"...houve uma redução de quase 11% na evolução de óbitos, caindo de 29,1% a cada 100 mil habitantes, para 25,9%"

 

ADI-ES

 

Chamar a atenção da sociedade para o alto índice de mortes e feridos no trânsito em todo o mundo. Esse é o objetivo da campanha "Maio Amarelo" que o Departamento Estadual de Trânsito (Detran-ES) pretende levar para todo o Espírito Santo. Na visão do diretor-geral do Detran, Romeu Scheibe Neto, não é motivo para comemorações, mas de conscientização.

 

ADI - Sendo o mês de maio um momento para reflexão sobre os números da violência no trânsito, o capixaba tem motivo para comemorar?

 

Romeu - Não temos o que comemorar. Apesar de termos uma tendência, desde 2012, da diminuição dos acidentes, esse número ainda é alto. Segundo dados do SUS (Sistema Único de Saúde) de fevereiro, houve uma redução de quase 11% na evolução de óbitos, caindo de 29,1% a cada 100 mil habitantes, para 25,9%.

 

Qual o tema da campanha deste ano?

 

Esse ano, estamos destacando o olhar das crianças verificando a conduta do pai ao volante. Diante de uma orientação do Contran (Conselho Nacional do Trânsito), que definiu o tema como "Minha escolha faz a diferença", percebemos que as crianças se espelham nos adultos e os adultos nos mais velhos. Assim, nosso foco é chamar a atenção dos pais do quanto é importante tomar cuidado com as atitudes no trânsito pois as crianças estão sempre observando as condutas dos adultos. E essas mesmas crianças serão os motoristas do futuro. É necessário que as pessoas percebam que a sua escolha faz toda a diferença.

 

Há ações de conscientização voltadas para os adultos e também para as crianças?

 

Com certeza. Nossas atividades de rua, nas redes sociais, nos meios de comunicação que, no ano passado, atingiu mais de 1,7 milhão de pessoas e esse ano nossa meta é ultrapassar esse limite, trabalhando a Grande Vitória e intensificando nossas atividades no interior. Basicamente nossas ações são em locais públicos, com grande concentração de gente, realizando atividades junto com a equipe do Detranzinho, focada nas crianças, com quiz e distribuição de material educativo para os adultos. Sempre vamos com nossos personagens, em especial o Celiolar, um personagem chato, que incomoda, visando chamar a atenção dos perigos de usar o celular ao volante, já que ele potencializa em 400% as chances de um acidente.

 

Qual a importância dessa conscientização?

 

Um estudo recente da ONU (Organização das Nações Unidas) aponta que 90% dos acidentes poderiam ser evitados, e acontecem por negligência do cidadão, seja como condutor, ciclista, motociclista ou pedestre que desrespeita a legislação.

 

Essas ações vão chegar às cidades do interior do Estado?

 

Com certeza. No ano passado, as atividades atingiram 35 municípios capixabas. Esse ano vamos intensificar as cidades fora da Grande Vitória. Nova Venécia, Cachoeiro de Itapemirim, Linhares, São Mateus e Colatina já estão confirmadas, mas ainda estamos discutindo com as prefeituras para que outros sejam contemplados. Toda a programação da campanha pode ser conferida com as datas, horários e locais, em nosso site (www.detran.es.gov.br) e nas redes sociais. É muito importante que todo mundo replique essas informações, nossas postagens nas mídias sociais, campanhas no Youtube, para que possamos atingir o maior número de pessoas, fazendo com que cada um tenha uma auto-reflexão de suas atitudes no trânsito. Vamos conversar na escola, no trabalho, em casa, com nossos vizinhos e colocar a temática do trânsito em nosso cotidiano.

 

Há um mito de que em cidades fora da região metropolitana da capital, os moradores tenham uma sensação de impunidade e acabam não respeitando as leis de trânsito?

 

Na realidade não há essa impunidade. O que pode acontecer é que em cidades com um baixo volume de tráfego, as pessoas tem uma sensação de segurança maior e fazem escolhas erradas como não usar capacete, o cinto de segurança, atravessar fora da faixa, sem olhar para os lados. Mas isso não pode acontecer. Ao tomar essa atitude, ao escolher tomar essas atitudes, acabam ficando mais vulneráveis aos acidentes, sendo responsáveis pelas consequências que isso pode trazer. E é exatamente esse o nosso foco, mostrar que nossas escolhas trazem as consequências que escolhemos.

 

Qual o cenário dos acidentes aqui no Estado?

 

O cenário é desafiador. No ano passado tivemos 470 mortes no trânsito no Estado. Temos uma média de 130 acidentes por dia! Por isso temos que fomentar a reflexão no capixaba, para que sempre pense se vale a pena usar o celular enquanto dirige, se vale a pena se deslocar sem capacete ou cinto de segurança. Os motociclistas é um desafio a parte. Dados do SUS apontam que 2/3 dos leitos de trauma são ocupados por vítimas de acidentes com moto. Além do custo financeiro, isso gera um custo social imensurável. A maior parte dessas vítimas são jovens entre 15 e 29 anos. Pessoas no auge de suas vidas, terminando os estudos, iniciando uma família e vários sonhos são interrompidos por escolhas erradas ao desrespeitar uma lei de trânsito ou dirigir com imprudência.

 

A rua tem espaço para carros, motos, ciclistas e pedestres?

 

Com certeza. No maio amarelo do ano passado lançamos o conceito de "Rua Coletiva", que retomarmos nessa campanha também e permanecemos com ela durante todo o ano. Precisamos dialogar com a sociedade de que não existe lugar mais democrático do que a rua. Nesse espaço, cada um tem que fazer a sua parte. É um espaço de todos nós. O meu limite vai até onde começa o limite do próximo. E se não respeitarmos isso, vamos deixar esse espaço cada vez mais caótico. Temos que entender que, juntos, fazemos do trânsito um espaço mais humano.