Quero a visão - Jornal Fato
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Quero a visão

Outros, decerto, dirão: - Eu não. Enxergo, bem


Eis o fato. Abro os braços e, pedaço por pedaço, desdobrados os retalhos, vão surgindo os membros, cheios de carne, onde Minh 'alma se asila, e não me vejo.

Triste fado. Caminho sem tato, vazio e caindo, diante do desejo da visão, ainda que tecida do tênue vidro perdido, feito meu destino, sem itinerário.

Quero a visão da verde fonte, donde brota a água. Da água, quando se solta da fonte. Dos pombos e outros pássaros, nessa água, a matar a sede, e não a da seca navalha do avaro, coitado, que nada enxerga se não moedas, flutuando sobre o mesmo leito. Podre.

Quero a visão das asas, daquelas aves, a tingir o dia, de macias penas, porquanto perdure o voo, e meu canto nas alturas: viva! Viva!

Quero a visão do navio no cais, e daquele que sai, após o longo oceano. Da gota lasciva da saliva, no pano da camisa. Da centelha anil de céu, derramando estrelas no lençol. Das mãos proibidas, e amantes, mantidas distantes por treliças, e as frestas. Quero a visão do poeta!

Não quero, o mísero poema cego. O verbo paralítico. O grito roto.na garganta. Não! Nem João noctívago, que natimorto e sem aviso, perambula de abismo em abismo.
Quero a visão...

Outros, decerto, dirão: - Eu não. Enxergo, bem.

E pergunto: - mesmo? Ou apenas vislumbram a penumbra permitida por velhas retinas, atrás da cortina de luz.? No centésimo moído de pálpebras parecidas. Protegidas por imaginárias pupilas ultrapassadas, de tanto enxergarem uns girassóis, sem sóis, com a coroa amarelada e cega. 

Quero a visão...

 

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As notícias falavam em meninos a matarem outros meninos. Uma réplica de situações macabras vistas em outras paragens. Um contava dezessete e o outro vinte e poucos anos. Fortemente armados, invadiram uma escola e, a esmo, começaram a atirar, fazendo vítimas indefesas, feridas mortalmente. Isto tudo no País do carnaval. Por que isso teria acontecido? De que maneira lidar com situação tão bizarra e inacreditável. Pensei eu, cá com meus botões que, ao que tudo indica padecemos da falta de alguns valores importantes. Eu diria que a muito tempo deixamos de valorizar a vida, em todo seu esplendor. Cultivamos lixo cibernético, e não lemos Machado de Assis. Viramos a face, invés de saudar as pessoas. Descuidamos das palavras para quem cresce, convivendo com o habito da violência, da arrogância e da prepotência. Liberamos armas, como.se elas garantissem a vida, em vez de criar a morte. Subvertemos nossos apreços, e passar a não dormir para acompanhar UFC's.  Tudo se banalizou. Tudo se vulgarizou. E a barbárie tornou-se comum e mais importante do que as rosas, no próximo jardim arremessaram a vida humana no vão da menos valia e, então, a vida passou a não valer mais tanto assim. Como resolver isso? Pensei, e pensei. Acho que apenas uma rotunda guinada em nossos comportamentos talvez. A reformulação educacional, social, cultural como.um todo. A propósito do fato.de que muitos daqueles que assistiram, apavorados tais fatos, são os mesmos que, do outro lado, indiretamente os estimulam. Amar a vida e ensinar a todos os mesmo, deve, acredito, ser o caminho. Isto, creio, levara muito, por certo, demasiado tempo ainda. Comecemos, pois, o quanto antes. Antes que outros jovens atiradores subtraiam de jovens desvalidos, portanto, a vida, em tempos de frágil conservação. Repito, então, o mesmo que Renato Russo, em uma de suas canções, afirmou com seus versos:".... é preciso amar as pessoas, como.se não houvesse amanhã, porque se você parar para pensar, na verdade não há.

 

 


Giuseppe D'Etorres Advogado

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