Conexão Mansur: a primeira ponte de Cachoeiro

A ponte fica ao lado da Ponte Fernando de Abreu, "colada" a ela. Viso recuperar a História, homenageando o construtor dela

21/09/2023 10:57
Conexão Mansur: a primeira ponte de Cachoeiro /Ilustração: Zé Ricardo
Época pouco após 1955 

 

(Este pequeno e simples levantamento histórico refere-se à construção, pelo Coronel Ildefonso da Silveira Vianna, da primeira ponte sobre o Rio Itapemirim, na sede de Cachoeiro, em 1887. A ponte fica ao lado da Ponte Fernando de Abreu, ?colada? a ela. Viso recuperar a História, homenageando o construtor dela).

Está anotado no volume 2 dos ?Diários das visitas pastorais de 1880 e 1886, à Província do Espirito Santo?, do Bispo carioca D. Pedro Maria de Lacerda, em sua passagem por Cachoeiro, mais propriamente na data de 10 de março de 1886, quarta-feira de Cinza:

1886 - ?De caminho, cheguei-me à entrada da futura ponte sobre o Itapemirim. É obra importante e a primeira da Província em seu gênero. Apenas tem os pilares grossos e mui altos, todos de pedra, e os grossos muros de entrada. Falta a superestrutura que será de ferro, e é esperada de sorte que daqui a 5 meses esta Vila terá uma obra monumental e de imensa vantagem para as duas margens ao longo das quais se estende a Vila. A ponte fica no centro da Vila, mas na extremidade de cima, talvez por ser o terreno mais sólido e mais alto ou pelo que for. O empresário tinha vindo da Corte comigo no Vapor Mayrink. Dizem aqui que ele perderá porque pensou que a obra não lhe sairia tão cara. (Nota do Bispo).

Já no mesmo Diário, agora em 13 de abril de 1886 (terça-feira), completou o Bispo D. Pedro: - ?Andei ligeiro e às vezes a meio galope. Em pouco tempo chegamos à Vila onde nos encontrou o Sr. Ildefonso, empresário da Ponte?.

Já no Relatório apresentado pelos vereadores da Câmara Municipal de Cachoeiro, no quatriênio de 1883 a 1886, ... no dia 16 de março de 1887, subscrito pelo seu Presidente Dr. Gil Diniz Goulart, está:

1887 ? ?A obra primitiva foi feita pelo engenheiro Dr. Deolindo José Vieira Maciel, projetada de pedra e madeira e orçada em 35:000$000. Depois de repetidos anúncios pelos jornais desta Vila, de Campos e da cidade do Rio de Janeiro, foi a obra projetada posta em hasta pública, mas só apareceu um cidadão, o tenente coronel Ildefonso da Silveira Viana, que, mediante certas modificações do plano anunciado, se propôs realizar a construção pela soma orçada.

- Consultado o engenheiro, autor do projeto, e sob informações por ele dadas de que as modificações não prejudicavam a solidez nem a boa servidão pública, com que fora concebido o projeto, a Câmara firmou contrato com o referido Tenente Coronel Silveira, que logo pôs mãos à obra, tendo construído em dezembro de 1885, os encontros e todos os pegões de pedra.

... Reconhecendo, também, que era de suma conveniência, para a estabilidade da ponte e sobretudo para evitar futuros e dispendiosos concertos e reconstruções, substituir a superestrutura de madeira por ferro, entrou a Câmara em novos ajustes com o empreiteiro e, mediante um pagamento de mais 7:350$000, firmou contato, por virtude do qual a ponte será toda construída de pedra e ferro, com exceção apenas do assoalho que será todo feito com pranchões de peroba.

... Essa inovação do contato deu lugar a uma paralização da obra por espaço de mais de um ano, visto que foi necessário o empreiteiro encomendar a uma importante fábrica na Europa, todo o material metálico.

... Espera esta Câmara que até o mês de maio esteja essa ponte concluída e se entregue. Asseveramos que será ela a melhor e mais importante obra de arte de toda a província do Espirito Santo, porquanto é uma ponte de primeira classe, dotada de todos os aperfeiçoamentos modernos, como consta dos desenhos recebidos.

Praticamos um ato de justiça informando que o empreiteiro é digno de louvor e merecedor da gratidão desta Câmara porque deu a esta obra uma escrupulosa execução, superior às condições do contrato, pelo que terá com ela avultado prejuízo.

... Ficou assim evidentemente provado o que é geralmente sabido: - que o tenente coronel Ildefonso da Silveira Vianna, como os verdadeiros patriotas, só por amor ao bem público e prosperidade de nossa Vila, propôs-se a realizar esta obra, mediante orçamentos muito baixos, e que não davam margem para o menor lucro.

Isso ficou evidenciado não só pela apreciação de engenheiros e profissionais, como principalmente pelo fato de não ter aparecido concorrente algum que se propusesse contratar a obra...

Câmara Municipal do Cachoeiro do Itapemirim, março de 1887?.

Assinam Gil Diniz Goulart (Ex-Presidente) e os demais então vereadores.

No livro ?Minha Terra e Meu Município?, de Antonio Marins, concluído em junho de 1918, primeira edição publicada em 1920 e a segunda em 2020, diz o autor: - ?Foi o Coronel Ildefonso o homem que mais contribuiu pecuniariamente para a construção da ponte de ferro que liga os dois lados da cidade e da qual foi ele o contratante.

Em junho de 1987, centenário da ponte, o Professor Paulo Estellita Herkenhoff publicou pequeno e substancial documento intitulado ?A Ponte Municipal ? do sonho a realidade?, aonde está dito:

? ? As despesas da obra foram calculadas em cinquenta e cinco contos de réis, que foram consideradas altas. Feita a modificação da planta, com diminuição da largura, a despesa reduziu-se a trinta e cinco contos de réis. Encomendou-se o material a uma firma da Alemanha. Em 8 de outubro de 1886 chegava ele ao porto de Itapemirim e veio para Cachoeiro, na prancha ?Tarcília?, rio acima e desembargou no Porto ?João Marques?, que ficava à margem sul do rio, no local onde hoje funciona o nosso Centro Operário. Era material pesado. Havia peças metálicas de 20 metros de cumprimento. As pilastras ? cinco dentro d´água e duas nas cabeceiras ? ainda existem hoje... O vão central era destinado a veículos e animais, separado por estrutura de ferro das passagens para pedestres...

E continua o Professor Paulo Estellita Herkenhoff:

? ? No lado norte, à direita da cabeceira, existia a CASA DO GUARDA, lugar onde morava a pessoa que tomava conta da ponte e recebia o pedágio.

A ponte funcionava noite e dia... As tarifas eram fixadas pela Câmara. As pessoas calçadas pagavam mais do que as descalças. A passagem de ida e volta dava direito a abatimento...

- ?A praça do lado norte recebeu o nome de Gil Goulart, o grande responsável pelo empreendimento; a do lado Sul, o nome do Coronel Silveira, pai do construtor. Mais tarde essa denominação foi mudada para Coronel Xavier ? primeiro presidente da Câmara cachoeirense. A ponte foi desmontada?.

(?Concluindo? a história, faço sugestão de que a antiga ponte, de 1887, receba o nome do seu construtor (Calçadão Coronel Ildefonso da Silveira Vianna), preservado, claro, o mais que merecido nome da ponte vizinha ? Ponte Fernando de Abreu ? a primeira, de pedestres, a segunda de veículos automotores).