Conexão Mansur: a história do Café

No Brasil, o café teria adentrado por obra de um oficial do exército português de nome Francisco de Melo Palheta, no ano de 1717, após visitar a Guiana Francesa

18/06/2024 08:01
Conexão Mansur: a história do Café /Ilustração: Zé Ricardo

JOEL PINTO

Ninguém poderia supor que um simples hábito alimentício de cabras na Abissínia (Etiópia) descobriria, um dia, para o mundo a bebida de maior consumo, isto por volta da metade do Século XV. Os animais costumavam mastigar frutos selvagens de cor avermelhada, nativos na região de Kaffa (daí o derivativo café), que tinham o poder tanto de excitá-los como de estimulá-los fortemente.

Pastores e monges, curiosos com o estranho comportamento dos animais, sentiram as mesmas sensações ao experimentarem os grãos.

Como em cascata, o que era apenas um alimento de cabras passou a ser motivo de interesse de tantos, secando os grãos e os queimando a fogo brando, conseguiram retirar de sua essência uma bebida que seria largamente consumida, a partir da África, pelo resto do mundo.

No Brasil, o café teria adentrado por obra de um oficial do exército português de nome Francisco de Melo Palheta, no ano de 1717, após visitar a Guiana Francesa e ter obtido da esposa ?enamorada? do Governador Claude D'Orvillers algumas mudas da planta, que, posteriormente, cultivou na Província do Pará.

A terra e as condições climáticas proporcionaram ao café o berço ideal para o seu cultivo entre nós, incrementado no século XIX, e posteriormente, levando o Brasil, em 1901, a responder por 70% de toda a produção cafeeira mundial, sendo hoje o único país a produzir todas as variedades de rubiáceas.

A evolução da cafeicultura brasileira mais o fator positivo das receitas de exportação em nossa economia deram ao setor cafeeiro importância excepcional.

Neste universo de expressão mundial, um dia, em 1941 (8 de outubro), o então humilde empresário Délio Moreira Lima fundou a DÉLIO M. LIMA, origem e razão de um empreendimento que, mais de 50 anos depois, conserva o nome e o renome de um produto consumido e apreciado por mais de 500 mil pessoas em todo o Sul do Estado, o CAFÉ CAMPEÃO.

E dizer que de um lendário acontecimento na Etiópia para os tempos atuais, mais de cinco séculos separam a comida primitiva das cabras da bebida consumida em cinco continentes.

Mas, como tudo que evolui, o que era e é uma bebida consumida por milhões passou a ter empregos variados na mesa do povo, como ingrediente principal de bolos, coquetéis, salgados, sorvetes, todo um receituário que está dando ao café uma rara elasticidade de uso.

Pelas receitas que ilustram esta lembrança, você que gosta do que é bom pode ver e sentir que os derivados do café não apenas diversificam o campo das coisas gostosas, mas, realmente, já disputam um lugar entre as chamadas preferências do paladar. Experimente.

(Higner Mansur diz: - Esta crônica perfeita do jornalista cachoeirense Joel Pinto tem mais de 30 anos de publicação. Precisamos voltar mais nossa atenção para o café, fruto de riqueza para todos, do turismo regional e de boas prosas diárias). Voltarei sempre ao assunto... Café.)

 

1926 - Pai de Chico Buarque em Cachoeiro

(Notícia do jornal cachoeirense PROGRESSO, ano II, número 60, de 07 de dezembro de 1926, com endereço na Praça Jerônimo Monteiro, 49, 'anunciando a chegada a Cachoeiro do pai de Chico Buarque de Holanda).

?Dr. Sérgio Buarque de Hollanda - Procedente do Rio, chegou hoje pelo noturno, a esta cidade, o dr. Sergio Buarque de Hollanda, que vem fazer parte da redação do ?Progresso?, em substituição ao nosso companheiro dr. Alcides Araújo, que se ausentou por moléstia.

O dr. Sergio Buarque de Hollanda é um nome vantajosamente conhecido nas rodas da nova mentalidade nacional, no Rio e em São Paulo, onde ao lado de Mario de Andrade e Prudente de Moraes, neto, figura à dianteira desses movimentos de transição, renovador do pensamento brasileiro.

Como um dos fundadores da ?Revista do Brasil?, a qual ainda recebe o influxo de seu talento, e como ex-redator da ?United-Press?, e outros órgãos de publicidade diária, o Dr. Sergio Buarque de Hollanda se fez, desde muito jovem, um jornalista apreciado e queridos nos meios profissionais cariocas e paulistas.

Acabando de bacharelar-se em Direito, pela Universidade do Rio de Janeiro, vem agora trazer ao ?Progresso? o concurso de sua cintilante inteligência e o contato de sua sincera amizade?.

 

LIVROS PARA LER DE VERDADE

(Parte de palestra que dei em 14/abril/2000 na FDCI, com ligeira atualização, creio que para uma turma do primeiro ano. Mantenho o que disse).

?E porque é missão, e porque estou entre estudantes de Direito, indico cinco ou seis obras fundamentais para quem quer começar a pensar em ser advogado.

Leitura essencial é ?O Príncipe?, de Nicolau Maquiavel. É para que o estudante saiba da vida como ela é e não como, às vezes andam colorindo por aí. Ninguém precisa ter medo de Maquiavel. Ele não é moral e nem imoral. Apenas relata o bem e o mal do dia a dia. O livro sobrevive há 500 anos (foi escrito ao redor de 1513 ? mais de meio milênio) e tem dezenas e dezenas de edições (eu conheço praticamente todas) em língua portuguesa.

Outro livro essencial, do século XIX (1872), é ?A Luta pelo Direito?, de Rudolf Von Ihering, que ensina ao estudante de direito e a quem o lê, que o Direito não é uma coisa sem sal, mera aplicação de artigos de lei. É muito mais, é uma justa e, por vezes, parcial e irada luta contra a injustiça.

Como também o é um clássico brasileiro do início do século XX, ?Oração aos Moços?, de Rui Barbosa. Lição que Rui, já na velhice e doente, tão velho e doente que não conseguiu lê-lo para os formandos de São Paulo, faz um relato apaixonado e apaixonante do que é ser advogado. É de 1921, tendo Rui morrido em 1923.

E quem quer ser advogado criminalista também não pode deixar de ler outra obra de Rui Barbosa, de antes da ?Oração?, chamada ?O Dever do Advogado?. A carta que escreveu ao Evaristo de Morais, dizendo o porquê o advogado deve aceitar determinadas causas criminais às vezes repudiada por toda a sociedade. É de 1911.

Da esfera civil, para mim, é disparadamente o melhor livro brasileiro de Direito o ?Hermenêutica e Aplicação do Direito?, de Carlos Maximiliano que, aliás, completa um século de edição neste ano de 2024. Advogado que não ler esse livro (é minha opinião) não é advogado e é capaz de passar pelo direito toda uma vida sem saber o que é Direito. É livro publicado inicialmente em 1924, com sucessivas reedições, até hoje.

Finalmente, apesar de rasgada, remendada, pisoteada, descumprida, ridicularizada, alterada, não deve faltar na biblioteca do estudante, do advogado, do brasileiro, a ?Constituição Federal? de 1988.

Conto agora. Indiquei seis livros.

É certo que ninguém se tornará advogado só lendo esses seis livros. Até porque quem os lê irá atrás de outros.

Mas são seis livros que representam, com certeza, a maior parte do caminho andado pelo melhor advogado que possamos ter?.