Brasileiros escolhem a Argentina para cursos de nível superior

A facilidade de ingresso nas instituições e a desvalorização da moeda argentina são alguns dos motivos que elevam esta demanda a cada dia mais.

16/02/2022 20:36
Brasileiros escolhem a Argentina para cursos de nível superior /Foto: Arquivo pessoal.

Cursar ensino superior na Argentina tem se tornado cada vez mais comum entre os brasileiros. A facilidade de ingresso nas instituições e a desvalorização da moeda argentina são alguns dos motivos que provocam a demanda.

Entre os cursos de graduação, a medicina está entre os mais procurados. Lara Soares Sartore, de Muniz Freire-ES, está entre os brasileiros que foram para a Argentina com o objetivo de realizar o sonho de se tornar médica.

?Me mudei pra lá em 2018, mas faz um ano e meio que estou aqui no Brasil, por conta da pandemia. Volto pra lá agora em março. Decidi ir pra Argentina pelo fato de no Brasil a faculdade de medicina ser de muito difícil acesso, sem contar os valores das mensalidades. Que sinceramente são bem caros?, relata.

Lara explica que hoje em dia, a mensalidade de medicina na faculdade de Barceló, em Buenos Aires, está 27,5 mil pesos, o equivalente a cerca de R$ 705,00, na cotação atual. É cerca de 10% do cobrado por faculdades particulares.

Com relação às universidades públicas brasileiras, em que não há cobrança de mensalidade, a vantagem é a facilidade de acesso, já que, conta a estudante, as instituições argentinas utilizam o sistema europeu. ?Lá não tem vestibular igual é aqui no Brasil, você faz um curso introdutório. Durante o curso a pessoa vai fazendo provas e depois tem a prova final. Todo mundo que tirar 4 ou mais nessa prova está dentro da faculdade. Não é por nota corte?, explica.

Outra diferença é o tempo de curso. A faculdade de medicina são sete anos na Argentina e seis anos no Brasil. Os períodos argentinos são contados em anos e no Brasil em semestres.

As despesas com alimentação no país vizinho também são um atrativo. ?A alimentação é bem acessível, mais em conta que o Brasil?, diz a estudante. Por outro lado, o custo com hospedagem pode ultrapassar o valor da mensalidade com a faculdade.

Brunna Allen, de Goiânia-Go, também foi para a Argentina estudar medicina na Faculdade de Barceló, depois se transferiu para uma universidade federal, a Universidad Nacional de La Plata (UNLP).

?Decidi estudar fora porque não queria perder tempo fazendo vestibular, algo que não influencia em nada na capacidade de uma pessoa na faculdade, nem como profissional, por exemplo. E escolhi a Argentina por ser reconhecida mundialmente?.

Ela enumera oportunidades que cursar uma faculdade no exterior traz. ?É uma experiência como um todo. Aprender sobre uma cultura, uma nova língua, universidades excelentes, com excelentes professores e infraestrutura?, relata.

Idioma

Ambas as estudantes tiveram ajuda de assessoria para ir estudar fora. E a maior dificuldade foi se adaptar ao novo idioma. ?No início a adaptação foi bem difícil pra mim, por que por mais que o idioma não seja tão diferente, eu não sabia nada. Não sabia nem cumprimentar as pessoas?, relata Lara.

Brunna complementa: ?No início é difícil sim, mas depois que você aprende, se acostuma e quando eles falam, você já entende. Mesmo que tenha dificuldades pra falar, pra entender é mais fácil?.

 

Pós graduação também é atrativa

E nem é preciso conhecer o país de destino. Os estudantes podem contar com assessorias e empresas que os ajudam nesse processo. Como é o caso do Instituto Internacional de Educação (IIES), especializado em intermediar o ingresso de brasileiros em universidades tanto na Argentina quanto no Uruguai, para cursos de mestrado e doutorado. Eles ainda contam com uma agência de viagem, além de indicar hotéis, pousadas e apartamentos aos estudantes.

Atualmente o IIES possui em torno de 500 alunos ativos e afirmam que a ida de brasileiros pra Argentina é crescente. ?Entre os motivos dos alunos escolherem ir para a Argentina são os preços até 25% menores que o Brasil, o aluno não precisa abdicar da sua vida profissional e pessoal, processo seletivo simplificado, seguindo o modulo europeu e não há exigência de proficiência em língua estrangeira?, conta ua coordenadora do IIES, Joana Darc Henrique. As mensalidades em doutorado e mestrado são, em média, R$ 1mil.

O advogado, Denis Muruci, de Campos dos Goytacazes-RJ, contou com o apoio do IIES para cursar doutorado em Direito e Processo do Trabalho, na Argentina e afirma que a oportunidade de cursar fora do país gastando o mesmo que gastaria no Brasil, foi um dos fatores determinantes para sua escolha. ?Estudar na Argentina sai o preço, mais ou menos, da mensalidade no Brasil, porém incluindo transporte, hospedagem e mensalidade junto. Você paga a mesma coisa e faz fora?, explica. Por mês, Muruci investiu cerca de R$890. O mesmo curso no Brasil sairia em torno de R$ 4 mil para ele na época de seus estudos.

Sistema de validação de títulos

Títulos obtidos no exterior precisam ser reconhecidos por programas recomendados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), conforme o art. 48 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação.

No caso de mestrados e doutorados, após obtido o diploma, o estudante o reconhece em uma universidade brasileira que tenha doutorado na mesma área de conhecimento.

O reconhecimento do curso de doutorado é simples e administrativo, através de uma Análise Documental no portal do MEC (Governo Federal). Não há necessidade de reapresentar a tese ou realizar nenhuma prova.

E no caso do curso de Medicina, o estudante precisa se submeter ao Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituição de Educação Superior Estrangeira (Revalida).

O Revalida é uma prova do Governo Federal que verifica a aquisição de conhecimentos, de habilidades e de competências exigidas para o exercício da medicina. O exame subsidia o processo de revalidação dos diplomas de médicos que se formaram no exterior e querem atuar no Brasil.

O exame unificado é aplicado em âmbito nacional para avaliar as habilidades clínicas dos médicos de acordo com as exigências de formação correspondentes aos diplomas de médicos obtidos nas universidades brasileiras. A revalidação de diplomas médicos é feita por instituições de educação superior públicas que aderem ao edital de chamamento.

O diploma, exigido na inscrição, é fundamental para participar do processo. O médico aprovado nas duas etapas do Revalida demonstra competência técnica, teórica e prática para o exercício profissional.