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"Talvez seja Brasil: um país bonito por natureza, mas com uma parte de seu povo muito esquisita, para não dizer outro nome."


Ilustrativa

Se não for ironia, não sei o que é ... Talvez seja Brasil: um país bonito por natureza, mas com uma parte de seu povo muito esquisita, para não dizer outro nome.

Esquisita porque, desprendida de valores humanitários, morde e assopra ao mesmo tempo; beija e mata, bem como porque promete e desdenha em um único ato. Nesse sentido vale lembrar que, com fim de conter o "rombo previdenciário" - ou melhor, de cobrar do povo as sequelas da corrupção de seus "representantes" - o Congresso Nacional está na iminência de votar uma reforma previdenciária que dificultará, em muito, a vida do trabalhador brasileiro. Reforma esta que obrigará a massa hipossuficiente a trabalhar mesmo quando já bastante maltratada e fadigada. Isso porque a aposentadoria terá normas ainda mais difíceis de serem atingidas.

Apesar disso, na contramão do rombo existente nos cofres públicos, o Senado aprovou, na última semana, um aumento salarial de 16% para os ministros do Supremo Tribunal Federal e do procurador-geral de República. Com o reajuste, os vencimentos dos magistrados passarão de R$ 33,7 mil para R$ 39,2 mil. Assim, mais uma vez se quer cobrar do povo uma dívida, mas amplia-se o salário de uma minoria privilegiada.  

Embora esse aumento ainda dependa da sanção, portanto, da aprovação do Presidente da República, sua aceitação pelo Senado atual já demonstra o descaso com a realidade vivenciada pelo assalariado que dá seu sangue para receber R$954,00.

Registra-se que o aumento dos salários dos ministros gera o chamado efeito cascata nas contas públicas. Isso porque esse salário representa o teto do funcionalismo. Ironicamente, o povo, em sua grande maioria, tenta sobreviver com o salário mínimo que, por sua vez, não garante nem o mínimo necessário à manutenção da dignidade.

Difícil entender porque no Brasil somente a parte mais frágil da população deve pagar o preço para tentar cobrir os cofres públicos deficitários quando o rombo decorre da conduta inescrupulosa de uma minoria que age como se a vida não fosse passar e vive indiferente às necessidades dos que não estão presos aos seus próprios umbigos.


Katiuscia Marins Colunista/Jornal Fato Advogada e professora

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