Conexão Mansur: Casimiro de Abreu, Poeta

"Casemiro de Abreu, através de seus manuscritos". Livro organizado por Mário Alves de Oliveira, em cuja página 84 está a poesia abaixo, manuscrita em 4 de dezembro de 1858

13/09/2024 07:56
Conexão Mansur: Casimiro de Abreu, Poeta /Ilustração: Zé Ricardo

Recebemos de um irmão, Uberlan, um mais que especial livro de poesias, histórico, reproduzindo manuscritos de autoria do consagrado poeta Casimiro de Abreu, intitulado ?Casemiro de Abreu, através de seus manuscritos?.

Livro organizado por Mário Alves de Oliveira, em cuja página 84 está a poesia abaixo, manuscrita em 4 de dezembro de 1858.

Pareceu-me ter sido escrita hoje, a poesia, dada sua atualidade flagrante, conforme pode ser examinada.

Obrigado irmão Uberlan.

 

Nas horas mortas da noite

Nas horas mortas da noite,

No ermo da solidão,

Engana o rei o Ministro;

Sonha ser conde o Barão,

Gasta a vida o libertino,

Dorme no berço o menino,

Vela a mãe pelo seu filho,

Canta alegre o gondoleiro,

A estrela perde o seu brilho,

A cortesã nas orgias

Dá um beijo por dinheiro;

Dorme o morto no jazigo,

Morre de fome o mendigo,

Espalha o rico o seu ouro,

Engana a esposa o marido,

Sonha o avaro um tesouro

Sonha a coquete uma fita

A namorada um capricho,

Só o poeta - medita!

 

Centro Operário

Rememorando e relendo o livro ?Memórias de Cachoeiro? de Marco Antonio de Carvalho, do distante ano de 2005, fixei-me na entrevista do meu amigo Nelson Sylvan, que viveu, em Cachoeiro, no início dos anos 1900, com uma vivacidade, correção e experiência de encantar ? e nos encantava mesmo.

No corpo da entrevista, página 59, está este texto dele, fundamental para quem quer conhecer aonde começou Cachoeiro.

Diz Nelson Sylvan, se referindo ao atual prédio do Centro Operário (o mesmo até hoje, quase em frente à Casa dos Braga):

- ?Isso aqui era um trapiche, um grande armazém que recebia os barcos que subiam o rio Itapemirim, trazendo cargas que chegavam de navio lá na Barra de Itapemirim, no início do século.

As barcas não chegavam até esse ponto, o porto era em frente à Fábrica de Cimento. Dali saíam barcos menores, que subiam o rio até aqui. Até hoje temos um argolão pregado na parede do lado do rio, onde os barcos eram amarrados. ?

Ou seja, eram dois os locais onde eram entregues as mercadorias para Cachoeiro, coisa que precisamos guardar, principalmente a juventude estudiosa ? e como tem meninos estudiosos por aqui.

 

Cachoeiro ? Bens Tombados

(Sugestão para o Futuro Prefeito) ? Um assunto que de vez em quando ? poucas vezes ? vem à baila em Cachoeiro, é o relativo aos nossos bens tombados, bens em processo de tombamento e outros do mesmo estilo e qualidade, mas sem um grande interesse prático.

Discute-se a necessidade do tombamento dos nossos bens históricos, entre outros que resguardam o passado e iluminam o futuro e o turismo de nossa cidade, mas não há um aprofundamento do que fazer com esses imóveis, nosso sentido de preservá-los na memória e fisicamente. Não há, no caso, o sentimento de preservar o passado para consolidar o futuro, gerando renda e luz para Cachoeiro.

Minha sugestão ao futuro prefeito é que, tomando posse, lance as bases para o estudo dessa área tão fundamental para uma cidade tão importante como a nossa, a qual, apesar disso, quase não em turistas a visitando, enquanto as praias enchem, assim como as montanhas ? todos vizinhos e não visitantes.

De outro lado, deve-se visitar, entre outros, o vizinho município de Muqui, que a cada dia aumenta sua potência histórica e cultural, muitas vezes financiada por recursos estaduais.

Fosse eu, começaria por sentar com os proprietários dos imóveis históricos do centro da cidade (Praça Jeronimo Monteiro e Rua Bernardo Horta), cujas fachadas estão sendo destruídas ou trocadas por placas comerciais que nada têm a ver com a história dos imóveis). A troca pelo IPTU e outras conversas soarão melhor do que esse silencio constrangedor.

2025 está chegando.

 

BERNARDO HORTA

Bernardo Horta, na minha opinião e na de Newton Braga também, é a maior figura de Cachoeiro de Itapemirim.

Em julho de 1884, com apenas 22 anos de idade, já tinha sido um dos membros fundadores da nossa primeira Biblioteca (Grêmio Bibliotecário Cachoeirense), com efetiva atuação, a ponto de ter sido homenageado pelos alunos da escola noturna que funcionava junto à Biblioteca, com o texto à frente, publicado no ?O CACHOEIRANO?, o mais importante jornal da cidade, desde aquele tempo.

? INEDITORIAIS ? Os alunos da aula noturna do ?Grêmio Bibliotecário Cachoeirense? vêm publicamente protestar sua gratidão a seu ex-professor, o Ilmo. Sr. Farmacêutico Bernardo Horta, pelo muito que se esforçou para seu adiantamento e pelas maneiras atenciosas com que a todos tratou, sem distinção de classe, cor ou condição.

Digne-se pois o Sr. Bernardo Horta aceitar nossos agradecimentos, e desculpar-nos, se o ofendemos, dando a eles publicidade.

Cachoeiro, 30 de julho de 1884?.

 

CONVERSA SOBRE CORPO E ALMA

Rubem Alves e Moacyr Scliar são dois grandes escritores brasileiros, daqueles que escrevem com alma. Recentemente, 2011, foi publicado um livro conjunto ? um diálogo entre eles, uma conversa sobre corpo e alma, o qual livro recomendo muito a leitura, uma das mais simples, profunda interessante que li nos últimos tempos. (?Rubem Alves & Moacyr Scliar Conversam Sobre o Corpo e a Alma ? Uma Abordagem médico-literária?, Saberes Editora, 2011, 128 págs). Dessa obra, na verdade transcrição de diálogo entre os dois, selecionei um escrito de cada:

RUBEM ALVES ? ?Comecei a pensar nas pessoas que me influenciaram com seus escritos, que me encheram a alma com suas produções literárias, filosóficas, poéticas, indivíduos que me influenciaram, que me são preciosos, que os vejo com admiração, com gratidão. Pensei em Van Gogh, em Fernando Pessoa, em Maiakovski, em Nietzsche... Fernando Pessoa bebia muito, Van Gogh deu um tiro no peito, Maiakovski deu um tiro também... Nietzsche enlouqueceu. Nossos políticos, por exemplo e não todos, lógico, são pessoas de saúde mental perfeita. Eles provavelmente nunca tiveram sentimento de culpa algum; são pessoas de saúde perfeita. As pessoas que eu admiro sofriam, eram sofredoras. Ah, que desgraça! Ah, que gratidão pelos que eles fizeram para a humanidade! É por isso que elas escrevem... É por isso que elas compõem, é por isso que pintam, é por isso que fazem jardim?. (pág. 46)

MOACYR SCLIAR ? ?Conta-se que certa vez ele (Kafka) foi a uma livraria perto de sua casa, em Praga, e perguntou ao livreiro quantos livros já tinham sido vendidos do último lançamento. O livreiro disse que até o momento onze exemplares haviam sido vendidos. Ao que Kafka replicou: ?Dez fui eu quem comprei; gostaria de saber quem comprou o décimo primeiro?. Quando estava no leito de morte (faleceu antes de completar 40 anos, de tuberculose), pediu ao amigo Max Brod que destruísse todos os seus originais. Brod não cumpriu o último desejo de Kafka; graças a isso temos acesso a uma obra absolutamente revolucionária?. (pág. 64) - (Extraído de minha CONEXÃO MANSUR 99, de março de 2011.)