O que é que o Caparaó tem? Cafés especiais - Jornal Fato
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O que é que o Caparaó tem? Cafés especiais

Grande parte da população ainda desconhece os cafés especiais. Degustá-los é como ser apresentado a um mundo novo


Protázio e a família participam de diversas ações em prol do melhoramento do café - Foto: Andréa Expósito

Por Andréa Expósito e Rita Martins

 

O Espírito Santo é o segundo maior produtor de café do país, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). O que muitas pessoas desconhecem é que o Estado vai além das plantações do Conilon. Ele possui vários pequenos produtores que plantam o do tipo Arábica, com particularidades e variedades que circulam em xícaras do país e do exterior.

Quando dizemos sobre cafés, inicialmente, é importante saber sobre a existência dos dois tipos de grãos produzidos no Brasil - o Robusta (Coffea canephora), conhecido como Conilon, que é o tradicional e o Arábica (Coffea arabica), que representa os cafés especiais. Grande parte da população ainda desconhece os cafés especiais. Degustá-los é como ser apresentado a um mundo novo para quem está acostumado a tomar o Conilon, que é o comercial encontrado em gôndolas de supermercado.
A região do Caparaó, do lado capixaba, abrange onze municípios que produzem cafés de alta qualidade e pontuação, segundo os órgãos certificação. Porém, muitos que trabalham em família, não sabiam do valor de seus grãos em seus quintais. O produtor da cidade de Dores do Rio Preto, Fábio Protázio, é um deles e conseguiu interessantes feitos na safra do ano de 2017. Foi o 10° colocado no Coffee of the Year, durante a Semana Internacional do Café, que ocorre anualmente em Belo Horizonte/MG. Neste ano, o café da sua família foi eleito o terceiro melhor do Brasil, no Concurso Nacional da Associação Brasileira de Indústria de Café (ABIC).


A força da juventude em prol da lavoura

Para chegar a esse feito, Protázio contou com o apoio da Caparaó Júnior, empresa de consultoria voltada a atividade agrícolas, fundada em 2010, por alunos do Curso Superior de Tecnologia em Cafeicultura do Ifes, de Alegre. Sob orientação dos professores, o grupo atende mais de 1.600 pequenos produtores rurais do Caparaó, da região serrana capixaba, parte das Matas de Minas e noroeste do estado do Rio de Janeiro. Dentre os serviços oferecidos, estão o acompanhamento da fertilidade do solo e a classificação físico-sensorial do café.

As ações primam pela qualidade nos serviços prestados e pelo baixo custo para executá-los.  "É muito bom para a minha família participar do projeto. Antes, realizávamos tudo do nosso jeito, sem conhecimento. Muito amadores mesmo, fazíamos a adubação incorreta do solo, perdíamos dinheiro, tempo e não tínhamos os resultados esperados na colheita. Agora, os alunos nos auxiliam desde a análise do solo à compra correta dos adubos. Isso só faz crescer o projeto e contribui muito para os produtores do Caparaó", disse Protázio.
O professor e idealizador do projeto, João Batista Pavesi, relata que essa é uma experiência que proporciona aprendizagem e formação profissional aos participantes do curso e permite, ao pequeno produtor, conhecimento sobre o seu produto e sua inserção no mercado. "Em 2016, fomos a Belo Horizonte e qualificamos alguns alunos para se formarem classificadores de café (Q- Grader). Dessa forma, profissionalizamos o trabalho, ajudamos os pequenos produtores não só na venda no Brasil e no Exterior, como também, na melhora da qualidade e performance da lavoura até o café chegar à xícara", comenta.

O que é que temos?

O café une pessoas, proporciona sempre uma boa conversa e, sem dúvida, bons negócios. Por isso, recentemente, foi lançada a campanha "Beba um Caparaó", em que cafeterias, produtores e cooperativas envolvidas divulgam os cafés especiais em busca do aumento do consumo da bebida. Com isso, consequentemente, haverá o aumento da renda dos produtores, a valorização do produto e o incentivo à lavoura.
Os produtores já colhem bons frutos (literalmente) desse projeto. Motivados pela tradição de produção rural familiar, que gerava vendas pouco significativas financeiramente, hoje, assistem a outra realidade, como por exemplo, a de terem seus grãos em cafeterias de outras cidades e localidades.  "Com a campanha, enaltecemos o sabor exclusivo do nosso café, ajudamos na capacitação, na qualificação e na conquista de novos mercados. Essa parceria, por exemplo, permitirá o envio, em breve, de um contêiner de grãos para a Argélia, na África do Norte. Estamos em negociação, também, com a China, Estados Unidos e países da Europa", relata Ricardo Nunes, presidente da Cooperativa dos Produtores Rurais do Espírito Santo (COOPRES), uma das apoiadoras do projeto.
A entidade trabalha na Indicação Geográfica (IG) dos cafés do Caparaó. Trata-se da identificação de um produto originário de determinado local ou região do país, na qual determina características e qualidades que especificam sua origem geográfica. Segundo Nunes, a cooperativa o selo de Indicação será de grande valia para as famílias produtoras de café da região.

Além da geografia

Alguns dos cafés do Caparaó, resultantes da parceira do "Beba um Caparaó", já são comercializados e servidos em outros Estados. É o caso da Cafeteria do Produtor, em Belo Horizonte, que realiza um trabalho de divulgação de diferentes cafés das melhores regiões produtoras do país.  "Ajudamos os produtores com orientações sobre como obter melhores resultados e cafés com níveis de qualidade elevada. Dessa forma, o produtor tem melhores preços em seus produtos e reconhecimento pelo seu trabalho. Assim, contribuímos para escoar, divulgar e abrir contatos comerciais com outras cafeterias dentro e fora do país", explica Kivian Monique, gerente e barista da cafeteria.
Quando perguntarem o que é que o Caparaó tem, a resposta é: tem muita gente simples, muito trabalho e muitos "cafezão". Há pessoas que tomam café e dizem que é tudo igual, que não há diferença. Não, não é tudo igual. É como dizem, muitas vezes, sobre o Espírito Santo só possuir praias. Não, tem montanhas também. É, o Espirito Santo é mesmo surpreendente.

 
O que ele tem de especial?
Os Cafés Especiais são grãos com tributos sensoriais diferenciados, isentos de impurezas e defeitos que cumprem diversos critérios na produção, no processamento e na prova do café. Para receberem a classificação, seguem uma metodologia rigorosa criada pela Specialty Coffee Association of America - SCAA. Dentre os atributos, incluem bebida limpa e doce; corpo e acidez equilibrados e qualificação da bebida por meio de análise sensorial. Além da qualidade intrínseca, os cafés especiais devem possuir rastreabilidade certificada e respeitar critérios de sustentabilidade ambiental, econômica e social em todas as etapas de produção.

Segundo a Brazil Specialty Coffee Association (BSCA), instituição que certifica lotes de cafés com monitoramento de selos de controle de qualidade, foram produzidos, aproximadamente, 8,5 milhões de sacas em 2017 e, para este ano, espera-se cerca de 4,5 milhões de sacas de café arábica.

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