Conexão Mansur: a 1ª Expo Verde Flor de Cachoeiro

Entrar na grande tenda, armada na Praça Jerônimo Monteiro, é mergulhar numa profusão de verde misturada a flores multicoloridas de mil matizes

02/08/2023 10:46
Conexão Mansur: a 1ª Expo Verde Flor de Cachoeiro /Ilustração: Zé Ricardo
Foto: divulgação

 

Outubro de 2004, dezenove anos passados, escrevi a crônica abaixo, a qual repito agora, ?simplesmente? ?só? atualizada, já que ? com o correr dos anos ela demonstra sua qualidade e atualidade. É a FEIRA DE HOLAMBRA.

Entrar na grande tenda, armada na Praça Jerônimo Monteiro, é mergulhar numa profusão de verde misturada a flores multicoloridas de mil matizes. É entrar em jardim florido que não imaginei entrar, pouco antes. Pequena mostra da cidade paulista de Holambra, de sua produção generosa de bonsais, flores e plantas em quantidade; e cactos, os mais miúdos, os mais graciosos, os mais simpáticos.

Tenho especial prazer em admirar os pequenos cactos em seus verdes floridos com pequenas flores, plantas nascidas do chão rústico, árido, que recebe pouca água. São os cactos, para mim, cronista de poucas letras, um exemplo. O chão pobre que os recebe, não é, para eles, questão de maior indagação.

O trio de cactos floridos e minúsculos que tenho à minha cabeceira, mostra, em meus acordares, vigor que, por vezes, não tenho. Mas eles estão lá, há meses, floridos de vermelho, de roxo e de amarelo; dezoito pérolas coloridas, fincadas no chão pobre.

Pois bem, a iniciativa do Lions Club Cachoeiro, trazendo a exposição das maravilhas de Holambra, traz outras lições, além dessa volta que dei ao redor dos cactos suculentos de minha cabeceira. Mostra as belezas da natureza misturadas por mãos cuidadosas, e tecnologia, e marketing da cidade paulista. Contribui para diminuir dores e sofrimentos de tantos cachoeirenses; o lucro das vendas vai para o trabalho social do Lions. E autoriza ? com o sucesso da Expo, desde o primeiro dia ? que os cachoeirenses que cuidam profissionalmente, ou como amadores, de flores e plantas, se reanimem e novamente tragam ao centro da cidade o fruto de seus labores, pequenas plantas e orquídeas regionais. Exposições que, de quando em quando, faziam, mostrando as belezas das terras quentes daqui e das terras frias de Vargem Alta e região serrana do sul.

A exposição de Holambra, fica em Cachoeiro de 03 a 13 de agosto corrente, das 9 às 20 horas.

E eu pergunto: qual o impacto visual e na economia cachoeirense teria uma exposição de mármores e granitos de todas as cores, brutos e lapidados por nossas quase mil indústrias? Qual impacto de uma exposição que percorresse o Brasil de ponta a ponta, mostrando essa outra beleza da terra, do reino mineral?

 

ANAUÊ!

?ANAUÊ!? é antiga saudação entre integralistas. Antiga é modo de dizer, pois a Associação Integralista Brasileira tem até ?site? na internet.

Luiz da Câmara Cascudo, o maior dos nossos pesquisadores de folclore, em artigo seu, nada obstante todo conhecimento, teve a coragem de dizer que ignorava o significado ou a origem da expressão entre os índios. E diz que, não podendo provar, ?sonhava que, inicialmente, anauê seja um grito, um sinal, uma ordem de reunião, de coesão, de agrupamento. De integralismo, evidentemente?.

Mas para nós, de Cachoeiro, ?ANAUÊ! ?, com subtítulo ?a apaixonante saga integralista numa colônia de imigrantes italianos?, mais propriamente Burarama (antiga Floresta) é, também, o excelente livro de José Marcelo Grillo (um dos únicos livros patrocinados pela ?Lei Rubem Braga?, de Cachoeiro, lá no início do século XX) que reconta história dos idos da década de 1930, quando, por aqui, confrontaram-se integralistas e comunistas.

Foi no ?ANAUÊ!? de Marcelo Grilo que li: - ?Havia em Cachoeiro naquele tempo vários conjuntos de jazz. Apesar de os italianos serem acostumados apenas com a sanfona para animarem seus bailes, Bruno Berllone resolvera juntar uma turma e organizar um conjunto de jazz em Floresta. Era um conjunto destinado a promover bailes apenas nas casas dos não-integralistas. Depois de meses de ensaios em uma sede na subida da Rua da Frente, quase já desembocando na praça da igreja, onde estava escrito em letras caprichadas, Sede do Itabira Jazz, o conjunto estava pronto para realizar seus primeiros bailes, ou saraus... Giovanna sabia desses bailes ao som do jazz, mas nunca fora a algum. Só uma vez, rapidamente e a contragosto do pai, assistira a um ensaio. Ficara encantada, pois era um som diferente, mais gostoso, mais afinado?.

(Declaro para os devidos fins que este meu texto é histórico, nada tendo de político/ideológico).

 

IDÉIAS POLITICAS

 

Fernando Pessoa - foto de artesanato em granito, feio pela artesã cachoeirense Isabel Cristina
 

?Se há fato estranho e inexplicável é que uma criatura de inteligência e sensibilidade se mantenha sempre sentada sobre a mesma opinião, sempre coerente consigo própria. A contínua transformação de tudo dá-se também em nosso corpo, e dá-se no nosso cérebro consequentemente.

Como então, senão por doença, cair e reincidir na anormalidade de querer pensar hoje a mesma coisa que se pensou ontem, quando não só o cérebro de hoje já não é o de ontem, mas nem sequer o dia de hoje é o dia de ontem? Ser coerente é uma doença, um atavismo, talvez; data de antepassados animais em cujo estádio de evolução tal desgraça seria natural...

Convicções profundas, só as têm as criaturas superficiais?.

(O texto é de FERNANDO PESSOA, um dos maiores poetas portugueses em todos os tempos, in ?Ideias Políticas?).