Medicina: dom de Deus - Jornal Fato
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Medicina: dom de Deus

Alguns dos males que, só de pensar, nos rasgam a alma, quando surgem, nos surpreendem com a força que de nós emana


Faz algum tempo, fui a uma consulta com ortopedista. Muito atencioso, o médico começou a conversar sobre minha rotina: se estava fazendo exercícios, o que é fundamental para quem tem problemas ósseos; se estava controlando o peso; como estava a ansiedade; etc. 

Por ser um médico humanizado, daqueles que fazem toda a diferença no tratamento, percebeu uma das minhas graves limitações: a ansiedade.

Até aí tudo bem. Consciente de que o estresse também causa dores diversas, fez-me uma simples pergunta que, antes de responder, confesso, fiquei engasgada, segue: "se Deus estivesse na sua frente agora e perguntasse: quem é a pessoa mais importante da sua vida? Mas só pode ser uma. O que responderia?"

Parei um pouco, em minha cabeça, um nó. Comecei a pensar: tenho dois filhos, esposo, pais, irmãos, ... Confesso que a dupla de filhos pesou na decisão, pois como poderia escolher um? Em meio aos pensamentos conflitantes, com certa dúvida, voz baixa e com uma timidez quase indagadora, respondi: eu!?

O médico disse: SIM. Você tem que ser a pessoa mais importante de sua vida, pois, se não estiver bem, não será boa mãe, esposa, profissional, etc.

Na hora os olhos lacrimejaram, mas entendi o que quis dizer. Jamais esqueci dessa consulta. Vi nesse profissional a essência da medicina. Essa profissão, tanto como do corpo, impõe o dever do cuidado com a alma. Afinal, uma alma enferma adoece o corpo e vice-versa.

Citada obrigação se intensifica quando a cura física já não é, humanamente, possível. Não é por acaso que a Bíblia relata que, um dia, todos precisaremos de um médico. Por certo, cuidar dos doentes é um dom divino, mas muitos ainda não entenderam isso.

Como tenho repetido nessa coluna, frequento, com certa assiduidade, o setor de oncologia/quimioterapia. Em meio a dor e aos visíveis danos físicos, fico, contraditoriamente, encantada com os indivíduos que, naquele lugar, tenho a graça de conhecer.

Isso porque tenho visto pessoas lindas que enfrentam o câncer, cujo tratamento é cruel, com alegria, que fazem a quimioterapia serenas, que não perdem a esperança e o otimismo.

Confesso que, quando acompanho minha mãe na quimioterapia, gosto de conversar com as pessoas que também recebem o tratamento. Até hoje só vi um senhor amargurado, pois enfrentava a solidão nessa batalha. Em geral, não ouvi reclamação ou murmuração por parte dos pacientes. Todos, especialmente as mulheres, com as quais tive a honra de conversar, revelaram aceitação, fé em Deus e coragem para enfrentar o embate físico necessário a cura, mesmo com risco desta não ocorrer.

Assim, a cada dia tenho ampliada a convicção de que "Deus dá o paletó conforme o frio" e, quando os males vêm, Ele faz algo que só quem vive o sofrimento consegue compreender. Alguns dos males que, só de pensar, nos rasgam a alma, quando surgem, nos surpreendem com a força que de nós emana.

Nesse enfrentamento, algumas coisas são essenciais: o amor próprio, o ser profundamente amado pelos seus pares; a oração e que a equipe médica, inclusive secretárias, seja instrumento divino para que, além dos cuidados com os sintomas físicos, cuidem, no mínimo, sendo gentis, dos sintomas espirituais. Imprescindível que cada paciente seja único e não apenas mais um.

Isso porque, mesmo leiga e ignorante no assunto, tenho a convicção de que uma alma bem cuidada encara com mais serenidade o embate físico imposto por certas doenças. E, o sentir-se amado, dá força para guerrear.

Enfim, a cada dia tenho mais convicção da existência de Deus. É quase visível que um Deus, tão grande, nos amou de tal modo que entregou seu único filho, também Deus, para nos justificar dos nossos pecados e, mesmo depois de morto e ressuscitado, ao voltar para junto do Pai, deixou o Espírito Santo consolador. Espírito Santo esse que, quando estamos no setor de quimioterapia ou onde há dor, se revela tão presente que faz sorrir até aquele que já não tem motivos para se alegrar.

 

Qual o seu melhor? O que tem de melhor para oferecer ao mundo?

 

Katiuscia Oliveira de Souza Marins

 

 


Katiuscia Marins Colunista/Jornal Fato Advogada e professora

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