Seca dá prejuízo de R$ 5 milhões em menos de 60 dias - Jornal Fato
Economia

Seca dá prejuízo de R$ 5 milhões em menos de 60 dias

Durante o ano de 2014, a Cooperativa de Laticínios Selita deixou de arrecadar R$ 25 milhões e problema se acentua neste ano, com a estiagem . Produção de leite já caiu 30% - cerca de 100 mil litros deixaram de ser captad


Para Rubens Moreira, queda pode chegar a 35% se não chover nos próximos dias (Fotos: Wanderson Amorim)

 

Wanderson Amorim

 

O ano de 2014 não foi favorável para o setor de laticínios no Espírito Santo. Só a Cooperativa de Laticínios Selita - maior empresa e a mais antiga do ramo no Estado, e a 14ª maior do país, segundo levantamento feito em 2013- deixou de arrecadar R$ 25 milhões.

A expectativa da cooperativa é que este ano seja pior ainda, por causa do longo período de estiagem que afeta a região. A partir de fevereiro, o leite deve sofrer aumento de 15% a 20% no preço.

 

De acordo com o presidente da Selita, Rubens Moreira, em 2014 houve muita oferta do produto no Brasil, por isso o consumidor ainda não vê o aumento no preço, que há uma semana era encontrado em promoção em Cachoeiro a R$ 1,78.

 

"O ano passado foi um dos piores anos para a Selita. Houve excesso de oferta de leite por parte de outros Estados, e tivemos um déficit hídrico durante todo o ano aqui no Estado. O Brasil produziu mais leite em 2014 do que nos anos anteriores, com aumento de 11% na safra. Por isso, o alimento está mais barato. A nossa cooperativa deixou de arrecadar algo em torno de R$ 25 milhões no ano passado. Agora, a situação está se agravando, pois com o longo período de estiagem, o consumidor vai sentir esse impacto no bolso a partir de fevereiro", afirma Moreira.

 

Ainda segundo o presidente da Selita, as vendas caíram na fábrica, mas os comerciantes continuam faturando alto. "É bom frisar uma coisa, a venda do leite caiu muito no atacado, aqui na fábrica, mas os supermercados mantiveram este ano um ganho muito alto. Em alguns produtos, o lucro é de 50%, em outros, chega até 60%. O varejo está vendendo os produtos láticos com o preço muito alto. Tem comércio que vende no varejo um litro de leite de R$ 3,00 a R$ 3,25. E eles estão pagando em média R$ 1,60 aqui na fábrica, e já chegamos a vender o litro de leite a R$ 1,40", relata Moreira.

 

Nos últimos 58 dias, a Selita deixou de faturar algo em torno de R$ 5 milhões, e isso se deve à seca no Sudeste e, principalmente, na Região Sul do Estado. A captação de leite caiu 30% na empresa, o que representa 100 mil litros a menos por dia. Para o presidente da cooperativa, se não chover nos próximos dias a perda na produção pode chegar a 35%.

 

Atualmente, a Selita capta leite de 38 municípios. Sendo que três deles são do Estado de Minas Gerais. E dois, do Rio de Janeiro. Esses Estados passam pela mesma situação de seca que o Espírito Santo.

 

"Em Itaperuna (RJ), por exemplo, a coisa está pior ainda, por causa da estiagem. É lá que se concentram as indústrias de laticínios que abastecem o Estado carioca. Eles estão sem nada lá. O cenário é de grande preocupação. Aqui no Sul do Espírito Santo o prejuízo é incalculável. A recuperação dessas perdas deve levar de dois a três anos, pois a vaca não reproduziu, não está preparada para dar o leite no ano que vem, o canavial morreu, muitos bois morreram, e o cio do animal não veio. Então esse prejuízo vai ser amparado ao longo dos próximos três anos, isto é, se chover", diz Rubens Moreira.

 

Reivindicações

No último dia 23, a Selita se reuniu em Atílio Vivácqua com o secretário de Estado da Agricultura, Octaciano Neto, secretários municipais de agricultura, prefeitos, e o presidente da Assembléia Legislativa, Theodorico Ferraço. Em pauta, a seca.

 

De acordo com o dirigente da cooperativa, várias reivindicações dos produtores de leite foram apresentadas. "Entre os pedidos dos pecuaristas está a questão das linhas de crédito, pois a grande preocupação é de como vão pagar seus financiamentos. Nós precisamos que os municípios decretem situação de emergência para que o Banco Central autorize recursos de financiamentos rurais e prorrogue as dívidas", afirma Moreira.

 

No Sul capixaba, Presidente Kennedy é o maior produtor de leite, seguido por Cachoeiro de Itapemirim e Itapemirim. A Selita possui dois mil cooperados, e beneficia outros mil pecuaristas comprando o leite de suas associações. Todos esses produtores estão passando por dificuldades, segundo o presidente Rubens Moreira.

 

A expectativa é que o governo estadual ajude os produtores afetados com a seca. "O secretário Octaciano Neto foi muito receptivo, e acho que teremos uma resposta positiva muito em breve por parte do Estado", espera Moreira.

 

Concorrência desleal

Além da seca, a carga tributária prejudica a expansão da Selita em outros Estados. Para Rubens Moreira, a diferença de imposto de um Estado para o outro é muito grande e injusta, provocando concorrência desleal. "O nosso produto tem dois mercados fortes: o Espírito Santo e o Norte fluminense. Quando nós mandamos o nosso produto para o Estado carioca pagamos 11,82% de imposto antes de embarcar o produto. Quando eles mandam o produto deles pra cá, é totalmente diferente", reclama.

 

Segundo o presidente da cooperativa, quando o leite é captado em Minas Gerais, a Selita paga 7% de ICMS. Quando os mineiros ou cariocas compram o leite capixaba, pagam apenas 1% de imposto. "É uma diferença muito grande, e isso possibilita que eles tenham o preço mais competitivo aqui no Espírito Santo. É preciso uma mudança radical para mudar esse cenário que prejudica diretamente os produtores de leite capixabas", argumenta Moreira. 

 

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