Bombeiro enfrenta alagamentos para receber novo coração - Jornal Fato
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Bombeiro enfrenta alagamentos para receber novo coração

Há quinze anos Isaurino Moreira Farias fazia tratamento para miocardiopatia e desde fevereiro estava na fila de transplantes


- Foto: Thiago Coutinho/A Tribuna

Jéssica Pazine Ferreira, de 30 anos, morreu após sofrer um acidente de trânsito no último dia 14, em Castelo. Ela teve morte cerebral e a família decidiu doar os órgãos. Graças à essa decisão, muitas vezes difícil de ser tomada, sete pessoas puderam ter uma nova chance de viver.

Uma dessas pessoas é o tenente aposentado do Corpo de Bombeiros de Cachoeiro de Itapemirim, Isaurino Moreira Farias, 51. Há 15 anos ele fazia tratamento para miocardiopatia* com medicamentos, mas, em junho de 2018, ele soube que precisaria de um novo coração. Em outubro do mesmo ano começou a fazer uma bateria de exames e, em fevereiro de 2019, ele entrou oficialmente para a fila de transplantes.

Três meses depois, na madrugada de sábado (18), Isaurino recebeu a notícia que salvaria sua vida: seu coração havia chegado.

Mas para fazer o procedimento, o tenente ainda precisou atravessar mais uma dificuldade: alagamentos. A caminho do Hospital Meridional, em Cariacica, se deparou com ruas alagadas, por conta das chuvas dos últimos dias. "Ficamos presos na BR, Isaurino decidiu sair do carro e ver até onde conseguia andar. Ele não voltou. Decidiu continuar. Encontrou um caminhoneiro no meio do caminho e contou para ele porque estava ali. O caminhoneiro o ajudou e deixou ele no viaduto da Seasa. Dali, meu esposo seguiu para a base dos bombeiros e se identificou, disse que estava a caminho de um transplante e eles prontamente o levaram para o hospital", conta a esposa Luzinete Silva de Oliveira Farias.

A cirurgia durou cerca de oito horas e Isaurino se recupera bem, segundo a mulher, mais rápido do que o esperado.

"Os médicos ficaram surpreendidos com a recuperação. Ele deveria sair da UTI daqui 30 dias, mas já pode receber alta daqui uma semana", menciona.

 

Gratidão

Luzinete disse que seu marido está vivo graças à doadora e faz questão de agradecer a família.

"Agradecemos tanto a família desta moça. Sabemos que é um momento difícil, mas foi nesse momento de tristeza que eles tomaram a decisão de salvar sete vidas. Foi um gesto de amor muito grande ao próximo e vamos ser eternamente gratos", diz.

Ela fala ainda que deseja ter a oportunidade de conhecer os familiares de Jéssica e ter a chance de agradecê-los pessoalmente.

Luzinete agradeceu também à equipe médica que realizou a cirurgia. "Nosso agradecimento também para os médicos, enfermeiros, bombeiros, Polícia Militar e também Polícia Rodoviária Federal que foi a Cachoeiro buscar os órgãos. Todos fazem parte desta história".

 

Incentivo

A esposa ressalta a importância da doação de órgãos e diz que esse é um ato de caridade e amor. Também enfatiza que o atendimento do Hospital Meridional é humanizado e profissional.

"Meu esposo está sendo muito bem tratado. Sempre tem alguém passando no quarto dele para perguntar se está tudo bem. O Estado tem capacidade para fazer este tipo de procedimento, e também para cuidar dos pacientes, tanto doadores quanto receptores. E tudo aconteceu pelo SUS, o que é muito bom", finaliza.

Outras seis pessoas receberam os rins, fígado, córneas e esclera (globo ocular) de Jéssica.

 

* Doença do músculo do coração que impede o bombeamento adequado de sangue para o corpo, causando complicações como arritmias, coágulos de sangue e morte súbita.

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