A casa da acolhida

E os fatos que vou narrar podem não expressar toda a realidade, são episódios que ficaram gravados na memória emocional

17/07/2019 08:29
A casa da acolhida

Num momento da vida em que me encontrava bastante fragilizada, tanto por questões de saúde, quanto por falta de apoio no trabalho, tive a grata satisfação de conhecer a Sra. Eloiza Valadão. Fui conduzida à sua casa pelo esposo, ex-prefeito Roberto Valadão, por quem tenho eterno reconhecimento e gratidão.

E os fatos que vou narrar podem não expressar toda a realidade, são episódios que ficaram gravados na memória emocional e que não se apagaram com o tempo. Abrir a casa, para mim, tem um simbolismo muito forte, quem abre a casa abre o próprio coração. E a casa de Eloiza e Valadão estava sempre aberta, dia e noite a campainha tocava e entrava gente, de pedintes a eminentes figuras políticas, todos atendidos com respeito e afeto pela matriarca da docilidade. Não observava gente efusiva, que saía abraçando e fazendo agradinhos para angariar adesões, simplesmente acolhiam naturalmente, como parte da natureza daquela família. Uma família extensiva na acepção da palavra, com filhos, sobrinhos, agregados, e onde cabiam todos.

A casa possuía espaços distintos: uma enorme mesa, na área externa, em que o marido recebia políticos, pedintes, correligionários, tudo junto e misturado. Não havia uma seleção por ordem de mérito ou social, e no meio daquela barafunda de gente eram tomadas das pequenas as grandes decisões. Pessoas do mais alto escalão de governo partilhavam daquela mesa. Mas o coração da casa ficava na mesa das refeições ao lado da cozinha. Penha, a cozinheira, ao mesmo tempo que preparava café e refeições o dia inteiro, se sentava junto, discutia e opinava, e aquela ausência de hierarquia me encantava. Naquela casa aprendi o que é se viver o verdadeiro socialismo, através da fraternidade e igualdade.

E muita da vida se expressa na morte. Ao lado da família, junto do corpo de Dona Eloiza, velando carinhosamente, estava Deco, que ajudava na casa e nas campanhas como se filho fosse, e a exemplo dele ela deve ter deixado dezenas de órfãos. Escrevi falando no passado, mas a herança deixada por essa mulher admirável e a história dessa família e da casa por eles edificada não se apagará jamais! E como declarou o poeta: Agora resta a mesa na sala...mas, naquela mesa tá faltando ela... Eloiza, a mulher que tão bem soube exemplificar o verdadeiro amor ao próximo.