Morte de jovens no ES supera média nacional - Jornal Fato
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Morte de jovens no ES supera média nacional

Em 2017, taxa registrada foi de 86 jovens por 100 mil habitantes, enquanto média nacional era de 69,9, segundo o Atlas da Violência 2019


Iniciativa do debate foi da Comissão de Cidadania / Foto: Lissa De Paula

O extermínio da juventude, especialmente de jovens negros, no Brasil e no estado do Espírito Santo e a necessidade de políticas voltadas para a juventude foram temas de audiência pública promovida pela Comissão de Defesa da Cidadania e dos Direitos Humanos na noite desta quinta-feira (19), no Plenário Dirceu Cardoso da Assembleia Legislativa. O evento é parte da 8ª Semana Estadual de Debate contra o Extermínio de Jovens.

O destaque foi o crescimento de mortes de jovens capixabas, que em 2017 cresceu 20% em relação a 2016. Ou seja, 86 jovens por 100 mil habitantes, enquanto o índice nacional é de 69,9 por 100 mil jovens, segundo revela o Atlas da Violência 2019, levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que traz dados sobre a violência em 2017.

Durante a audiência houve apresentações culturais de um grupo da Aldeia Caieiras Velha, tupiniquim de Aracruz e de Thaís do Gueto, 16 anos, do Coletivo Nísea Floresta, do Bairro de Barramares, Vila Velha, entre outras. 

Juventude negra

O mestrando em Saúde Coletiva na Ufes e representante do movimento LGBT Marcos Vinícius Cordeiro fez comentários sobre o Atlas da Violência 2019. Ele se mostrou apreensível, devido à situação política atual do país, com a divulgação dos homicídios em 2019, o que será feito somente em 2021. 

Cordeiro conceituou historicamente violência, homicídio, extermínio e genocídio para relatar os dados do Atlas da Violência. "Quando a gente olha para esses dados, vemos dois países. Um país para os negros e um país para os brancos", afirmou. 

Segundo o Atlas, 75,5% das vítimas de homicídios no Brasil eram negras. Foram praticados 65.602 homicídios. Desses, 35.783 são de jovens, com aumento de 6,7% com relação a 2016 e de 37,5% em relação a 2007.

Ainda, entre 2007 a 2017, a taxa de homicídio de negros cresceu 33,1%, enquanto que a taxa entre os não negros cresceu 3,3%, revela o estudo do Ipea.

Para a juventude capixaba, esse índice aumenta para 86 por 100 mil habitantes, com crescimento de 20% em relação a 2016, enquanto que o índice nacional é de 69,9 por 100 mil jovens, de acordo com Cordeiro. 


Políticas públicas

O presidente do Conselho Estadual da Juventude do Espírito Santo (Cejuve), Miguel Intra, falou sobre a situação da juventude brasileira "num cenário em que a democracia está em xeque". 

"A gente vê desmonte de representação popular e das políticas públicas. Venho colocar que o estado do Espírito Santo está muito aquém do ideal, principalmente quando falamos da população pobre, periférica, negra, indígena, quilombola, cigana e LGBT", observou. 

Segundo Intra, há necessidade de uma política pública para incluir, ao invés de excluir, a juventude.  Ele defendeu que a Assembleia Legislativa participe da construção dessa política com, por exemplo, a proposta de um fundo estadual da juventude.

A gerente de Juventude da Secretaria dos Direitos Humanos, Fabrícia Barbosa, pontuou que o órgão busca realizar diálogo com os municípios para a construção de políticas públicas. Barbosa destacou a importância da audiência para a Semana da Juventude. 

Para o chefe de Articulação e Mobilização do Município da Serra, Igor Lopes, quando o governo federal corta bolsas de estudos, ele está lançando a juventude, principalmente os jovens da periferia, à criminalidade. De acordo com Lopes, a juventude tem conquistado algumas políticas públicas na Serra, o que resultando na diminuição da criminalidade.  

Desigualdade

Segundo a deputada Iriny Lopes (PT), a violência se dá em um momento em que a população brasileira passa por um processo de envelhecimento. Ela destacou os assassinatos da população jovem, de negros, de LGBT, de mulheres e lembrou da política em andamento para a liberação do porte de armas. Conforme disse, a violência cresce com o aprofundamento da desigualdade provocada pelo capitalismo.

"De nada nos adianta fugirmos ou nos isentarmos de enfrentarmos tão dolorosa realidade. O que nós precisamos é alterá-las com políticas que funcionem. Não podemos como poder constituído ficar de braços cruzados. Temos trabalho a fazer e devemos fazê-los com garra, esperança, fé e coragem", enfatizou a deputada. 

Mesa

Além da deputada Iriny Lopes, participaram da mesa o representante do movimento LGBT Marcos Vinícius Cordeiro; o presidente do Conselho Estadual da Juventude do Espírito Santo (Cejuve), Miguel Intra; a gerente de Juventude da Secretaria dos Direitos Humanos, Fabrícia Barbosa; o chefe de Articulação e Mobilização do Município da Serra, Igor Lopes; e a subsecretária de Promoção e Proteção da Secretaria de Direitos Humanos Raiana Rangel.

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