A casa da acolhida - Jornal Fato
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A casa da acolhida

E os fatos que vou narrar podem não expressar toda a realidade, são episódios que ficaram gravados na memória emocional


Num momento da vida em que me encontrava bastante fragilizada, tanto por questões de saúde, quanto por falta de apoio no trabalho, tive a grata satisfação de conhecer a Sra. Eloiza Valadão. Fui conduzida à sua casa pelo esposo, ex-prefeito Roberto Valadão, por quem tenho eterno reconhecimento e gratidão.

E os fatos que vou narrar podem não expressar toda a realidade, são episódios que ficaram gravados na memória emocional e que não se apagaram com o tempo. Abrir a casa, para mim, tem um simbolismo muito forte, quem abre a casa abre o próprio coração. E a casa de Eloiza e Valadão estava sempre aberta, dia e noite a campainha tocava e entrava gente, de pedintes a eminentes figuras políticas, todos atendidos com respeito e afeto pela matriarca da docilidade. Não observava gente efusiva, que saía abraçando e fazendo agradinhos para angariar adesões, simplesmente acolhiam naturalmente, como parte da natureza daquela família. Uma família extensiva na acepção da palavra, com filhos, sobrinhos, agregados, e onde cabiam todos.

A casa possuía espaços distintos: uma enorme mesa, na área externa, em que o marido recebia políticos, pedintes, correligionários, tudo junto e misturado. Não havia uma seleção por ordem de mérito ou social, e no meio daquela barafunda de gente eram tomadas das pequenas as grandes decisões. Pessoas do mais alto escalão de governo partilhavam daquela mesa. Mas o coração da casa ficava na mesa das refeições ao lado da cozinha. Penha, a cozinheira, ao mesmo tempo que preparava café e refeições o dia inteiro, se sentava junto, discutia e opinava, e aquela ausência de hierarquia me encantava. Naquela casa aprendi o que é se viver o verdadeiro socialismo, através da fraternidade e igualdade.

E muita da vida se expressa na morte. Ao lado da família, junto do corpo de Dona Eloiza, velando carinhosamente, estava Deco, que ajudava na casa e nas campanhas como se filho fosse, e a exemplo dele ela deve ter deixado dezenas de órfãos. Escrevi falando no passado, mas a herança deixada por essa mulher admirável e a história dessa família e da casa por eles edificada não se apagará jamais! E como declarou o poeta: Agora resta a mesa na sala...mas, naquela mesa tá faltando ela... Eloiza, a mulher que tão bem soube exemplificar o verdadeiro amor ao próximo.


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