"Cooperativismo ainda se mostra disruptivo" - Jornal Fato
Economia

"Cooperativismo ainda se mostra disruptivo"

Entrevista com Carlos André, superintendente do Sistema OCB-ES, que atua no segmento há mais de 15 anos e conhece como poucos a atividade


- Divulgação/OCB

Wagner Santos

 

O superintendente capixaba do Sistema da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB-ES), Carlos André Santos Oliveira, que atua no segmento há mais de 15 anos, conhece como poucos a atividade de que é grande entusiasta de maneira geral e, particularmente, em referência à organização em solo espírito-santense.

Embora o modelo tenha se iniciado ainda na primeira metade do século 19, considera que, atualmente, ainda se mostra disruptivo em diversos setores sociais. No Espírito santo, tem número expressivo de cooperados e de empregos direto e indiretos. Algo de que se precisa muito, em cenário de poucas oportunidades de empregos.

Confira na sequência um bate-papo sobre o Cooperativismo no Espírito Santo.

 

FATO - Em meio à crise, com 13 milhões de desempregados no país, o cooperativismo parece ser boa saída por gerar trabalho e renda para cooperados e colaboradores. Como a atividade tem cumprido esse papel no Espírito Santo?

Carlos André - Esse modelo de cooperativismo moderno que vivemos em 2019, ainda que tenha seu cerne em 1844, em Rochdale - Manchester, Inglaterra, ainda se mostra disruptivo em diversos setores econômicos e sociais. Enquanto no Direito Brasileiro tivemos, durante o Século XX, o fortalecimento da Teoria da Firma, ou seja, das sociedades de capital e do senso comum de lucro e capitalismo, em 1971, a lei 5.764 traz a lume um modelo que valoriza pessoas e propósitos; que conjugou esforços e permitiu que pequenos empreendedores construíssem grandes negócios. É dentro dessa realidade que o cooperativismo vem cumprindo seu papel no Espírito Santo: ao valorizar pessoas, temos construído negócios sustentáveis, baseados em princípios que são pouco usuais no mundo dos negócios, como a prevalência da figura humana, decisões democráticas do rumo dos negócios, entre outros. Esse é grande diferencial que faz do cooperativismo um modelo sustentável e que se mostra em franco crescimento no estado e no Brasil: o cooperado não é um simples acionista, mas sim o grande protagonista do sucesso da cooperativa. Geração de empregos e recolhimento de impostos aos cofres públicos, portanto, acabam sendo uma consequência natural de um modelo tão humano e sustentável como o cooperativista e assim vamos fazendo a economia capixaba crescer, com a força dos cooperados.  

 

"Geração de empregos e recolhimento de impostos aos cofres públicos  acabam sendo consequência natural de modelo tão humano e sustentável como o cooperativista"

 

Muitas iniciativas para incentivar o cooperativismo têm sido adotadas. Uma delas, do ano passado, permitiu às cooperativas financeiras receber contas de órgãos públicos. Qual o impacto disso no segmento e da articulação das cooperativas para avanças cada vez mais?

Essa foi uma grande vitória, em especial do Sistema OCB/ES. As alterações da Lei Complementar 130/09, inicialmente, permitiriam que apenas as prefeituras movimentassem suas disponibilidades de caixa em cooperativas de crédito. Através da nossa Assessoria de Relações Institucional, ainda quando se discutia o texto final da LC 161/18 (que alterou a LC 130/09) no Congresso Nacional, o Sistema OCB/ES fez uma indicação aos parlamentares que o Sescoop (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo) também fosse incluído como ente habilitado a movimentar junto às cooperativas de crédito. Logramos êxito; tanto Sescoop quanto prefeituras, hoje, possuem autorização legal e parecer favorável do Próprio Tribunal de Contas do Espírito Santo, o TCE/ES, para movimentarem junto às cooperativas de crédito de livre admissão. A LC 161/18 representa uma vitória não somente para as cooperativas, mas para as comunidades. As prefeituras e as cooperativas, como sabemos, movimentam a economia local, especialmente em lugares que são esquecidos por grandes entidades bancárias, oficiais ou não. Esse ciclo virtuoso estabelecido pela LC 161/18 entre o Poder Público Municipal, o Sescoop com o cooperativismo de crédito está só começando e as projeções são as melhores. Cabe dizer que o Sescoop/ES foi o pioneiro a formalizar suas movimentações em cooperativa de crédito, o que nos faz perceber o quão pioneiro é o cooperativismo capixaba.

 

O senhor tem a projeção de quantos empregos são gerados, quantas cooperativas há e quantos cooperados existem no Espírito Santo? Se possível, pode nos passar esses dados também na região sul?

O Sistema OCB/ES conta com 126 cooperativas registradas e que atuam em diversos ramos do cooperativismo: Saúde, Agropecuário, Crédito, Educacional, Transporte, Habitacional, Consumo etc., totalizando quase 445.000 cooperados e gerando 8.000 postos de trabalho diretos, empregados celetistas, sem contar a geração de oportunidades de trabalho indiretas. Especificamente no Sul do Estado nós temos 33 cooperativas registradas com 117.000 cooperados e 2.200 empregos diretos criados.

 

"Ao valorizar pessoas, temos construído negócios sustentáveis, baseados em princípios pouco usuais no mundo dos negócios, como a prevalência da figura humana e decisões democráticas do rumo dos negócios"

 

 

As cooperativas sulinas têm feito investimentos robustos e são, também, algumas das principais empregadoras da região. a Unimed Sul constrói Hospital e a Selita, nova planta industrial. Como avalia esse momento e o que podemos esperar nos próximos anos?

Realmente a Unimed Sul Capixaba e a Selita, cada uma em seu ramo de negócio, são cooperativas tradicionais, pujantes e que fazem a diferença no desenvolvimento econômico da região sul, estimulando direta e indiretamente de forma significativa a cadeia produtiva daquela região, disponibilizando serviços e produtos de qualidade sem perder em nada para as empresas privadas. O novo hospital e a nova fábrica da Selita são investimentos da ordem de 140 milhões de reais e com certeza irá estimular o surgimento de outros investimentos criando um ciclo virtuoso que acredito irá mudar a realidade daquela Cidade, reverberando um otimismo salutar e gerando mais oportunidades para os jovens.

Os projetos logísticos estruturantes previstos para o Sul do Estado como o crescimento portuário, e a linha férrea litorânea sul além de outros também irão ajudar exponencialmente a melhoria do ambientes de negócios, e falando em ambiente de negócios precisamos que o governo em todas as instâncias, seja menos interventor, e promova efetivamente a desburocratização, e estimule os investimentos privados.

 

"Precisamos que o governo em todas as instâncias seja menos interventor e promova efetivamente a desburocratização, e estimule os investimentos privados"

 

Por fim, sábado (6) foi o Dia Internacional do Cooperativismo. O que diria às pessoas que se interessam pelo cooperativismo, gostariam de começar, se organizar, mas não sabem como. É muito difícil? 

Em geral, uma cooperativa precisa de, no mínimo, 20 pessoas para ser constituída. Mas no caso das cooperativas de trabalho ou produção, há possibilidade de constituir com 7 pessoas. Quando o grupo estiver formado, procure o Sistema OCB/ES para saber se ele está alinhado aos princípios cooperativistas ou se existem outras cooperativas fazendo a mesma atividade, pois sempre estimulados grupos que querem se organizar em cooperativas a considerar se não vale a pena se unir a cooperativas de mesma atividade já existentes para que aquele negócio seja ainda maior e gere mais resultados!

Todas as informações podem ser obtidas no site do Sistema OCB/ES: http://novo.ocbes.coop.br/ ou pelo telefone 027 2125-3200.

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