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Mãe

Deveriam ser eternas (se não são) e não morrer nunca!


Dela, além do sangue, a vida, o enorme nariz e este formidável prazer de me comunicar, recebi passos, estradas e luzes. Recebi muito de minha mãe, mulher humilde que desde muito cedo esforçava-se para colaborar em casa, filha única, de uma viúva.

Batia de porta em porta, a vender recortes de tecidos. Alçou o magistério e, na sua cátedra, lecionou até aposentar-se. Além disso, bom que se diga, dividia afazeres comerciais, no pequeno estabelecimento que compartilhava com meu pai. Como para tantos, foram muitas suas refregas e lutas. Amava com os olhos e os gestos. Sua voz poderosa ecoava no coração. Ainda hoje, à noite alta, posso escuta-la. Apreciava afagos daqueles que nos engalfinhávamos em seus braços e ela, dissimuladamente, entre sorrisos marotos, tentava livrar-se. Hoje, homem feito, sinto sua falta diante das incongruências da vida. Diante dos dilemas e das tempestades. Do som da voz que serenava os oceanos e afirmava, categoricamente, que tudo daria certo! Afinal, somos todos filhos! E a maternidade é um estado de graça, concebido na conjunção exata de todas as estrelas. Mães são lindas nas suas incompletudes, e perfeitas nos seus limites. É, de tal forma, tão importante, que citando Drummond, eu decretaria: "deveriam ser eternas (se não são) e não morrer nunca!

 

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Soltei meu coração no ar.

Meu coração-pipa foi-se voou

Voou

Voou

Para longe de onde estou.

E a longa foice de tudo que havia, naquilo que ca dentro carregava, arrastou-se, seguindo o vento dos ventrículos.

De cada finíssima veia aberta.

De cada gaveta fechada

De cada sorriso não visto

De tudo em que acredito, na graça perfeita que existe em cada criatura, feito gravuras sagradas feitas em plagas remotas.

Meu coração voou do meu peito, deixando em mim sua presença imensa.


Giuseppe D'Etorres Advogado

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