Ã?ramos sete - Jornal Fato
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Ã?ramos sete


Meus pais tiveram sete filhos e agora só restam duas. Uma terceira não vive, vegeta vítima do Alzaihmer. E minha irmã mais velha completa 80 anos. Inteira, lúcida, bonita, ativa, independente, participativa, entre outras qualidades.

Nossa diferença de idade é grande, por conta disso não convivi com minha irmã na casa dos nossos pais, pelo menos não lembro, como não me lembro do casamento dela. Mas as recordações que guardo são profundas. Minha irmã sempre foi muito acolhedora e minhas férias eu as passava em sua casa. Quando ainda morava na roça, o melhor passeio era sair da nossa casa, atravessar a matinha, que não mais existe, infelizmente, e ir para a casa da minha irmã. E adolescente, já em Cachoeiro, as melhores férias eram na casa de Dendé, apelido carinhoso de Eloíza. O retorno era sempre muito triste, eu chorava dias seguidos pelos cantos.

 

Quando nasceu minha sobrinha foi ótimo, finalmente uma companhia para mim, sempre muito só, pois era temporona. Os melhores momentos da minha infância eu os vivi na casa de minha irmã, e acredito que essa verdade é a realidade para muitos, que viveram e vivem no entorno dela. O amor por Dendé foi se estendendo por gerações. Um amor incondicional, que ela soube ir plantando. Quando meus filhos eram pequenos e queríamos viajar, era na sua casa que os alojávamos, pois um deles era muito levado e ninguém queria ter responsabilidade.

Tenho observado pessoas que aos sessenta anos estão desistindo da vida. Os idosos, em geral, vão ficando preconceituosos, não gostam de conviver com os jovens, vão se isolando.  O que não é o caso dela, é amiga dos meus netos como se tivessem a mesma idade. Minha irmã, por ser muito estabanada e querer fazer tudo ao mesmo tempo, foi vítima de dois acidentes domésticos, sofreu fraturas graves, ficou acamada por meses e nunca perdeu o elã vital. Sempre foi ativa, participa de grupos de ginástica, hidroginástica, grupos de terceira idade, adora aprender artesanatos novos e sempre está pronta para servir, quando é requisitada. Seus filhos estão cerceando um pouco está disponibilidade, para segurança dela. 

Nunca a vi reclamando, ri do próprio infortúnio, estar com ela é uma lição de vida. Meus netos a amam incondicionalmente, um convite para ir visitá-la é sempre um prazer para eles. E nunca se chega a sua casa sem que haja algo gostoso, feito por ela, para oferecer.  Seus doces são inigualáveis, seu frango com angu à baiana é inimitável. E na colheita das frutas, jabuticabas principalmente, sempre se lembra de nos comunicar, a partilha é inquestionavelmente o seu maior dom.

Existem pessoas que são cozinheiros natos, existem pessoas que cozinham com prazer e alegria, e é esse prazer e alegria que faz parte da vida da minha irmã. Existem pessoas que gostam de bordar, costurar, fazer crochê, minha irmã faz todas essas coisas, colocando o amor como ingrediente principal. Tenho prazer de visitá-la no final do ano e de vê-la, no meio de toalhas e panos, preparando os presentes de Natal de filhos e netos.

Ter uma pessoa especial como Dendé na família é um privilégio, que agradeço a Deus por conceder, afinal éramos sete, hoje somos só nós duas. O amor, carinho e reconhecimento que dedico a minha irmã é ilimitado. Que Deus a conserve e guarde com toda sua vitalidade, saúde e alegria de viver, por muitos e muitos anos mais.

 

Marilene De Batista Depes                   

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