Conexão Mansur: Revivendo a Praça Jerônimo Monteiro, ou "Eu tive um sonho"

Esses aspectos do meio urbano como lazer e socialização foram muito bem aproveitados por diversos governantes

17/10/2024 10:00
Conexão Mansur: Revivendo a Praça Jerônimo Monteiro, ou "Eu tive um sonho" /Ilustração: Zé Ricardo

(Texto publicado em Outubro/2004 ? Revista 7 Dias)

Em recente entrevista concedida à revista CARTACAPITAL, o presidente do BNDES, economista Carlos Lessa, relatando sobre planos de desenvolvimento urbano, tocou em ponto aparentemente simplório, mas muito importante: a utilização das praças como área de lazer e socialização.

Esses aspectos do meio urbano como lazer e socialização foram muito bem aproveitados por diversos governantes, como Jayme Lerner em Curitiba e Roberto Valadão, em Cachoeiro de Itapemirim, entre outros.

Para Carlos Lessa, o fortalecimento da estrutura das praças para as atividades de lazer e socialização, acaba por, também, desenvolver o pequeno comércio, dando visibilidade a artesãos, artistas, comerciantes e autônomos, criando condições bem maiores de desenvolvimento urbano.

O que Carlos Lessa fala no alto escalão do planalto, observo aqui, na planície. Quando Secretário de Cultura e Turismo do município, em conjunto com um excelente grupo de artesãos, conseguimos colocar em funcionamento a Feira de Artesanato, na Praça Jerônimo Monteiro (hoje funciona no Guandu). A Prefeitura deu (e dá - 2004) barracas e infraestrutura ? montar e desmontar barracas.

A sugestão que faço ao futuro secretário de cultura e turismo é simples. Vamos voltar (aos sábados e domingos) com a Feira de Artesanato para a Praça Jerônimo Monteiro. Vamos dar treinamento e aumentar o número de artesãos e de barracas. Vamos voltar com o ?Pintando na Praça?; vamos por música no palanque ali armado; vamos levar para a praça os pratos típicos da região, os carros chefes dos bares ? por que não a moquequinha do Katatas ou o bife-com-queijo do Gambá? Vamos mostrar a cachaça de Burarama; vamos servir o café do Mourads. E mais, vamos piar os pios artesanais do Maurílio Coelho. Vamos vender os cartões postais do Bandeira (GrafBand). Vamos montar uma banca de revista. Colocar para funcionar, e a pleno vapor, o CENCIARTE, tão quietinho, hoje. Mais ainda, quem sabe, trazer a Biblioteca Municipal para o CENCIARTE, abrindo espaço para as ?coisas dos Braga? aparecerem e resplandecerem lá na casa deles. Vamos voltar com o Bonde da Cultura, ônibus que ganhamos para correr a cidade com a criançada, mostrando a elas nossos pontos históricos, culturais e turísticos, e que também servirá para despejar a criançada na Praça.

Enfim, façamos viver a Praça Jerônimo Monteiro, onde cabe tanta coisa e está meio-morta-meio-viva. ?É uma estrutura que você encontra em cidades europeias estabilizadas?, diz Carlos Lessa.

Sonho ver casais de namorados, sentados nos muitos bancos da praça, um lendo poesia ou prosa para o outro; olhares se cruzando, pessoas conversando. Sonho com crianças divertindo, pintando o sete, aprendendo, todos, a amar Cachoeiro. Não pode ser sonho. E está muito perto para se transformar em realidade.

 

Sobre a Feira de Artesanato

(Texto publicado na Conexão Mansur nº 10 - Outubro/2004)

Há três anos (2001), a Secretaria de Cultura e Turismo adquiriu 50 ou 60 barracas padronizadas, para serem utilizadas na Feira de Artesanato, que vagou pela Praça Jerônimo Monteiro, pelo calçadão da Beira Rio e, agora, está na Rua Joaquim Vieira, no Guandu. Como contribuí para o funcionamento da Feira e por ela dedicar especial carinho, pois é o maior escoadouro da arte dos artesãos, venho acompanhando o desenvolvimento dela. Incógnito, até onde possível, estive por lá, no último sábado (2004). Deu pena. Estava às moscas. Um e outro comprador e tão só 19 artesãos atendendo.

A ideia inicial, que me parecera boa (a Rua Joaquim Vieira era bastante movimentada), não correspondeu à realidade. Armaram-se os toldos e sumiu o movimento, porque o movimento era de muitos veículos e poucos pedestres.

No início da Feira (2001), existia excesso de artesãos em relação às 50 ou 60 barracas, havendo até seleção para escolher quem as utilizaria; sobram barracas agora ? dois terços dela; só 19 foram armadas no último fim de semana. Segundo apurei, os demais artesãos, à falta de movimento, foram se afastando e há possibilidade de mais deles se afastarem, matando a Feira por inanição.

A nova Administração Municipal deveria se comprometer com os artesãos, tomando as seguintes medidas: Primeira ? voltar com a Feira de Artesanato para a Praça Jerônimo Monteiro, ou para a Praça de Fátima (sugestão de uma das artesãs: se for para a Praça de Fátima, que seja, também, à noite e nos fins de semana, quando a praça lota(va) de gente). Segunda ? dar treinamento aos artesãos, tanto em suas respectivas artes, como em noções de mercado, custos, formação de preço de venda, importância das embalagens, relacionamento com o cliente etc. Terceira ? após essas medidas, garantidos mercado e qualidade, acionar o Banco do Povo para atender às necessidades de investimento dos artesãos, necessidades algumas que surgiriam da própria evolução da visão empresarial deles. (Atenção, é o banco que deve ir atrás do povo, e não o povo atrás do banco. O povo, geralmente honesto, foge dos bancos, geralmente, pois é...). Quarta ? cadastrar e registrar os artesãos, para que eles, com qualificação e identidade profissionais, possam aparecer melhor no mercado. Quinta ? selecionar os melhores artesãos e patrocinar viagens para participarem de Feiras Nacionais de Artesanato, não só como forma de prestigiá-los, como, principalmente, permitir que eles interajam com outros artesãos e com técnicas mais avançadas. O que sobrar, deixem por conta dos artesãos ? eles saberão fazer melhor do que nós.

 

Colorir da Vida

Stephanie Karla Darós

Acordava de manhã, arrumava o cabelo e se coloria de corpo inteiro. Mas, por detrás daquelas cores, estavam cicatrizes e feridas disfarçadas. Suas emoções eram deixadas no porta joias, dentro de casa.

 

Sua nudez era invisível aos olhos coloridos. Mas era perceptível aos olhos incolores. Talvez porque eles enxergavam a vida com mais realidade. Sem se deixar levar pelas tintas falsas. Se preocupava em manter a cor brilhante ao longo do dia.

 

Mas, muitos tentavam tapar o sol para que realmente a cor dela se apagasse.

Era um problema toda vez que isso acontecia. Pois sua nudez não era mais escondida. E as feridas não passavam despercebidas.

 

Nesse momento, as emoções fugiam do porta jóias. E magicamente se instalavam em seu coração. Melancólico, seu rosto ficava. Ela não queria contar mentiras. Mas também sabia que o mundo não precisava de suas feridas.

 

Então, de repente, aparecia um pintor. Trazendo a cor apagada. E qual não era o sorriso no rosto. De ver as suas cores novamente restauradas.

(Stephanie é escritora e advogada. Escreve desde criança e no site Recanto das Letras - https://www.recantodasletras.com.br/autores/skdaros).