Aquarela anual

Os meses do ano, se unidos, formam uma bela aquarela de conscientização

12/10/2019 07:30 / Atualizado em 11/10/2019 16:49
Aquarela anual

Os meses do ano, se unidos, formam uma bela aquarela de conscientização acerca da prevenção de doenças: Janeiro Branco (saúde mental); Fevereiro Laranja (leucemia) e Roxo (lúpus, fibromialgia e mal de Alzheimer); Março Azul (câncer colorretal); Abril Verde (segurança no trabalho) e Azul (autismo); Maio Amarelo (acidentes de trânsito) e Vermelho (hepatite); Junho Vermelho (doação de sangue) e Laranja (anemia e leucemia); Julho  Amarelo (hepatites virais e câncer ósseo); Agosto Dourado (aleitamento materno); Setembro Amarelo (suicídio) e Vermelho (doenças cardiovasculares), Outubro Rosa (câncer de mama), Novembro Azul (câncer de próstata) e Dourado (câncer infanto-juvenil) e, por fim, Dezembro Vermelho (AIDS) e Laranja (câncer de pele).

Algumas campanhas se sobressaem a outras, mas, em síntese, todas, representadas por meses e cores, têm como finalidade popularizar a importância da saúde preventiva, facilitar alguns exames e revelar os sinais emitidos pelo corpo quando está adoecendo.

A importância da consciência é intensificada quando os índices revelam um crescimento social de certas doenças ou de desencadeadores letais. Nesse sentido, importante reforçar que estamos no início da campanha chamada ?Outubro Rosa? e que o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) divulgou os números do estudo ?Estimativa 2018 de Incidência de Câncer no Brasil?. O documento aponta o registro de 600 mil novos casos de câncer por ano em 2018 e em 2019, o que é alarmante.

Diante das estáticas, todos, de algum modo, conhecemos alguém que foi acometido de algum dos males citados nas campanhas mensais. Assim, fica a pergunta: se a prevenção é tão importante, a população tem acesso fácil e rápido aos exames essenciais a prevenção e/ou a um diagnóstico precoce?

Há poucos dias, ouvi um médico oncologista informando que, principalmente, após os 50 anos de idade, alguns exames são essenciais e devem ser rotineiros, a exemplo: mamografia na mulher, colonoscopia a cada 3 ou 5 anos, exame de próstata no homem, ...

Na oportunidade, o especialista explicou que o cigarro, em todo o mundo, mata uma pessoa a cada 6 (seis) segundos, porém, a venda deste é legalizada.

Diante disso, meus olhos se abriram para muitas contradições existentes no Brasil, seguem algumas: o comércio dessa droga altamente mortal (cigarro) é legalizado; é altíssimo o índice de agrotóxicos permitidos; não há um controle alimentar adequado, o que aumenta o números de obesos; apesar de todos esses fatores serem causadores do câncer, eles são facilitados. Todavia, no que tange a entrega da saúde preventiva, o país enfrenta o caos. Isso porque alguns exames essenciais, quando requeridos, demoram meses, outros anos, de modo que, não raro, familiares recebem a ligação para agendar a data dos exames/procedimentos quando o paciente já morreu.

Vivemos em um país no qual, por vezes, o direito constitucional à saúde deve ser buscado via Judiciário e, mesmo com determinação judicial, a demora é comum.

Diante disso, confirmo a importância da aquarela, quase um belo arco-íris, que se revela na miscigenação dos meses de campanhas. Registro que admiro e me uno de corpo e alma ao trabalho voluntário em prol da conscientização preventiva, inclusive, porque selecionam grupos para fazerem alguns exames essenciais.

Contudo, pouco valia terá a consciência se o Estado não entregar a TODOS o direito integral à saúde, se não autorizar os exames/procedimentos necessários à prevenção a toda pessoa; se não inibir o excesso de agrotóxicos, se mantiver o consumo indiscriminado de cigarro. Como se prevenir se o Estado não dá condições e, pior, se corta os investimentos com a ciência cuja pesquisa é essencial à descoberta da cura e/ou de tratamentos menos sofridos?

Assim, penso que, além de conhecer o corpo e de saber quais exames devemos fazer, imprescindível que também passemos a lutar, junto aos representes do ?Estado?, pelo direito de receber a saúde preventiva e curativa que a Constituição Federal garante todos os meses do ano. Somente assim, além dos meses, nossas vidas, acinzentadas pela omissão estatal, também poderão experimentar a beleza das cores.