mientem


A Conexão de hoje é colcha de retalhos tirados de antigas Conexões. Coisas que achei apropriado repetir. Reflexões sobre governos; homenagens ao Maranhão: matéria do jornalista Jorge Bastos Moreno e trecho de sermão do Padre Vieira que, como sabemos, morou naquele importante Estado. Também trago comentário sobre o não lançamento de todas as obras de Newton Braga. Que beleza! Vai, também, trecho do "Sermão da Quinta Dominga da Quaresma"?, rezado por Vieira em 1654, na Igreja Maior de São Luiz do Maranhão: "Amanhece o sol muito claro, prometendo um formoso dia, e dentro em uma hora se tolda o Céu de nuvens, e começa a chover como no mais entranhado inverno... Dom Fradique de Toledo, admirado da inconstância do clima, disse: En el Brasil hasta los Cielos mientem"?.

Reflexão Federal e Profecia Municipal

Um artigo específico de Frei Betto é boa fonte para o futuro do governo Casteglione. A reflexão, contundentemente dirigida ao governo Lula, pode ser de valia a Casteglione; aproveitá-la como "saber d'experiências feito"?. Como Lula, Casteglione é o primeiro governo genuinamente popular eleito em Cachoeiro. As pedras que Lula colocou à frente de si mesmo podem ser afastadas pelo jovem Prefeito, se ele souber ouvir os profetas das coisas acontecidas e se tiver coragem de se impor.

Para Frei Betto ("Le Monde Diplomatique Brasil"?, dezembro/2008), "o mercado venceu"?, pois "o governo Lula optou por uma governabilidade baseada na política de conciliação com os setores dominantes e compensação aos dominados, dentro do receituário econômico neoliberal; tornou-se refém de forças políticas tradicionais, oligárquicas, que integram o grande arco de alianças de apoio ao governo"?.

E mais: "O propósito de manter as famílias castigadas pela miséria no programa (Bolsa Família) por, no máximo, dois anos, foi abandonado em favor de uma dependência que traz ao governo bônus eleitoral. O núcleo governante, voltado unicamente ao seu projeto de perpetuação no poder, mantém, via políticas sociais, relação direta com a população beneficiária, sem contar sequer com a mediação de seus partidos políticos originados na esquerda. Há forças políticas de esquerda que, tendo abandonado o trabalho de organização popular, estão convencidas de que é preciso aceitar as regras do jogo. A primeira é depender do dinheiro de quem o possui, o que não é o caso dos desempregados, dos operários, dos trabalhadores em geral. Dinheiro em eleição significa investimento; ninguém investe para perder. Todo investimento supõe a possibilidade de ganhos, lucros. Há que contar com meios de comunicação, que não se reduzem a panfletos impressos em gráficas de fundo de quintal, nem a comícios"?.

E continua Frei Betto: "O bom uso dos meios de comunicação depende, por sua vez, de marqueteiros, que detêm os segredos de sedução do eleitor. Como não são políticos, e em geral nem gostam de política, aplicam aos candidatos a mesma receita do sucesso de venda de produtos que anunciam. Assim, a dependência do dinheiro da elite, da mídia das grandes corporações e do marketing das agências de publicidade resulta na descaracterização das campanhas eleitorais, o que, no caso dos partidos de esquerda, significa o abandono da perspectiva socialista e a progressiva desideologização de seu discurso e de suas propostas. Ã? a vitória do mercado sobre os valores humanitários. No lugar de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, entram a visibilidade, o poder de sedução e os amplos recursos de campanha. Ã? a predominância do marketing sobre os princípios.

E, como todos sabem, o segredo do marketing não é vender produtos, e sim ilusões com as quais os embala, pois eles nutrem a mente de fantasias, embora não encham barriga: ao contrário, alimentam a revolta dos excluídos, que, atraídos por essa fantasia, cobram a realidade à sua maneira, o que é pior para todos nós"?. (Conexão Mansur 116 "" maio/2011)  (Nota de hoje: o governo Casteglione copiou Lula).

 

Amigos e Inimigos

Tudo que entendi de falar sobre o governo Valadão "" as coisas graves "", fiz questão de fazê-lo pessoalmente ao prefeito, sempre ao lado do ouvido atento do amigo comum Djalmo Carvalho. Fui bem recebido, mas não fui bem ouvido em muita coisa. Hoje, agora, neste instante, o que posso dizer mais a Valadão, talvez abusando da amizade, é que ele deveria se precatar quanto a acontecimentos de sua administração, pouco se importando com quem informa ou critica. Sem esse acautelamento, o Prefeito vai ficar sozinho. Vão te abandonar, Valadão. Na planície e no ocaso, vão virar a cara muitos dos que agora te cercam; deixarão de ser amigos seus; alguns dirão que nunca foram. Sugiro ao prefeito que, afastando a personagem dos críticos, seja contra ou seja a favor, seja amigo ou seja inimigo, observe o que se diz "" não quem diz.

Plutarco disse: "para os que se preservam, há necessidade de amigos sinceros e inimigos ardentes: uns nos afastam do mal por suas advertências, os outros, por sua censura. Mas visto que hoje a amizade só eleva fracamente a voz, quando se trata de falar com franqueza, e que, verbosa na lisonja, é silenciosa nos conselhos, é da boca de nossos inimigos que nos é preciso ouvir a verdade"?. (Conexão Mansur 49 - julho/2005)

 

Sermão do Bom Ladrão

Pregado na Igreja da Misericórdia de Lisboa, em 1655, pelo Padre Vieira (págs. 100/1 dos "Sermões do Padre Vieira, L&PM Editora, 144 pág., R$ 9,50):

 "Não são só ladrões, diz o santo, os que cortam bolsas, ou espreitam os que vão se banhar, para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo de seu risco, estes sem temor, nem perigo: os outros, se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam. Diógenes, que tudo via com mais aguda vista que os outros homens, viu que uma grande tropa de varas e ministros da justiça levavam a enforcar uns ladrões, e começou a bradar: "Lá vão os ladrões grandes enforcar os pequenos"?. Ditosa Grécia que tinha tal pregador! E mais ditosa as outras nações, se nelas não padecera a justiça as mesmas afrontas. Quantas vezes se viu em Roma ir a enforcar um ladrão por ter furtado um carneiro, e no mesmo dia ser levado em triunfo um cônsul ou ditador por ter roubado uma província! E quantos ladrões teriam enforcado estes mesmos ladrões triunfantes? De um, chamado Seronato, disse com discreta contraposição Sodônio Apolinar: Seronato está sempre ocupado em duas coisas: em castigar furtos e em os fazer. Isto não era zelo de justiça, senão inveja. Queria tirar os ladrões do mundo, para roubar ele só"?.

 

Ainda no Maranhão

Deu no Globo, coluna "Nhenhenhém"?, do jornalista Jorge Bastos Moreno:

"(O Ministro do Meio Ambiente Carlos Minc) foi fazer uma blitz na divisa do Maranhão com o Pará, precisamente na cidade de Buriticupu, crente de que teria a ajuda das autoridades municipais. De cara, Minc fechou 30 madeireiras e prendeu 20 pistoleiros que agiam na região a serviço dos contrabandistas e de outros inimigos da floresta. Com tanta gente ainda para prender, o ministro buscou ajuda do nobre presidente da Câmara Municipal.

Cadê o chefe do Poder Legislativo?

Estava entre os donos de madeireira, preso com um carro roubado.

Minc ainda acreditou que pudesse haver político de bem na Câmara. Outra decepção: nove dos dez vereadores estavam envolvidos com pistoleiros e madeireiros. Só sobrou o prefeito. Mas ao chegar à prefeitura, Minc soube que o prefeito havia fugido, depois que seu sócio, o Presidente da Câmara, fora preso em flagrante.

Aí o Ministro não se conteve: - Poxa! Nesta cidade, se gritar "pega ladrão"?, não fica um, meu irmão"?. (Conexão Mansur 56 "" agosto/2005) 

 

NEWTON BRAGA NÃ?O MERECE ISSO

Ainda me recuso a acreditar. A Secretaria de Cultura do Município anunciara, desde o começo do ano, que em 13 de setembro de 2011 aconteceria o "lançamento das reedições de "Lirismo Perdido" (1945), "Histórias de Cachoeiro" (1947) e "Cidade do Interior (1959), além do título inédito "Uma voz da província", obra que reúne artigos de crítica literária de autoria de Newton Braga, no Centro Operário"?. Hoje são 20 de setembro "" nada aconteceu.

Fiquei atento, mas não tão atento como deveria. Não passava pela minha cabeça que algo tão anunciado pudesse se frustrar, como frustrara o lançamento do livro sobre Newton, dos filhos dele (mas responsabilidade da Prefeitura), que até hoje não foi publicado. Agora, tudo passa pela cabeça, principalmente a irresponsabilidade administrativa e cultural da administração pública. NUNCA ANTES NESTE MUNICÃ?PIO HAVIA VISTO TANTA FRAGILIDADE E INCOMPETÃ?NCIA.

Cem anos só se comemoram uma vez, demora para chegar, dá tempo para organizar. Deixar de cumprir a promessa, mais que promessa, obrigação, é enterrar a história dos homens cultos, dos homens que deram a vida por Cachoeiro.

Poderia ficar com raiva, não fico, fico com pena. Newton não merece, a cidade não merece, o cachoeirense foi ofendido, mas ninguém reclamou, não é verdade?

 

HIGNER MANSUR

([email protected])

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