Chico lavou minha alma

Chico Buarque, independente da sua orientação política é um grande compositor e escritor.

10/05/2023 11:28
Chico lavou minha alma /Foto: Reuters

Fiquei bastante emocionada com a homenagem que Chico Buarque recebeu do governo português, a maior a ser concedido à escritor de língua portuguesa, o Prêmio Camões. O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Souza, e o presidente Lula assinaram o diploma em conjunto, aquele que o presidente brasileiro anterior se negara a fazê-lo. Inclusive o presidente português declarou, em seu discurso, que a homenagem não fora concedida posteriormente a nenhum literato, e que só retornaria a concessão após a premiação de Chico Buarque ser efetivada, em respeito ao que ele representa para a cultura de língua portuguesa.

Quando Lula venceu a eleição, em seu primeiro discurso ele citou o prêmio Camões e a desfeita que fora feita a Chico Buarque, que independente da sua orientação política é um grande compositor e escritor, aliás, Chico é o maior compositor vivo da nossa música!

Minha história de paixão pelas músicas de Chico remonta ao tempo dos festivais, quando ele ficou conhecido nacionalmente. Na faculdade algumas letras foram estudadas pela perfeição das métricas e rimas, como a de Construção em que ele resume toda a história, sociologia e antropologia do brasileiro, ao narrar a vida e exploração dos trabalhadores nos canteiros de obras.  Enfim Chico traduz o Brasil em seus versos como em Gente Humilde, com Paratodos homenageia os colegas músicos e em dezenas de letras reverencia as mulheres, sua grande inspiração.

Poderia descrever música por música, mas hoje cito o Chico que lavou minha alma ao receber sua merecida homenagem com quatro anos de atraso, e em discurso primoroso destacou a influência do pai, Sergio Buarque de Holanda, também escritor, em sua obra: ?Recebo este prêmio menos com uma honraria pessoal e mais como um desagravo a tantos autores e artistas brasileiros humilhados, ofendidos nesses últimos anos de estupidez e obscurantismo?. E agradeceu ao ex-presidente pela rara finesa em não ter assinado o seu Prêmio Camões. Sou cronista, com mais coragem e teimosia do que mérito, e me sinto também contemplada por suas palavras.