As bruxas estão soltas

03/08/2016 00:00

Nunca compareci a tantos velórios quanto neste mês de julho. De conhecidos ainda jovens e com muita expectativa de vida. Já estou na idade em que as pessoas vão falecendo no entorno, porém a maioria dos que se vão são mais novos do que eu, o que me deixa numa situação incômoda.

 

Nos velórios os chavões utilizados não consolam, e a maioria não favorece o nome de Deus. Quem está sofrendo a dor lancinante da perda não tem condições para entender o Deus que castiga e leva o ente querido. Eis alguns exemplos: Deus sabe o que faz; era tão bom que Deus levou; o céu hoje está em festa; Deus dá, Deus tira; Deus escreve certo por linhas tortas; Deus sabe de todas as coisas; todo mundo tem sua hora; o céu ganha um anjo que já está intercedendo por nós; não era deste mundo; descansou...e por aí vai. Difícil encontrar as palavras certas para ocasião tão desconfortável.

 

Sabemos que a morte é inevitável, mas não nos habituamos com a sua inevitabilidade. Tenho netos que dão exemplo de como conviver com a morte com naturalidade. Inclusive um deles aproveitou a morte do bisavô, para fazer algo que sempre desejou e que nunca teve coragem, pois ele era muito bravo ? espremeu os cravos do seu nariz. Diz-se que a tristeza é só para quem fica, que para quem vai não há mais sofrimento e angústia. Porém as pessoas, em geral, não querem morrer ? por mais difícil que seja a sua condição. Mesmo os doentes terminais clamam pela vida e é o temor da morte que garante a preservação da espécie humana e até dos animais.

 

Reconheço que o tema é lúgubre, porém é esse sentimento que se apossou de mim a partir da morte de pessoas muito queridas. Como dói testemunhar uma vida tão jovem e repleta de possibilidades ser ceifada de forma tão trágica, como aconteceu com o amigo querido e grande publicitário Sérgio Grillo. A dor para quem fica é imensurável, e segundo o relato de amigas que perderam filhos, não há medida para tamanho sofrimento. Somente o tempo e a resignação diante do inevitável pode amenizar a dor da perda, além da esperança e fé de que a vida espiritual não termina com a morte.