Aquarela anual - Jornal Fato
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Aquarela anual

Os meses do ano, se unidos, formam uma bela aquarela de conscientização


Os meses do ano, se unidos, formam uma bela aquarela de conscientização acerca da prevenção de doenças: Janeiro Branco (saúde mental); Fevereiro Laranja (leucemia) e Roxo (lúpus, fibromialgia e mal de Alzheimer); Março Azul (câncer colorretal); Abril Verde (segurança no trabalho) e Azul (autismo); Maio Amarelo (acidentes de trânsito) e Vermelho (hepatite); Junho Vermelho (doação de sangue) e Laranja (anemia e leucemia); Julho  Amarelo (hepatites virais e câncer ósseo); Agosto Dourado (aleitamento materno); Setembro Amarelo (suicídio) e Vermelho (doenças cardiovasculares), Outubro Rosa (câncer de mama), Novembro Azul (câncer de próstata) e Dourado (câncer infanto-juvenil) e, por fim, Dezembro Vermelho (AIDS) e Laranja (câncer de pele).

Algumas campanhas se sobressaem a outras, mas, em síntese, todas, representadas por meses e cores, têm como finalidade popularizar a importância da saúde preventiva, facilitar alguns exames e revelar os sinais emitidos pelo corpo quando está adoecendo.

A importância da consciência é intensificada quando os índices revelam um crescimento social de certas doenças ou de desencadeadores letais. Nesse sentido, importante reforçar que estamos no início da campanha chamada "Outubro Rosa" e que o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) divulgou os números do estudo "Estimativa 2018 de Incidência de Câncer no Brasil". O documento aponta o registro de 600 mil novos casos de câncer por ano em 2018 e em 2019, o que é alarmante.

Diante das estáticas, todos, de algum modo, conhecemos alguém que foi acometido de algum dos males citados nas campanhas mensais. Assim, fica a pergunta: se a prevenção é tão importante, a população tem acesso fácil e rápido aos exames essenciais a prevenção e/ou a um diagnóstico precoce?

Há poucos dias, ouvi um médico oncologista informando que, principalmente, após os 50 anos de idade, alguns exames são essenciais e devem ser rotineiros, a exemplo: mamografia na mulher, colonoscopia a cada 3 ou 5 anos, exame de próstata no homem, ...

Na oportunidade, o especialista explicou que o cigarro, em todo o mundo, mata uma pessoa a cada 6 (seis) segundos, porém, a venda deste é legalizada.

Diante disso, meus olhos se abriram para muitas contradições existentes no Brasil, seguem algumas: o comércio dessa droga altamente mortal (cigarro) é legalizado; é altíssimo o índice de agrotóxicos permitidos; não há um controle alimentar adequado, o que aumenta o números de obesos; apesar de todos esses fatores serem causadores do câncer, eles são facilitados. Todavia, no que tange a entrega da saúde preventiva, o país enfrenta o caos. Isso porque alguns exames essenciais, quando requeridos, demoram meses, outros anos, de modo que, não raro, familiares recebem a ligação para agendar a data dos exames/procedimentos quando o paciente já morreu.

Vivemos em um país no qual, por vezes, o direito constitucional à saúde deve ser buscado via Judiciário e, mesmo com determinação judicial, a demora é comum.

Diante disso, confirmo a importância da aquarela, quase um belo arco-íris, que se revela na miscigenação dos meses de campanhas. Registro que admiro e me uno de corpo e alma ao trabalho voluntário em prol da conscientização preventiva, inclusive, porque selecionam grupos para fazerem alguns exames essenciais.

Contudo, pouco valia terá a consciência se o Estado não entregar a TODOS o direito integral à saúde, se não autorizar os exames/procedimentos necessários à prevenção a toda pessoa; se não inibir o excesso de agrotóxicos, se mantiver o consumo indiscriminado de cigarro. Como se prevenir se o Estado não dá condições e, pior, se corta os investimentos com a ciência cuja pesquisa é essencial à descoberta da cura e/ou de tratamentos menos sofridos?

Assim, penso que, além de conhecer o corpo e de saber quais exames devemos fazer, imprescindível que também passemos a lutar, junto aos representes do "Estado", pelo direito de receber a saúde preventiva e curativa que a Constituição Federal garante todos os meses do ano. Somente assim, além dos meses, nossas vidas, acinzentadas pela omissão estatal, também poderão experimentar a beleza das cores.


Katiuscia Marins Colunista/Jornal Fato Advogada e professora

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