Conexão Mansur: "Faltam Livros Para Contar Nossa História"

Com o título aí de cima, nosso jornal Espirito Santo de Fato, em comemoração ao dia 25 de março (na página 4), trouxe excelente e verdadeira reportagem a propósito dos livros que contam a história de nosso Município.

04/04/2023 10:15
Conexão Mansur: "Faltam Livros Para Contar Nossa História" /Ilustração: Zé Ricardo

Pena que, ao abordar a verdade dos fatos, teve que reconhecer que ? como diz o título da reportagem - Faltam Livros Para Contar a História ?, o que é verdade absoluta que depõem muito contra nossa cultura, nossa história, nossas bibliotecas.

E ao relatar a falta de livros na Biblioteca Municipal, a matéria do FATO apresentou dois livros fundamentais e atualíssimos (o de Evandro Moreira, ?Cachoeiro ? Uma História de Lutas?, e o do Professor Manoel Gonçalves Maciel, o ?Voltando ao Cachoeiro Antigo?), ambos em dois volumes magistrais.

Só que ? ao que sei ? pode não existir mais que um exemplar de cada na biblioteca municipal, no máximo dois, de cada um deles, o que será demérito monumental e boa maneira de nossos leitores cachoeirenses desconhecerem a história da... Capital Secreta do Mundo.

Aqui nesta página, hoje, estou publicando o prefácio (?orelha? do livro) que escrevi para o livro de Evandro Moreira, ?Cachoeiro ? Uma História de Lutas?, a 23 anos passados, quando eu ainda era Secretário de Cultura do Município.

Na próxima Conexão Mansur, vou publicar o prefácio (texto de ?apresentação? do segundo volume do também clássico livro do Professor Manoel Gonçalves Maciel, o ?Voltando ao Cachoeiro Antigo?, que escrevi a 20 anos passados, quando já era ex-Secretário de Cultura).

Faço isso, na expectativa de que atual administração municipal de Cachoeiro, ou a futura, procure o Evandro e os herdeiros do Prof. Maciel, para reeditarem essas obras fundamentais de nossa História, esgotadíssimas e cuja fraca existência na Biblioteca Municipal de Cachoeiro é ofensa à nossa Cultura.

 

Cachoeiro ? Uma História de Lutas

(Publicado inicialmente como ?orelha? do livro ?Cachoeiro ? Uma História de Lutas ? Vol. 1?, do escritor Evandro Moreira ? ano 2000).

- ?Minha Terra e Meu Município?, de Antonio Marins (1920), sempre foi o tronco frondoso no qual todos os historiadores das coisas de Cachoeiro vão sugar a seiva para escrever e detalhar pontos da história cachoeirana. Não há até hoje obra de importância sobre os fatos cachoeirenses, cujo autor não tenha se abeberado na fonte inesgotável de Marins.

Algumas obras importantes vieram após aquele tronco frondoso. A de Newton Braga, a do Prof. Domingos Ubaldo (1928), as de Levy Rocha, as do Professor Paulo Herkenhoff, o ótimo ?Voltando ao Cachoeiro Antigo? (1999), de Manoel Gonçalves Maciel, esparsos de Joaquim Pires de Amorim e, mesmo, muitas obras de Evandro Moreira.

Agora, para florescer ao lado do ?Minha Terra e Meu Município?, de Antonio Marins, ou seja, também como um novo tronco frondoso no raiar de novos século e milênio, aparece esse taludo ?Cachoeiro Uma História de Lutas?, sub-entitulado ?Resenha Histórica do Município de Cachoeiro de Itapemirim?. Extenso, profundo e interpretativo, esclarecendo vários pontos duvidosos de nossa História. Tão denso em informações que não coube em um solitário volume; serão dois, diz o autor.

Esta obra de Evandro Moreira, que deverá ser a melhor que ele produziu (muito embora já assim me tenha referido a outras obras suas) tem a inigualável marca de pesquisa mais monumental que empreendeu. Suas fontes são primárias, com quem fez a História, fruto de entrevistas com antigos moradores e da expedição a velhos e amarelecidos jornais e revistas de época. São, também, fruto de pesquisas em outras fontes, ?a fatos narrados por outros cronistas, alguns com divergências, outros apenas repetidos, o que é natural em narrativas históricas?, como Evandro faz questão de registrar na sua ?Explicação Necessária?, na abertura do livro. E sua ideia foi registrar o lento desenvolver de nossas comunidades, enfocando momentos do cotidiano do povo, personalidades políticas ou cidadãos comuns, pessoas humildes que, de uma forma ou outra, contribuíram para a construção da ?Princesa do Sul?.

Não creio que deva mais acrescentar a estes comentários, exceto o fato de que há, realmente, uma felicidade em viver em época em que sejam colocadas à disposição do público tantas e importantes informações históricas de nossa região, como alento para que possamos estudar a História não como farsa e só jogos de homens, mas como poderosa fundação para o Futuro que nos compete construir. (Texto que escrevi quando Secretário de Cultura e Turismo de Cachoeiro, ano 2000)?.

 

Maria Laurinda Adão

 

 

Maria Laurinda Adão é Mestra do Grupo de Caxambu Santa Cruz, da Comunidade Quilombola de Monte Alegre, Pacotuba, município de Cachoeiro de Itapemirim. É artesã (bordadeira), parteira, coveira, mãe de santo, líder comunitária e muito mais. E é Mestra da Cultura Popular pela Lei João Inácio (Cachoeiro); pela Mestre Armojo (Espirito Santo) e pelo IPHAN (Governo Federal).

É de inteligência absurdamente alta. Utilizando-se de todas as atividades e qualidades descritas no parágrafo superior, haveria de ganhar e acumular muito dinheiro e bens para si mesma, durante a vida inteira, vida que prazerosamente e com muita alegria já se estende por quase 80 anos, desde o seu nascimento.

Ela preferiu o caminho oposto; preferiu dedicar-se gratuitamente a seu povo, à sua comunidade, como faz em tudo o que está descrito acima. Suas qualidades nos fazem repetir com outras palavras: - junto aos que sofrem, junto aos que tem religião diferente das tradicionais, à frente dos necessitados de sua comunidade, na ?arte do artesanato?, e em tudo mais, cumpre sua bela e honrosa missão de forma inigualável.

É das figuras mais ilustres da região, mesmo considerando aquelas que se apresentam com solidariedade e com o coração.