Consumidor sente no bolso o valor salgado da carne e da cesta básica - Jornal Fato
Economia

Consumidor sente no bolso o valor salgado da carne e da cesta básica

Cachoeirense está precisando abrir mão de itens para abastecer suas casas após aumento dos produtos


Foto: Agência Brasil

Com a disponibilidade de renda menor do brasileiro, o alto número de desemprego e o avanço da pandemia no país, o consumidor está sentindo no bolso o preço salgado das compras do mês. Um dos itens que chama atenção é a carne, mas o valor da cesta básica, em geral, assusta.

Para o analista de sistemas, Daniel Backer, de Cachoeiro de Itapemirim, o preço das coisas aumenta e o poder de compra do consumidor cai. "Segundo a Constituição, o salário mínimo deve garantir o mínimo existencial para as necessidades básicas da população. Isso é uma piada. Vemos hoje tantos aumentos dos preços dos produtos de vários setores, que o mínimo existencial não é suficiente. A concretização do atual modelo de Estado Democrático de Direito é insustentável, haja vista que seu maior alicerce, o princípio da dignidade humana não é satisfeita".

Ele sentiu bastante no bolso a subida de preços. "É nítido o aumento dos preços dos produtos os supermercados. Quando o preço não aumenta, o que diminui é a quantidade do produto, ou seja, você paga o mesmo de antes, porém, por menos. Vários aumentos não competem com o mínimo existencial. Nos postos de gasolina, por exemplo, o que temos é um assalto legalizado. A cada semana é uma surpresa", comenta.

Para a dona de casa Geislayne Passini, o jeito é cortar gastos, especialmente com a carne. "O valor da carne já era alto, agora, os preços estão um absurdo. A cada ida ao mercado é uma decepção maior. Estamos cortando a carne de casa. Faço mesmo para os meus filhos, porque eu quase não como. Quem vive melhor nesta situação é o rico, porque o pobre está sobrevivendo", desabafa.

A contadora Juliana Miguel de Souza também precisou fazer economias. "Os itens da cesta  básica aumentaram muito. Algumas coisas como leite, alho, verdura e fruta têm que aproveitar quando aparece promoção, isso quando tem. Outros itens como arroz e carne não encontramos em promoção e só vemos o preço aumentar cada vez mais. Infelizmente está ficando difícil, principalmente para quem ganha pouco, manter uma alimentação adequada. Tivemos que cortar muita coisa em casa", relata.

Cesta básica subiu 21% em Cachoeiro em um ano

Segundo pesquisa de preço realizada pelo Procon de Cachoeiro nessa quarta-feira (3), a cesta básica mais barata custa R$ 231,19 e a mais cara, R$ 261,81. Em comparação ao mesmo mês de 2020, a cesta teve um aumento de R$ 48,42 (mais barata). Os preços pesquisados foram dos itens básicos que compõe a mesa do consumidor.

A carne de primeira, como patinho, lagarto, chã de fora e chã de dentro, que ano passado custava entre R$ 19,99 e R$ 24,99, hoje custa, em média, R$ 39,90 o quilo, dependendo do local de compra.

A carne de segunda, em que o consumidor pagava aproximadamente R$ 16,99, hoje não paga menos de R$ 19,99 o quilo. O frango também sofreu alterações e o mais caro custa, de acordo com a pesquisa, R$ 9,45 o quilo.

Confira a pesquisa completa.

Justificativa

Para o superintendente Hélio Hoffmann Schneider, da Associação Capixaba de Supermercados (Acaps), a justificativa na alta dos preços da carne está no aumento do dólar e do euro. Segundo ele, os frigoríficos acabam preferindo vender o produto para o mercado exterior e aumentar sua margem de lucro, o que diminui a oferta para o mercado interno.

Conforme explica, um dos problemas da carne bovina é a pouca oferta no mercado. "Mais de 60% da carne produzida no Brasil é exportada. Com o aumento do dólar e o euro, faz com que se dê preferência ao mercado externo".

Não há previsão para que os supermercados baixem os preços. De acordo com o superintendente, se o estabelecimento compra o produto, o repasse do aumento recai sobre o consumidor. E, isso, segundo ele, é ruim para os mercados. "Acaba que o consumidor interno não tem condições de consumir e procura outras opções de proteína".

De acordo com um estudo feito pela Universidade de São Paulo (Usp), os preços da carne subiram devido ao aumento do gasto do produtor com rações e a alta na exportação.

Com a escassez de chuva no último ano no centro-oeste do país, o agricultor precisou investir em ração, porque o pasto no campo diminuiu.

Por outro lado, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), as exportações brasileiras foram de R$ 8,53 bilhões em 2020, e a expectativa é de que este ano tenha nova alta.

Consumo menor de carne desde 1996

De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o brasileiro está consumindo menos carne bovina. Foi 29,30 quilos por habitante em 2020, uma queda de 5% em relação a 2019. Esse foi o menor patamar em 25 anos, desde 1996, o que representa redução de 13,5 quilos por habitante se comparado à maior taxa de consumo, em 2006, com 42,8 quilos por habitante.

O que diz o Procon de Cachoeiro

O Procon de Cachoeiro atua na pesquisa dos preços praticados dos itens que compõem a cesta básica, incluindo carne e afins, e divulga semanalmente os locais onde o consumidor pode economizar.

De acordo com o órgão, a alta no preço da carne, muitas vezes, está ligada à entressafra. Porém, hoje, se dá devido à alta demanda pela exportação do produto.

O Procon recomenda que o consumidor adquira o hábito de pesquisar preços e procurar promoções antes de ir às compras. E também, se possível, substituir por cortes mais baratos ou até mesmo por outros produtos com valor nutricional semelhante, mas com valores mais em conta, a fim de atingir seus objetivos de economia, uma vez que não existe tabelamento de preços.

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