Que me Importa...

27/12/2017 00:00

O ano está indo embora. Muda o calendário, mas segue a vida. Os problemas de 2017, garanto, estarão presentes em 2018. O que pode dar a cada um deles nova significação serão suas atitudes. Não há nenhum tipo de magia na virada de um ano.

 

No dia 31 de dezembro, é praxe de algumas instituições e empresas fecharem para fazer balanço. Com muitas pessoas também é assim... Elas tentam fazer um encontro de contas com a vida, analisam a contabilidade dos dias, esmiúçam lucros e planos, perdas e danos, e chegam assim ao resultado da operação. Por vezes, ele é positivo, mas, não raro, acaba-se por perceber que o ano trouxe mais tristezas do que alegrias, deixando o saldo da conta no vermelho.

 

Quando isso acontece, nossas ambiências interiores são invadidas por aquele sentimento de fracasso, de vazio. Olhamos para trás e verificamos que não valeu a pena. Gastamos tempo, dinheiro, esforços, gastamos vida, e o retorno, simplesmente, não veio. Plantamos e não colhemos, amamos sem ser correspondidos, trabalhamos muito para pouco resultado, corremos e não conseguimos alcançar, choramos, mas não houve quem nos consolasse.

 

Contudo, estou decidido: não vou guardar nenhum tipo de sentimento ou alimentar qualquer tipo de pensamento que não seja argamassa para construir escadas e não muros. Em 2018, farei ainda melhor do que fiz em 2017! Trabalharei com mais paixão, servirei melhor as pessoas, gastarei mais tempo com meus amigos, aprenderei a sorrir mais e a reclamar menos, pois, que me importa se nem tudo saiu, exatamente, como eu queria?

 

Que me importa se eu amei e não fui correspondido? Amor é uma coisa que nunca se esgota, quanto mais a gente dá, mas ele em nós se renova. Além do que, o amor não faz balanço, nem acerto de contas, se há desigualdades, ganha sempre quem deu mais de si ao outro. Se você amou sem ser amado, se se doou e não foi compensado, se deixou-se gastar por quem não lhe deu o devido valor, que importa?! 

 

Que me importa se o governo me frustrou e deixou aquela sensação de que fui roubado? Creia, não será sua incompetência que irá me fazer sonegar, ou deixar de agir com responsabilidade. Seu descaso não me levará a burlar as leis ou desrespeitar a constituição. Pelo contrário, minha revolta será a minha fome e sede de justiça, minha indignação se revelará pela minha honradez, ainda que todos façam errado, e torçam para que dê errado, eu permanecerei fiel aquilo em que acredito. Farei uma revolução primando pela verdade, começando por mim mesmo, darei o exemplo de que agir de forma correta não é diferencial, é obrigação!

 

Que me importa que eu não tenha ganhado com minha profissão aquilo que entendo ser justo? É triste, mas eu sei que muitos estão terminando o ano mais pobres e endividados. Num mundo em que as pessoas são julgadas pelo que possuem e não pelo que são, é de desanimar.  É certo que eu ganhei menos do que merecia, mas com minha atividade ajudei a tornar a sociedade um pouco melhor. De uma coisa, todavia, estou absolutamente certo: busquei fazer o melhor que pude com os dons e habilidades que recebi. Nem sempre o resultado daquilo que fazemos é financeiro, por vezes, ele se traduz por um simples sentimento de dever cumprido.

 

Que me importa se eu me dei, se fui amigo, se agi com lisura, e não fui compensado ou mesmo compreendido? Eu sei que a ingratidão é coisa doída, que fere o ser com a aspereza do metal que rasga a carne, mas eu aprendi que é melhor dar do que receber. Como dizia a velha canção: ?amigos a gente encontra...?. Eu sei que dá medo abrir a casa e o coração, e mais medo dá quando tornamos alguém íntimo do nosso ser e ele nos rouba a privacidade de existir entre cortinas de ceda. Há os que te apunhalaram com o punhal da língua afiada, e os que te desprezaram em meio ao aguaceiro que caiu na escuridão da noite. Não te deixes abater pelo amor que te foi negado, segue resignado que o amanhã trará novamente o sol.

 

Que me importa se a minha fé parece utopia e as minhas crenças me levam a andar na contramão? Ora, não há prêmio sem lágrimas, nem vitória sem luta! Em meio a uma sociedade baseada na imagem, eu quero ser real, em meio a uma geração que deseja apenas ser feliz, eu quero ser perfeito, as voltas com um tempo onde consumir é a marca de existir, eu quero continuar repartindo. O Deus em quem acredito é diferente dos demais, ele chora, sorri e sangra. Abriu mão da sua glória para tornar-se homem comum. Não se parece com um super-herói, pois não sabe lutar, não tem uma armadura e sua única arma é o amor. O símbolo da minha fé não é uma espada, ou uma estrela, mas uma cruz. Eu sei: estou mesmo indo no contra-fluxo, mas a fé é mesmo absurdo...

 

E por tudo isso, e muito mais, que eu conto outro dia, feliz 2018 para você. Se 2017 não foi como você pensava, ou gostaria, na verdade, foi como deu para ser, foi como podia...