Conexão Mansur: Agora é tarde demais?

Livro FAHRENHEIT 451 e o agrônomo José Arnaldo de Alencar são os destaques desta semana.

15/03/2023 09:40
Conexão Mansur: Agora é tarde demais? /Ilustração: Zé Ricardo

Há mais de mês, quando abro meu computador no face, tem me aparecido, com frequência, a indicação para adquirir e ler o livro FAHRENHEIT 451, de autoria de Ray Bradbury (Biblioteca Azul ? Ed. Globo ? 215 págs., R$ 59,90), livro o qual já li e reli e que faz ? ou deveria fazer ? parte da biblioteca de qualquer pessoa antenada. E lido.

A história que o livro conta é a de um tempo em que o ?governo? trabalhava com a política de queimar os livros, para que ninguém os lesse. Tinha até funcionário com cargo comissionado (sem concurso?) para controlar a queima deles.

E como tal livro sempre me chamou a atenção, fiquei de localizá-lo em uma das minhas estantes, a fim de fotografar sua capa e postá-la nas redes sociais, indicando sua leitura, principalmente aos jovens e àqueles que gostam de ler.

No domingo pós-carnaval (26/02), eis que passo pelo livro, o qual estava na estante da minha sala, ao lado de outro FAHRENHEIT 451, só que este outro... era o filme dirigido por François Truffaut, de 1966, inspirado no livro de mesmo nome, do mesmo autor.

No sábado anterior ao encontro com o livro (20/02), sem nenhuma relação prática com ele, de repente me veio à cabeça escrever crônica abordando a questão tão antiga e tão atual da covardia que nos invade com frequência, ao mantermos silêncio sepulcral, quando deveríamos abrir a boca, ou sei lá o quê.

Naquele tempo, consegui escrever apenas as linhas que estão no parágrafo seguinte. E a memória, naquele sábado, logo após o escrito se apagou, não me permitindo concluir a crônica, que ficou só assim, em poucas linhas ? e poucas linhas não é crônica:

- ?No dia em que a casa cair, não venham reclamar que ela caiu, já que caiu porque muitos de nós nos acovardamos e não levantamos a nossa voz no exato momento adequado. Ou nos calamos, porque era ?melhor? (para nós) o silencio algo constrangedor que lá à frente nos acenava. Ou pelo medo, ou pelo benefício que poderia a nós advir deles, ou a ambos ?conjuntamente juntos?. Covardes?.

As linhas da crônica não concluída ficariam por isso mesmo, e sem vir a público ? não tinha a conclusão que eu queria.

E quem me trouxe a conclusão dela??

Sim, quem me trouxe a conclusão da crônica foi Ray Bradbury, no FAHRENHEIT 451.

E a conclusão me chegou ao abrir despreocupadamente o livro, e encontrar esta frase, na sua página, dita pelo personagem do livro, ao queimador de livros oficial, Sr. Montag:

- ?Senhor Montag, o senhor está olhando para um covarde. Eu vi o rumo que as coisas estavam tomando, muito tempo atrás. Eu não disse nada. Sou um dos inocentes que poderiam ter elevado a voz quando ninguém atentava para os ?culpados?, mas não falei e, com isso, eu mesmo me tornei um dos culpados. E quando finalmente montaram a estrutura para queimar os livros, usando os bombeiros, reclamei algumas vezes e desisti, pois não havia mais ninguém reclamando ou gritando junto comigo naquela época. Agora é tarde demais?.

(O leitor que chegou até aqui, certamente se interessou; por isso, rogo a ele que leia o livro FAHRENHEIT 451. Tem muito o que aprender ali).

 

José Arnaldo de Alencar

 

 

001 ? José Arnaldo de Alencar veio de Potengi ? Ceará, já formado em Agronomia. Chegou em 1984. De lá até hoje, quase 40 anos, dedicou-se à profissão de agrônomo, a Cachoeiro de Itapemirim, à região Sul do ES e à Natureza, tudo com letras maiúsculas.

Aposentou-se oficialmente há algum tempo, mas continuou com sua paixão pela terra que o acolheu e pela Natureza, principalmente ? e não só - como ?plantador de árvores?.

Além de produzir mudas de árvores, que distribui e, também, planta pessoalmente, faz muita coisa mais pelo amor à Natureza, pela terra e pelo povo que o acolheu.

Toma a frente do que faz. É grande colaborador do IPAC ? Instituto Pelas Águas e das Escolas Famílias da região, que se dedicam à Natureza.

É o nosso merecido primeiro homenageado - 001.

(Com este pequeniníssimo texto, inicio também pequena coluna no CONEXÃO MANSUR (Jornal FATO) e no FALA MANSUR (SETE DIAS), para homenagear singela e verdadeiramente a pessoas locais, ou não, que se dedicam de alma e coração à nossa terra, cada um no seu quadrado, não buscando outros valores, se não o melhor para Cachoeiro, região Sul e para a Natureza).

 

Fahrenheit 451

- Eles querem saber o que eu faço com o meu tempo. Eu digo a eles que às vezes apenas me sento e penso. Mas não lhes digo em quê. /// Não havia uma velha anedota sobre a esposa que falava tanto ao telefone que o marido, desesperado, correu até a loja mais próxima e telefonou para ela para perguntar o que havia para o jantar? /// - Às vezes pode levar uma vida inteira para um homem colocar seus pensamentos no papel, depois de observar o mundo e a vida, e aí eu chego, e em dois minutos, bum! Está tudo terminado. /// Leram durante toda a longa tarde, enquanto a chuva fria de novembro caía do céu sobre a casa silenciosa. /// Tudo isso é um enorme meteoro ardente que produz uma bela chama no espaço, mas que algum dia terá de colidir. Só veem a chama, a bela fogueira, como você viu! /// Você está com medo de cometer erros. Não tenha. Os erros podem ser proveitosos. /// Se você esconder a sua ignorância, ninguém lhe baterá e você nunca irá aprender. /// Palavras são como folhas, e onde mais abundam, é raro encontrar embaixo muitos frutos da razão (Alexandre Pope). /// Eles borraram a imagem na medida certa para deixar que a imaginação trabalhasse. /// Todos nós possuímos memória fotográfica, mas passamos a vida aprendendo a bloquear as coisas que estão realmente lá dentro. /// Somos a minoria excêntrica que clama no deserto. /// Vagabundos por fora, bibliotecas por dentro. /// É isso o maravilhoso no homem; ele nunca fica desanimado ou desgostoso a ponto de desistir de fazer tudo novamente, porque ele sabe muito bem que isso é importante e vale a pena. /// Não julgue um livro pela capa ? disse alguém. E todos riram delicadamente, seguindo rio abaixo. (Excertos do livro Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, o qual recomendo muito sua leitura nesses tempos tão estranhos).