Não sou ligada a esportes e competições, apenas flamenguista, assisto aos jogos do meu time e do time que representa o Brasil na Copa do Mundo. Mas impossível não participar dos acontecimentos referentes às olimpíadas, já que todos os meios de comunicação nos colocavam a par. E acabamos nos envolvendo por patriotismo e empatia aos atletas.
O Brasil encerra as Olimpíadas em 20º lugar, o que não é demérito se observarmos as posições dos demais países da América Latina. Numa análise geral dá para constatar que a maioria dos nossos atletas são moradores de periferias, pretos e pobres ? e não exagero, apenas constato. Posso facilmente exemplificar: Rebeca Andrade, a grande vitoriosa, cuja mãe faxineira criou mais seis filhos, tinha dificuldade no transporte de sua casa ao local de treinamento por falta de dinheiro. E assim com a maioria deles, até serem reconhecidos e receberem patrocínios. A lutadora de judô Beatriz Souza, outra medalhista de ouro, preta e fora dos padrões estéticos, desconhecida do quadro das melhores, sem torcida organizada, apenas com um marido que viralizou nas redes sociais torcendo, gritando e xingando como um legítimo brasileiro, com admiração e sangue nas veias. As vitoriosas do vôlei de areia, Ana Patrícia e Duda não fogem a regra, ambas simplórias, sem acesso a cuidados de beleza, contrastavam das adversárias. E após a vitória, ao observar a entrevista do pai de uma delas, em sua modéstia de quem pouco possui, fiquei imaginando o sacrifício da família para que a filha pudesse chegar àquele pódio. Assisti a final do futebol feminino e novamente com impressão idêntica, não lhes faltou garra e luta ao receberem a medalha de prata.
E pasmem, a atleta olímpica Flávia Maria, corredora paranaense, sofre acusações do ex-marido, de abandono da filha para participar das corridas, e ele tenta, na justiça, lhe tirar a guarda da criança. Por essa e outras, minha impressão é de que essa Olimpíada foi marcada pela vitória das mulheres, e exceto em alguns esportes como o vôlei, esgrima e surf, a presença nos pódios da mulher brasileira, preta e de periferia, foi majoritária. Torci por elas, curti com elas compreendendo a luta de cada uma, as considero mais que vencedora, heroínas que orgulhosamente levantaram a bandeira do nosso Brasil.