Redescobrindo a vida - Jornal Fato
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Redescobrindo a vida

Fadigados e focados no efêmero, por vezes, a vida nos impõe uma pausa


Nos dias atuais a vida é tão corrida que, quando nos damos conta, não somos os mesmos; os filhos cresceram demais e já não cabem no colo; nossos pais já perderam a flor da juventude e, apesar disso, exalam o mesmo amor por nós: suas crianças grandes.

Dias desses, minha filha de 08 anos ponderou que "esse ano está passando rápido demais". Fiquei entristecida por essa percepção vinda de uma criança. Lembrei-me de que, aos meus 08 anos, minha noção de tempo fazia-me crer que um ano durava uma eternidade.

Fadigados e focados no efêmero, por vezes, a vida nos impõe uma pausa; por vezes, nos silencia a alma e esvazia a mente. Nesse momento, sobressai o desejo de, largando tudo, ir ao encontro das pessoas que amamos, mas que, antes da parada forçada, esquecíamos de estar ao lado na medida e na quantidade que nos alegraria o coração. Isso porque nos deixamos ser reféns das obrigações.

Esse mês completa um ano que minha família enfrenta o desafio do câncer na vida da genitora; há 12 meses temos percebido que estar ao lado é o que mais nos edifica e, no fim das contas, o que mais importa. Essa experiência têm trazido novos valores à vida familiar.

Nesse lapso temporal no qual a vida nos impõe restrições e medos, temos tido um entendimento diferente do que é viver; temos percebido, apesar da dor, o valor da oração e do louvor; temos compreendido a importância de ser e de viver como Igreja.

Confesso que a busca por Deus sempre foi algo necessário à minha existência, mas, no último ano, entender Sua Palavra e aceitar Sua vontade se tornou questão de sobrevivência e, mesmo em meio aos desafios, Deus tem se revelado misericordioso e grandioso na vida da minha família e, com certeza, na de muitas famílias que, nesse momento, leem esse artigo.

Hoje tenho a certeza de que viver não é o mais importante se o caminho se constrói em meio ao vazio, ao ódio, à ganância, à falta de tempo para a oração e para a família. Afinal, a única certeza de que temos é a morte. E isso a ciência do homem pecador JAMAIS vai mudar!

Mesmo aqueles que já foram curados de doenças terminais ou que foram ressuscitados por Deus (o homem não tem como fazer isso) um dia enfrentaram ou enfrentarão a morte da carne. Isso é fato, pois dela ninguém escapou ou escapará. De todos os que passaram por essa vida, somente Jesus Cristo não ficou preso à morte material, pois não tinha pecado.

Todavia, neste artigo, rechaço a cultura do pessimismo, pois falo a verdade do meu coração, qual seja: normalmente, levamos a vida de modo avesso, trilhamos caminhos equivocados, construímos palácios vazios e, quando nos deparamos com a possibilidade do fim, nos rebelamos contra Deus e nos iramos contra o mundo.

Sabemos que estamos de passagem, mas teimamos em caminhar no superficial: viver como se a morte nunca fosse chegar; amar menos que poderíamos amar; guardar mais rancor que o peito poderia suportar; impor verdades egocêntricas; buscar religiões agradáveis às efêmeras vontades; encher o coração de soberba e, assim, esquecemo-nos de que, no fim das contas, a alma pesada não terá a leveza imprescindível a encontrar o caminho da vida eterna, viajam na qual, para os que creem, nenhuma das aquisições, aqui conquistadas, serão levadas.


Katiuscia Marins Colunista/Jornal Fato Advogada e professora

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