Conexão Mansur: Grandes Cachoeirenses

A ministra Carmen Lúcia utilizando-se da poesia trouxe toda a luz para nossa terra

24/08/2023 13:59
Conexão Mansur: Grandes Cachoeirenses /Ilustração: Zé Ricardo
 

A visita ao Espirito Santo, da Ministra do Supremo Tribunal Federal, Carmen Lúcia, que não é dada a falar fora dos autos, foi uma grande lição de cidadania, que veio ao encontro da nossa Cachoeiro de Itapemirim, em favor de nossa cidade e respeitosamente, diga-se logo. A ministra, falando a verdade, utilizando-se da poesia, e não do excesso, trouxe toda a luz para nossa terra e enriquece-se, ela, também, nas suas qualidades literárias e culturais.

Vendo a imagem dela, falando com o coração sobre a realidade de nosso Cachoeiro, voltei no tempo e à Revista O GLOBO, edição de 03 de fevereiro de 2013, com capa inteira e mais seis páginas merecidamente elogiosas a... Cachoeiro, assinadas pela respeitada jornalista Mariana Filgueiras, que veio, ao vivo, a Cachoeiro. Veio ao vivo a Cachoeiro e, ao vivo, viu em Cachoeiro que aquilo que parecia ?história pra boi dormir?, na realidade era verdade verdadeira.

Leiam o que a jornalista Mariana disse, abrindo sua belíssima matéria jornalística: - ?Se houvesse um concurso para eleger ?a cidade brasileira com mais filhos ilustres?, a pequena Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, levaria com folga. Entre os 5.570 municípios brasileiros, difícil encontrar outro interiorano (capital é covardia, ora) que tenha gerado tantas figuras notórias para o país. Talvez Sobral, no Ceará, se aproxime em quantidade (terra do cantor Belchior, do humorista Renato Aragão, do artista plástico Zenon Barreto e do cineasta Luiz Carlos Barreto, o ?Barretão?). Mas somente a pacata cidade capixaba viu nascer elenco tão sortido do folclore nacional, a ponto de receber de Vinicius de Moraes o epíteto de ?Capital Secreta?. São cachoeirenses o cantor e compositor (e Rei) Roberto Carlos; o mais importante cronista brasileiro, Rubem Braga; o compositor Sérgio Sampaio; a atriz naturista Luz Del Fuego; o produtor musical e diretor Carlos Imperial; o ator Jece Valadão (que foi criado lá, apesar de ter nascido em Muqui) e a atriz Darlene Glória. Também viveram por lá as irmãs Danuza e Nara Leão?.

E apesar da imensa relação de cachoeirenses citados, ainda ficaram de fora de citação na matéria da revista do Globo: - Newton Braga, Raul Sampaio, Arnoldo Silva (Menininho), Marly de Oliveira, Marcos Levy, Marcos Rezende, Rubão Sabino e outros (claro). A matéria de Mariana Filgueiras, dez anos passados, continua belíssima, ainda que ela ?denuncie?, em manchete, na capa da revista: - ?ILUSTRES DESCONHECIDOS ? Um perfil de Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, cidade natal de Rubem Braga, Roberto Carlos e Carlos Imperial, entre outros, que pouco faz pela memória de seus filhos pródigos?. Como eu disse, repito, a matéria de Mariana é belíssima, nada obstante tudo o mais.

E quem sabe Carmen Lúcia, Ministra do STF, um dia chegue a Cachoeiro, pra conhecer efetivamente nossa terra e mais gente nossa!!

 

MENINOS, EU LI

(Texto que publiquei na CONEXÃO MANSUR nº 1 (estamos na nº 764). Passados 19 anos da Conexão e 215 anos da publicação do ?Correio Braziliense?, continua a mesma coisa??)

O ?Correio Braziliense?, sabemos, é jornal do antigo Diários Associados, publicado hoje em Brasília (bom jornal, reconheça-se) e também é o primeiro jornal brasileiro independente, curiosamente publicado em Londres, a partir de 1808. Surpresa para mim, na verdade o ?Correio? não foi jornal como os dos tempos presentes. Foi, sim, fascículos mensais, com 70 ou 80 páginas, que permitiam encadernação futura, aliás, como se fez em edição em fac-símile, de 30 volumes, publicada pela Imprensa Oficial de São Paulo.

O objetivo deste ?Meninos eu Li? é trazer textos lidos por mim, os quais achei interessantes e foram objeto do meu marca-textos amarelo. E é da pag. 120 do antigo ?Correio?, de julho de 1808, portanto o número 2 do jornal, que retiro o seguinte texto, bastante atual, apesar de seus mais de duzentos anos:

?Quando os indivíduos de uma nação cometem impunemente os crimes, ou violam as leis da decência, e do pudor, sem que a voz pública os condenem à infâmia, então essa nação pode chamar-se corrompida, e as ações do indivíduo infamam o total da sociedade. Não é, porém, assim quando o criminoso é exposto à infâmia, e o devasso censurado pelos homens bons?.

O texto também serve para explicar o que é um clássico. Clássico é tudo aquilo que transcende ao seu tempo e cabe em qualquer outro. Que pode ser lido décadas depois de escrito e é capaz de emocionar, ainda. Daí porque Hipólito José da Costa, o editor, e o velho ?Correio Brasiliense? são clássicos dos clássicos da literatura jornalística brasileira. Meninos, eu li.

 

Salve o Professor Deusdedit Baptista

Quando se trata de homenagear essa legenda que é o Professor Deusdedit, nenhuma palavra sobrará, nenhuma palavra será excesso. Faltará, sim, intérprete suficiente a cobrir com meras palavras a trajetória desse gigante de Cachoeiro. Gigante que maior se torna, quando tem a ?contrastar? com ele socialistas da escol de Newton Meirelles, Gilson Carone, Elimário Imperial, Newton Braga, Rage Miguel e tantos outros que terão seus nomes relembrados sempre.

Fácil, em algumas épocas, é ser grande. É fácil, quando o tempo é de degradação, de diminuição, de pequenez, de covardia. Qualquer um, que faça um quase nada, já terá feito alguma coisa. Quero ver é fazer o que o Prof. Deusdedit fez. Grande entre os grandes, grande por décadas e décadas.

Maquiavel, em 1513, disse que ?da minha fé não se deveria duvidar, porque tenho sempre observado a fé, não vou agora rompê-la; e quem foi fiel e bom quarenta e três anos não deve poder mudar sua natureza; e da minha fé e bondade é testemunho a minha pobreza. ?

Que dizer, então, do Professor Deusdedit, do alto do tempo que Deus lhe tem dado para viver? Nada mais do que dizer com simplicidade: Socialista de corpo e alma. Prega o que vive. Vive o que prega. O Professor Deusdedit, durante toda sua vida, foi homem da verdade e da justiça. Pagou caro por isso. Paga agora, neste momento (1999), sabemos.

Sócrates, julgado pelo poder ateniense, conheceu a morte e disse: - ?Achei de meu dever correr perigo ao lado da lei e da justiça, em vez de estar ao lado de uma decisão injusta, por medo da prisão e da morte. Não cometer nenhuma injustiça ou impiedade, a isso sim dou o máximo valor. A mim, aquele governo, poderoso como era, não conseguiu forçar-me a uma injustiça. ?

O Professor Deusdedit só pode ser confrontado com homens do espírito crítico e perspicácia de um Maquiavel, ou do senso de justiça e dever de um Sócrates.

Aí está o perfil de um socialista.

Não é ao Prof. Deusdedit que homenageamos. É sua dignidade que homenageia a nós, socialistas. Obrigado. Obrigado Prof. Deusdedit.

(Discurso que fiz na presença do Professor Deusdedit, em 03/03/1999, homenageando-o, aqui com pequenas alterações não fundamentais. Professor Deusdedit nasceu em Pureza, RJ (30.08.1912) e morreu em Cachoeiro (04.11.1999), aos 87 anos de idade, menos de um ano depois dessa homenagem que está guardada em meu coração).