Conexão Mansur: Maquiavel continua ensinando

Sempre desmerecendo o presente, valorizando abusivamente o passado e esquecendo que, logo ali, na esquina, o futuro já se anuncia

01/07/2024 09:23
Conexão Mansur: Maquiavel continua ensinando /Ilustração: Zé Ricardo

Nós (estou me referindo a praticamente todos nós), temos o mau costume de valorizarmos frequente e abusivamente coisas do passado ao mesmo tempo em que desmerecemos as coisas do presente. Com frequência ouvimos dizer:

- ?Antigamente é que era bom! Hoje não se faz como se fazia antigamente! Bons tempos aqueles, hoje é tudo lixo?!

E, com facilidade, poderíamos reproduzir dezenas de frases do tipo, sempre desmerecendo o presente, valorizando abusivamente o passado e esquecendo que, logo ali, na esquina, o futuro já se anuncia, trazendo, ou não, a satisfação de nossos desejos e a possibilidade de acertarmos ou, ao menos, uma maior facilidade de se chegar ao acerto.

Revisando minha trajetória ? tenho 76 anos ? fazem muitos anos, eu também tinha esse mau costume, que vem da constante repetição de fatos vividos.

Creio que a primeira vez que vi que o passado nem sempre era a beleza estonteante a que sempre nos referimos, foi após 22 de novembro de 1994, dia do aniversário de 70 anos de minha mãe, Maria Evangelina Mansur. Dia em que, ao invés de presenteá-la, fui presenteado por ela, como uma BÍBLIA NA LINGUAGEM DE HOJE, da Sociedade Bíblica do Brasil, edição de 1988.

Foi lá, nessa Bíblia, em que eu folheava aleatoriamente, que cheguei ao Eclesiastes, 7;10 ? aonde está escrito: - ?Nunca pergunte: - Por que será que antigamente tudo era melhor? Essa pergunta não é inteligente?.

Imediatamente fui a uma versão mais antiga da Bíblia, e encontrei este texto, na mesma direção e fui juntando mais bíblias; praticamente todas usam a mesma expressão/conclusão, coisa que eu não havia captado.

Passados tempos, e põe tempos nisso, fui em minhas leituras de Maquiavel, para além de O PRINCIPE, outro de meus livros de cabeceira.

E foi lendo o livro ?Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio?, de Maquiavel, que consolidei meu pensamento, do quanto é equivocado SÓ bendizer o passado. O texto de Maquiavel é este:

- Os homens elogiam o passado e se queixam do presente, quase sempre sem razão. Partidários cegos de tudo o que se fazia outrora, louvam épocas que só conhecem pelos relatos dos historiadores; e aplaudem o tempo da própria juventude, conforme a lembrança que lhes ficam na velhice. Quando se equivocam, como acontece quase sempre, isso se deve a várias razões. A primeira é a de que não se pode conhecer toda a verdade sobre os acontecimentos da antiguidade; muitas vezes se oculta o que poderia trazer desonra aos tempos passados, enquanto se celebra, e amplia, tudo o que acrescenta à sua glória. Ocorre também que os escritores, em sua maioria, seguem a sorte dos vencedores?.

A lição que aprendi é a de que passado, presente e futuro andam de mãos dadas, uns dependem dos outros, temos que estar atentos aos três e quem não compreende o trio, geralmente, não sabe de nada.

 

Quem Foi Fernando de Abreu?

(Este texto meu é publicado no sentido de chamar a atenção dos cachoeirenses para que dediquemos um pouco de tempo e estudo aos personagens ? públicos ou não ? de nossa terra amada).

Fernando de Abreu, quase todos sabemos ? ao menos isso sabemos ? dá nome à principal ponte sobre o Rio Itapemirim, no centro de Cachoeiro. Além disso, e poucos sabemos, foi Prefeito da cidade e importante político por volta da ditadura getulista ? antes e depois.

Afora isso, eu mesmo não tenho conhecimento de outras atividades e/ou atuações dele, realizadas e/ou escritas em documentos públicos. Mas tenho informação definitiva sobre ele, a partir do que ouvi, de viva voz, do meu inspirador na coisa pública, o Professor Deusdedit Baptista ? Fernando de Abreu era um homem do bem, me ensinou o Prof. Deusdedit.

Mas no mais que esgotadíssimo livro de entrevistas de autoria de Marco Antonio de Carvalho, edição de 2005, o ?Memórias de Cachoeiro?, seu nome é citado diretamente em nove das entrevistas de cachoeirenses importantes, contemporâneos dele.

Segue abaixo o que dele disseram esses cachoeirenses entrevistados.

Abaixo as respostas de cachoeirenses contemporâneos de Fernando de Abreu.

Adelson Moreira ? Fernando de Abreu era atrasado. Ele era autoritário, um déspota, um homem violento, fruto de Getúlio Vargas.

Dalton Penedo ? Era truculento e autoritário. Fui vereador integralista.

Guilherme Tavares ? Fernando de Abreu podia ser o que fosse, não era totalmente um democrata, mas dava assistência social aos estudantes pobres e eu era pobre. Ele era muito rígido. Mas não perseguia ninguém.

Margarida Vivacqua ? Fernando de Abreu era valentão, era bravo. Tinha cara de bravo.

Nélson Sylvan ? Era zangadão, violento, gostava de mandar. Mas foi um grande prefeito.

Deusdedit Baptista ? Fernando de Abreu foi um dos maiores prefeitos que Cachoeiro já teve. Mas é verdade que era um coronelzão, era duro com os adversários. Comigo sempre foi correto.

Francisco Madureira ? Era bravíssimo, não era homem de muitas palavras, não era de cultura, nem educado.

Nilo Neves ? Ele foi um homem empreendedor, que fez muita coisa pela cidade. Para mim, Fernando de Abreu foi o maior prefeito que Cachoeiro já teve.

Olga Rubim ? Era um homem bravo, mas justo.