O Livro do João Moraes

Recebi o recente livro do João Moraes, "Planeta Ontem", Editora Cousa. Quase uma centena de páginas, as quais li de uma tocada só

28/12/2021 08:23
O Livro do João Moraes /Ilustração: Zé Ricardo
Como sempre faço, com uma caneta marcadora na mão, vou, enquanto leio, sublinhando as frases que mais me encantam. Do livro do João Moraes, são essas dezenove frases, quase crônicas, independentes cada uma delas, que seguem abaixo, negritadas:

?- Se o amor é o que se dá, o meu peito está cheio de tanto vazar. /// - A vida, quando acalma, está preparando o bote. Viver é uma tempestade sem aviso./// - Esse negócio de seca não é de hoje. /// - Auzílio... usava tristeza para tudo que não gostava /// - O coração dele é maior que esse rio. Às vezes quase seca, mas é grande feito trovoada./// - Mas os olhos dela, aqueles olhos de lago, diziam a verdade./// - Todo calor emana de Cachoeiro e em seu nome é exercido./// - A ocasião me obrigou ao destemor./// - Naquele dia me senti protegido e sabia que jamais estaria só na vida./// - Toda Folia de Reis carrega um heroísmo dramático.  ///- Não ?dianta? empurrar a água ?pronde? ela num quer ir.///

- Aí o que fala é o peito de cada um. A gente já nasce com muita coisa pronta, só precisa ?desembruiá?./// - Mas o que passei e senti não sai de mim./// - Ah! No meu tempo é que era bom! /// - É bom fazer xixi antes do pique esconde para não sentir vontade no esconderijo./// - Lembrar é bom./// - Todo bom boteco é um país de iguais onde nem a língua, nem a sede ou aparência separam ou discriminam./// - As boas biroscas são sim mais importantes que secretarias e ministérios quando se trata de preservação da identidade cultural e a redução dos abismos do afeto.///- Cineasta, músico, escritor? Que nada. Sou cozinheiro. Preparo as palavras na pressão até ficarem macias e suculentas. Gosto das palavras soltando do osso?.

Coroando tantas frases bonitas, vale transcrever, também, a impressão do colunista carioca Arnaldo Bloch: ? ?Cara, quem não leu Planeta Ontem do João Moraes leia logo. Quem não comprou, compre logo. Em uma hora e meia ele passa e é como se a vida recomeçasse, só que mais avançada e bela. É coisa de panteão de alta prosa poética, dá um orgulho danado. Como se um Ferreira Gullar do ?Poema Sujo? ressuscitasse, só que numa pena mais enxuta. Nível de Grande Mestre?.

 

 

Diminuir Cachoeiro???

(A crônica abaixo e o voto do Min. Dias Tófolli (STF), os publiquei em novembro/2013. Estranhamente ninguém falou nada sobre a matéria até hoje, oito anos passados. Parece-me, todavia, que o Tribunal de Justiça do Espírito Santo falará, fazendo cumprir a Constituição, desrespeitosamente descumprida em 2013, em desfavor de nosso Município ? mas ninguém falou nada até hoje).

?Confesso que não acreditei quando vi nos jornais de Cachoeiro a notícia espantosa de que a Prefeitura de Cachoeiro quer entregar à de Vargem Alta quase 100 alqueires de terra, na realidade 400 mil metros quadrados de ouro em pó, digo, de terrenos que pertencem ao nosso município, aliás, terrenos não, uma montanha de mármore branco, jazidas sem precedentes nessa quantidade em qualquer outro lugar, exceto nos subterrâneos solos que vão dar no município de Campos e nas imensas e festejadas jazidas de Carrara, Itália.

Pior de tudo ? se existe coisa pior do que a administração pública de um município entregar seu território a outro, é que a coisa ? a se fiar nos jornais ? vem desde janeiro de 2010, em negociações sem divulgação pública.

O Sr. Prefeito de Cachoeiro ainda tem tempo de estancar a marcha dos absurdos acontecimentos, simplesmente tirando da Câmara Municipal de Cachoeiro esse projeto catastrófico para Cachoeiro. O terreno que se quer dar, tem, enterradas, riquezas que quanto mais exploradas, mais royalties do mármore trarão, mais tributos serão arrecadados para os combalidos cofres públicos de Cachoeiro, como o prefeito não se cansa de repetir que são.

Dizem até, que o projeto tramita em regime de urgência ? espero que não, que seja apenas mais um boato, embora se saiba que quem erra sempre erra pra valer. De qualquer forma, ainda existem outras razões para o Sr. Prefeito mandar parar o que mandou fazer: a transferência de territórios de Cachoeiro para Vargem Alta, vez que a Constituição Federal é muita clara ao determinar que essas ?transferências? de terra, essa modificação de fronteiras municipais só podem ocorrer após plebiscito onde deverão ser ouvidas ambas as populações (de Cachoeiro e de Vargem Alta). E a reprovação unânime dos eleitores e moradores de Cachoeiro a esse deslize técnico-político será tão grande que o cabedal de votos conseguidos pelo Sr. Prefeito nas duas últimas eleições em que se sagrou vencedor, irá por água abaixo, tal qual descem as águas da imponente Cachoeira do Rio Fruteiras, por sinal bem perto da área que se quer transferir,se não estiver dentro.

Pense nisso, caro Prefeito Casteglione; por mais que se queira ajudar o município vizinho, isso não se faz no silêncio, isso não se faz sem transparência, simplesmente isso não se faz.

É certo que ? como todos os governos ? o governo Casteglione vai sendo moído pela perda de representatividade popular. Acontece com todo mundo que está no poder e não é nada demais; mas perdê-la por essa imensa bobagem incrustada num projeto de lei tão ridículo, isso passa dos limites do razoável e da inteligência mediana.

Podemos sim, colaborar com municípios vizinhos e os demais da Região Sul, intensificando o comércio e o turismo interno e compartilhado com o externo, mas não precisamos cometer atos ridículos como esse?.

(Em tempo: - o mesmo fato, com os mesmos erros, foi derrubado pelo TJES, quanto à mesma doação de terra de Cachoeiro para Atílio Vivacqua ? e vem mais por aí).

 

Desmembramento de Municípios

 Dias Tófolli escreveu - A realização de plebiscito abrangendo toda a população do ente a ser desmembrado não fere os princípios da soberania popular e da cidadania. O que parece afrontá-los é a própria vedação à realização do plebiscito na área como um todo. Negar à população do território remanescente o direito de participar da decisão de desmembramento de seu estado restringe esse direito a apenas alguns cidadãos, em detrimento do princípio da isonomia, pilar de um Estado Democrático de Direito.

Sendo o desmembramento uma divisão territorial, uma separação, com o desfalque de parte do território e de parte da sua população, não há como excluir da consulta plebiscitária os interesses da população da área remanescente, população essa que também será inevitavelmente afetada. O desmembramento dos entes federativos, além de reduzir seu espaço territorial e sua população, pode resultar, ainda, na cisão da unidade sociocultural, econômica e financeira do Estado, razão pela qual a vontade da população do território remanescente não deve ser desconsiderada, nem deve ser essa população rotulada como indiretamente interessada. Indiretamente interessada - e, por isso, consultada apenas indiretamente, via seus representantes eleitos no Congresso Nacional - é a população dos demais estados da Federação, uma vez que a redefinição territorial de determinado estado-membro interessa não apenas ao respectivo ente federativo, mas a todo o Estado Federal.

O art. 7º da Lei nº 9.709, de 18/11/1998, conferiu adequada interpretação ao art. 18, § 3º, da Constituição, sendo, portanto, plenamente compatível com os postulados da Carta Republicana. A previsão normativa concorre para concretizar, com plenitude, o princípio da soberania popular, da cidadania e da autonomia dos estados-membros. Dessa forma, contribui para que o povo exerça suas prerrogativas de cidadania e de autogoverno de maneira bem mais enfática. (Dias Toffoli é Ministro do STF e esse texto é da ADIN-2650).